Vermelho de vergonha

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Detalhes, desses perdidos entre os fragmentos e miúças da vida, por algum capricho dos deuses, possuem o poder de conferir significado colossal aos acontecimentos e coisas do dia a dia. Não à toa dizem que “Deus mora nos detalhes”. Também é neles que estão as pistas fundamentais que levam aos esclarecimentos e à origem dos fatos.

Na cerimônia oficial, preparada com pompa e circunstância pelo Palácio do Planalto para marcar a entronização do ex-presidente Lula, agora na armadura blindada da Casa Civil, quis o destino que um detalhe, desses nascidos no fundo da plateia escolhida a dedo, ganhasse repercussão maior do que a própria solenidade empolada em si.

Logo que começou o discurso, a presidente Dilma e a audiência seleta presente no local, assim como milhões de brasileiros que acompanhavam a transmissão ao vivo pela tevê, foram surpreendidas pelos gritos do deputado Major Olímpio (SD-SP), até então desconhecido para a maioria dos brasileiros. Lá do fundo da plateia, ele gritou, mais uma vez e alto e bom som, a palavra vergonha.

Por longos instantes, balde de realidade fria e viscosa — enviado talvez pelas ruas agitadas — foi repentinamente despejado sobre as cabeças coroadas. No curto lapso de tempo que se estendeu entre o ato físico de escutar e entender o significado da introdução daquela expressão estranha ao ato sagrado e a identificação do autor da blasfêmia, a cerimônia ficou suspensa no vácuo…

Graças à difusão da tecnologia das imagens e sons, introduzidas no nosso cotidiano e que podem ser acessadas repetidas vezes num simples clique, ao que se assiste, naqueles instantes eternos — comuns às vítimas de atentados à bomba, surpreendidas pelo estampido e pelos destroços —, é a expressão de incredulidade das autoridades presentes.

Num futuro distante, quando historiadores se detiverem no garimpo e no levantamento desses registros documentados, provavelmente darão ao episódio o título de “A posse da vergonha”. Nesse dia, dirão que a expressão corrente na língua portuguesa foi introduzida, pela primeira vez, naquele Palácio casto. Dirão também os arqueólogos do futuro, com suas minúcias, que a nova expressão, ali introduzida, significava, naquele tempo, algo como desonra, ultraje ou opróbrio. Difícil para os pesquisadores será a identificação do rubor na face, comuns nas pessoas que sentem verdadeiramente vergonha na cara, naquela solenidade, já que a maioria dos ali presentes estavam, estranhamente, uniformizados de vermelho, sem sinal de embaraço.

A frase que foi pronunciada

“Sou ex-opositora de um regime de força que provocou em mim dor e me deixou cicatrizes, mas não tenho nenhum revanchismo.”

Interrompida por lágrimas, quando falava em seu discurso de posse, a presidente Dilma mal poderia prever que hoje, sua permanência no poder, também depende do respaldo do Exército.

Observação enviada pelo leitor Edvaldo de Oliveira

Leitor

E os moradores de Mariana continuam abandonados. Ou nós saímos da inércia e da politização virtual para a ação, ou uma hora essa boiada vai estourar desordenadamente. Pode demorar, mas vai estourar. Missiva de Pedro Cardoso da Costa.

Registro

Toda a família de Miguel Alves Lopes nos pede para registrar elogio especial ao pediatra dr. Sasaki, a enfermeiros, técnicos, equipe da pediatria, auxiliares da limpeza e merendeiras. Internada por quatro dias, a criança foi rodeada de cuidados e carinho e graças à competência dos funcionários do HUB. Miguel voltou para casa curado.

Doação

Por falar nisso, a brinquedoteca do HUB está precisando de doações. Definitivamente, é um local importante para a cura da meninada. Ali, a estada no hospital se torna mais agradável sob os cuidados da pedagoga Bianca, que trabalha com entusiasmo, contagiando as crianças com sua alegria.

Interrogação

Não faz muito tempo, o senador Aloysio Nunes Ferreira disse que o “governo não é do PT, está sem pai nem mãe”. Durante a festa dos 36 anos do PT, foi apresentado o documento O futuro está na retomada das mudanças. O senador criticou o anúncio porque o texto é diferente das propostas defendidas pelo governo. Hoje, a única certeza sobre o futuro e o governo é a dúvida.

Pois é

“A nomeação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para a Casa Civil serviria para impedir as investigações contra ele? Absolutamente não. Os juízes da Corte Suprema obviamente são tão apegados à lei e à ordem jurídica como quaisquer outros juízes. Dizer que Lula está escolhendo foro privilegiado seria duvidar da idoneidade dos ministros do STF”, explica Paulo Abrão, secretário executivo do Instituto de Políticas Públicas em Direitos Humanos do Mercosul.

História de Brasília

A Shindler até hoje não chegou a um acordo com o Ipase, no que diz respeito ao funcionamento dos elevadores do Bloco 11 da Superquadra 208. O serviço é péssimo, e o elevador está parado toda a vez que dele se precisa. (Publicado em 2/9/1961)

Circe Cunha

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