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Lembrança do Ceará
Galo-de-campina cantando acanha a natureza. A cidade com o maior número de profetas é Quixadá. Em Quixeramobim há três coisas grandes — a ponte, o nome da cidade e a língua do povo. O universo é seguido pelas cores. Se o galo-de-campina canta, pode ir para o roçado. A chuva não vai tardar. Cumaru, nesta época, fica coberto como se fosse algodão. Em sendo fevereiro, no meio do ano já se sabe como vai ser a chuva.
Toda árvore cura doenças. São citadas uma a uma com as vantagens do chá. Água da Pirocaia era vendida em carroças puxadas por burro, em barris grandes. O povo pagava por latas. Rezadeira reza sobre uma perna doente. “Que é que coso?” Resposta: “Osso rendido, nervo trilhado e carne amassada”. Nesse diálogo, a rezadeira move um galho de “amor de cunhã” até murchar.
Limão vermelho é igual a uma farmácia. Nos galhos podem-se enxertar vários tipos de limões. É planta da salvação. Vento do Aracati sopra de noite, do mar para o continente. É agradável para as noites de calor. Dando a volta em Quixadá, é sinal de chuva. Foz do Aracati: água barrenta para beber.
Português que mora no interior é chamado de marinheiro. Tem experiência e viajou pelo mar. Açude do Cedro é no Quixadá. Foi construído pelo imperador “para que nenhum cearense morra de sede”. No alto da serra, há uma pedra com formato de galinha choca.
Um homem estava com pequena faca na mão. Apareceu uma onça. Ele fez oração. “Meu Padim Padre Cícero, me ajude a matar essa onça com este quicé. Senão, preste atenção: arranje um banquinho e se sente, que você vai ver a maior briga de um homem com uma onça.”
Abelhas e marimbondos dão picadas que matam quando muitas. Porém salvam de reumatismo se forem poucas. Na fogueira de S. João, fim da noite, espalhar a brasa, abanar as cinzas com chapéu. Depois, uma folha de laranja da boca, fé em Deus. Ande de um lado para outro para não queimar os pés. A fé cura.
Reza nas procissões. Pedido, e a chuva chega logo, se De se Deus concordar. Procissão quando a santa balança e ameaça cair, há quem advirta: “Devagar com o andor que a santa é de barro”.
Padre Cícero não dava dinheiro. Ajudava a profissão de quem pedia. Chegou um senhor no Juazeiro, pediu ajuda. Padre Cícero indagou qual era a profissão. Funileiro. Encomendou 200 lamparinas. Não disse para quê. O homem pediu ajuda. Não tinha dinheiro para encomenda tão grande. Padre Cícero adiantou o que precisava.
Sentindo que a umidade do ar estava anunciando chuva, marcou no sermão. “Amanhã vamos rezar para chegar chuva. E cada pessoa procure o funileiro, compre sua lamparina. A procissão é de noite.” A procissão se realizou e no dia seguinte a chuva caiu forte. O funileiro fez o nome do padre e seguiu a viagem com dinheiro que nunca havia visto.
Diz a crença que “quando o pé da serra se pinta de vermelho, é o pau-d´arco que fulora”. A partir daí é chuva de encher açudes.
Vaqueiro chegou à casa do amigo. Logo lhe perguntaram: “Que é isso no seu olho, compadre?” Ele contou a história que estava correndo num cavalo atrás de uma rês na caatinga. Um galho seco passou no rosto e estragou a vista. A dona da casa, que preparava a mesa, ouviu tudo e no final perguntou: “Compadre, o que é isso no seu olho?”. Mudou de assunto.
Dois jovens na obra do açude de Orós viram que nada ia adiante. Um diz para o outro: “Se derramasse aqui a cerveja que os engenheiros bebem, dava para encher o açude”.
Na política do Ceará, havia candidato a presidente do estado que não chegava a nenhum lugar sem foguetes estourando. Cansado de tanto barulho, um caviloso resolveu surpreender na chegada de Franco Rabelo. Soltou dezenas de foguetes sem o estampido. O foguete subia e caía sem papocar.
A alegria da criançada era tomar banho nas bocas de jacaré. A água da chuva caía direto nas calçadas. Era alegria para a meninada.
De mais a mais, quem tentar roubar as velhas lembranças seja amarrado, queimado e repreendido em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
(Coluna originalmente publicada em 5/9/2010)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…
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