Verba volant, scripta manent

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DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

Custa a crer que Michel Temer, um jurista conceituado, não tenha se dado conta de que, durante todo o tempo em que ocupou a vice-presidência da República, foi ostensiva e fortememte assediado pela então titular da pasta, Dilma Rousseff.Estavam ali todos os sinais claros de assédio moral no trabalho, conforme divulgado em qualquer manual moderno sobre o assunto.

Tivesse a curiosidade de ler uma dessas cartilhas, como, por exemplo, a editada pelo Sindicato Nacional dos Aeroportuários, ligado à Central Única dos Trabalhadores (CUT), uma franja do Partido dos Trabalhadores, teria se inteirado melhor sobre o seu próprio caso e poderia adotar as devidas providências. Mais do que isso. Poderia até servir de exemplo para os demais trabalhadores instalados no estamento debaixo da pirâmide.Está escrito: “assédio moral no trabalho é a exposição dos trabalhadores e trabalhadoras a situações humilhantes e constrangedoras, repetitivas e prolongadas, durante a jornada de trabalho e no exercício de suas funções, sendo mais comuns em relações hierárquicas autoritárias e sem simetrias, em que predominam condutas negativas, relações desumanas e aéticas de longa duração, de um ou mais chefes, dirigida a um ou mais subordinado(s), desestabilizando a relação da vítima com o ambiente de trabalho e a organização, forçando-a a desistir do emprego.”Tivesse a curiosidade para entender o que se passava entre ele e a presidente primitiva Dilma, teria confirmado a teoria de que o assédio no ambiente de trabalho ocorre independentemente da posição funcional da pessoa dentro do organograma da empresa ou do Estado.Ocorreu com o hoje chefe do Executivo o mesmo que ocorre com todo e qualquer trabalhador.

A verdade é que o assédio é onipresente e mais comum do que se pensa e seus efeitos deletérios podem ser sentidos por toda a vida, mesmo depois de cessado.A constatação desse fato vem a propósito da carta, supostamente confidencial, endereçada a então presidente Dilma em dezembro de 2015, intitulada Verba volant, scripta manent, uma expressão latina que significa “a palavra voa, a escrita permanece”.Nela, independentemente de qualquer análise de especialistas ou psicólogos, estão permanentemente escritas, elencadas e registradas, para história do Brasil, todas as características que tipificam o ato do assédio moral no trabalho.Pinçando aqui e acolá alguns trechos dessa carta histórica, sem contudo lhes distorcer o conteúdo, é possível deixar claro o cometimento desse crime civil, trabalhista, constitucional e penal: “Esta é uma carta pessoal. É um desabafo (…) Sempre tive ciência da absoluta desconfiança da senhora e do seu entorno em relação a mim (…) Passei os quatro primeiros anos de governo como vice decorativo (…) Perdi todo protagonismo político que tivera no passado e que poderia ter sido usado pelo governo. Só era chamado para resolver as votações do PMDB e as crises políticas (…) Jamais eu ou o PMDB fomos chamados para discutir formulações econômicas ou políticas do país; éramos meros acessórios, secundários, subsidiários (…) A senhora resolveu ignorar-me chamando o líder Picciani e seu pai para fazer um acordo sem nenhuma comunicação ao seu vice e presidente do partido (…) Recordo, ainda, que a senhora, na posse, manteve reunião de duas horas com o vice-presidente Joe Biden — com quem construí boa amizade — sem convidar-me, o que gerou em seus assessores a pergunta: o que é que houve que numa reunião com o vice-presidente dos Estados Unidos, o do Brasil não se faz presente? (…) Tudo isso tem significado absoluta falta de confiança (…)

Até o programa “Uma Ponte para o Futuro”, aplaudido pela sociedade, cujas propostas poderiam ser utilizadas para recuperar a economia e resgatar a confiança, foi tido como manobra desleal (…) Finalmente, sei que a senhora não tem confiança em mim e no PMDB, hoje, e não terá amanhã.”Se serve de consolo para o presidente Michel Temer, saiba que ainda estão para vir à tona casos de assédio no trabalho cometidos pela ex-presidente e seu antecessor contra os servidores humildes de escalão mais baixo. Outro ponto relevante é que não se trata de falta de confiança. Pelo contrário. Segundo Marie-France Hirigoyen, o assediador escolhe como alvo quem é uma ameaça. Ou por ser informado demais ou por ter amigos demais.Não escaparam das truculências diárias, motoristas, copeiras, cozinheiros, arrumadeiras e todo o staff que servia nos Palácios da Alvorada e do Planalto. Somam-se aí danos morais. Quando começarem a aparecer esses e outros relatos, relativos ao comportamento primitivo desses dois presidentes de triste memória, as declarações de Temer parecerão um desabafo de muita gente.

A frase que foi pronunciada
“Nunca salte de um trampolim quebrado.”
William Shakespeare

Ouvido
» Já era notícia nas primeiras horas da tarde, o caso do rapaz da Asa Norte que morreu em casa como resultado de uma parada cardíaca. Estranho foi o IML só chegar no local às 21h50.

É fato.
» Em um bilhete encontrado no banco da Praça dos Três Poderes: “O Brasil não explora o turismo, explora o turista!!!

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: Brasília Brasil política Ari Cunha Circe MAMFIL

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