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O voto contra a praga do populismo Interessante que o populismo é um vírus que contamina. O povo, querendo levar vantagem, aplaude com a ajuda da claque ou chora levado pelo auxílio das carpideiras. De um lado, alguém, lá de cima, cospe enquanto fala; de outro, muitos ninguéns lá debaixo aparam o cuspe e curtem o que não entendem. Assim, os dois saem ganhando—o que cospe e o que é cuspido. O que cospe, às vezes, tem estudo, instrução. Quando não tem, chega com as plumas do carisma. Os que recebem a saliva mal desenham as letras. Mas muitos chegam pelas asas da sabedoria. Os outros ficam de fora. São pé de burro. Foram feitos para trabalhar com a finalidade de sustentar o show de cusparadas. Pagam com meses de trabalho. Teimam em ser honestos. Enxergam cada passo, cada manobra, cada palavra aerada. O populismo é, antes de tudo, uma enfermidade que acomete o sistema democrático de representação. O círculo é construído desde o voto ao discurso. Do discurso ao voto. Cada vez mais comum na América Latina, essa modalidade de prática política tem o suporte do marketing desenvolvido em escritórios para desenhar e traçar a figura do líder que será destacado. Estudam os dentes, os cabelos, os gestos, a fala, o olhar, o choro, o riso. Dão uma humanizada no candidato. Treinam a impostação, as olhadas para as câmeras, as roupas, os sapatos, a cor da gravata combina com o assunto, com o estado, com o país. Se usa ou não aliança. Se usa ou não relógio. Se escolhe o relógio caro, logo é furtado durante os abraços. Encadernam a calúnia e a difamação para qualquer necessidade de golpe necessário em última hora. Contra isso, caminha uma lei. Ah, sim! O discurso também tem as letras passadas em pente-fino. Nada de usar palavras negativas, como “fome” ou “zero”. Isso traz má sorte. Qualquer projeto que busque sucesso tem que trazer todas as palavras com sentido positivo. Puxar a realidade dos ouvintes para trazê-los ao discurso é o começo preferido. Daí cria-se o laço. Em seguida, todos os exemplos parecem servir como um manto. O manto da manipulação. E, manipulada, toda massa quer mais é crescer, desde que o fermento seja a seu favor e, de preferência, sem responsabilidades e compromissos em troca. Na mesma medida em que as promessas foram feitas. É uma alimentação compartilhada que vai e volta. De mentiras e afagos. Todos saem satisfeitos e felizes. Apoiado pelas regras, o sistema eleitoral brasileiro enaltece quando destaca a figura do líder carismático dos demais poderes da República. Eles são colocados acima dos partidos e do próprio Estado e em ligação direta com as massas, que passam a ver na pessoa a encarnação de um pretenso salvador da pátria e dos oprimidos. O herói ideal que parece real. No mesmo sentido se encaminham as chamadas leis populistas. Chegam sob medida, literalmente. Muitas vezes como medidas provisórias. Têm o intuito de atender os reclames de grupos, geralmente amigos, à custa do erário, colocando em risco o futuro da sociedade como um todo. Toda a ação populista é imediatista e tem por objetivo trazer benefícios eleitoreiros. De um lado, estão os que não se enxergam com poder. Por isso, vendem o voto. De outro, o líder considerado o pai da pátria. E é justamente por meio dessa prática que vão se diluindo as fronteiras que separam a coisa (res)pública da privada. Ao cidadão ficam as contas e promissórias vindas dessa doença política, dessa anomalia sustentada pela falta de atitude. Brasília, vestida em uma concepção moderna, mergulha nessa prática desde a emancipação política. Já dizia o filósofo de Mondubim: “Há mais mistérios entre a Praça dos Três Poderes e a Praça do Buriti do que a nossa imaginação possa alcançar”. Sentadinha, com uma venda nos olhos, dona Themis nem imagina o que está por vir. Medidas provisórias assinadas às pressas vão parar na mesa dos ministros do STF, que tomarão a impopular decisão de reconhecer a inconstitucionalidade da promessa. Daí, todo aquele festejo, que ficou na cabeça do povo como gratidão à ajuda para burlar as regras, não será real. Mas a ideia ficou grudada na áre do cérebro que processa a felicidade. Outra receita de populismo, também à moda candanga, foi a alienação de bens imóveis públicos para as entidades religiosas e de assistência social que “não atenderem as funções das políticas setoriais do Estado” e que passaram, exclusivamente, a ser objetos de alienação mediante autorização da Câmara Legislativa. Lá está nas mãos dos deputados distritais a maquininha da barganha bem possante e envenenada. Mesmo que isso custe a desorganização urbana da cidade. Mas é outra pisada na lacuna. O ministro Joaquim Barbosa, do STF, disse em uma situação parecida: “A alienação de bens públicos deve ser efetivada obrigatoriamente mediante licitação”. A última medida populista é nova. Veio pela Lei nº 1.668, deste ano, que vai obrigar o GDF a pagar as rescisões e indenizações trabalhistas dos rodoviários dispensados pelas empresas que perderam na concorrência pública a renovação de suas linhas. Assim é que, depois de décadas prestando um péssimo serviço à população, e recebendo por isso somas incalculáveis de dinheiro do contribuinte, esses mesmos empresários deixam, mais uma vez, as contas trabalhistas de suas empresas nas costas dos pagadores de impostos. Isso é o populismo na sua versão mais acabada. Passa rápido o tempo. Os políticos se articulam pelas eleições. Seu voto será pelas próximas gerações.
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…
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