Travessia do umbigo ao mundo

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)

Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil

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Isolamento deixa ar mais limpo na Europa, mostram imagens de satélite (exame.abril.com).                            Imagem: ESA / EPHA / James Poetzscher/Divulgação

Particularmente, nesse domingo de Páscoa, experimentamos, mais do que em outro momento qualquer de nossa existência, o sentimento de uma travessia ou passagem (Pessach), talvez semelhante ao que vivenciaram os hebreus em sua peregrinação pelo deserto, durante o que parece ter sido uma quarentena por longas quatro décadas.

À semelhança daquele povo que fugia do cativeiro do Egito em busca da terra prometida de Canaã, estamos numa caminhada dentro de casa, em torno de nós mesmos, depois de aparentemente termos perdido, ou deixado para trás, um mundo que acreditávamos conhecer muito bem, mas que agora sabemos estranho, cheio de segredos e mentiras e mesmo hostil, por um lado, e solidário, patriota e cheio de esperanças e planos, do outro.

Embora tudo pareça estar em seus lugares costumeiros, há nesse instante, com os olhos que passamos a enxergar o mundo exterior, uma dúvida de que essa não é mais a paisagem e o lugar que pensávamos ser real. Como diria o velho Machado, em sua indagação mais profunda sobre o Natal, mas que poderia ser agora adaptada à Páscoa: mudaria a Páscoa ou mudei eu? Infelizmente o mundo segue indiferente às nossas agruras, estranhamente ignorando nossa aflição.

Notícias que chegam de toda a parte mostram que nossa casa, que é esse pequeno planeta, perdido no universo imenso, está até melhor com nossa ausência. O ar está mais puro, os animais estão mais livres. Mas sabemos também que aqueles, que sempre agiram nas sombras, não perderam tempo e estão tirando o máximo proveito da distração do mundo com o vírus e prosseguindo, como nunca, no desmatamento da Amazônia, atendendo ao grande volume de pedido externos de madeira. O lado ruim do mundo não dorme nem descansa.

Em resposta àqueles que buscaram saber como puderam os Hebreus vagarem por quarenta anos pelas areias escaldantes do Norte da África quase sem esmorecer, encontramos uma justificação simbólica, mas poderosa: eles eram guiados nessa passagem de um mundo para outro, do cativeiro para a liberdade por um líder escolhido pelo próprio Deus e que era sentido por todos por meio da fé. A fé que para muitos é algo irreal e místico, distante da fatualidade científica, é combustível que move o motor do espírito. De posse da fé de que havia à frente um mundo novo, onde a liberdade era um verdadeiro maná de Deus, nenhum obstáculo terreno seria intransponível.

Essa mesma fé, nem tanto espiritual, dos navegantes da Idade Moderna, conduziu-os ao Novo Mundo. Da mesma maneira os primeiros peregrinos deixaram a Europa em busca de uma nova vida na América recém-descoberta, longe das perseguições políticas e religiosas, necessitamos, desesperadamente agora, desse ânimo ou alma para descobrir, talvez um novo mundo, já que o antigo teremos que forçosamente deixar para trás.

O fato de o planeta voltar a respirar melhor com nossa ausência demonstra que temos sido, nós mesmos, o vírus que vem assolando o planeta desde que nos organizamos em sociedade. Podemos entender agora que até a Revolução Industrial, que pensávamos ser a libertadora do homem e da escravidão, apartou-nos do mundo, transformando-nos em danosos predadores e consumistas vorazes. Temos, por força das circunstâncias mortais, que nos transformar em agentes por um novo planeta. Não é tarefa pequena, mas esse trabalho hercúleo que nos espera pode agora, mais do que em outras oportunidades, ser distribuído igualmente pela humanidade enclausurada.

À certeza de que o planeta não necessita de nós para continuar girando no espaço, podemos apenas nos contentar com a resposta de nosso ego que diz: de que valeria todo esse mundo, sem a nossa presença e a capacidade que temos de refletir sobre essa importância?

A poesia que foi declarada:

“Está escuro porque você está se esforçando demais. Criança levemente, levemente. Aprenda a fazer tudo de ânimo leve. Sim, sinta-se levemente, mesmo sentindo profundamente. Apenas deixe as coisas acontecerem levemente e lide com elas. Então jogue fora sua bagagem e vá em frente. Existem areias movediças ao seu redor, sugando seus pés, tentando sugá-lo ao medo, à autopiedade e ao desespero. É por isso que você deve andar tão levemente. Levemente minha querida … ”

Aldous Huxley, escritor ingêns em Ilha

Foto: biography.com

Reta final

Nos dias 13 e 17 de março, esta coluna abriu a discussão sobre o polêmico concurso da SEDES-DF. No dia 01 de abril, saíram as últimas decisões. Todos os conselheiros do TCDF votaram pelo sistema proporcional de pontuação, conforme traz o edital do certame. No entanto, nos últimos dois parágrafos do seu voto, o relator Paulo Tadeu acrescentou uma observação que está agitando os concurseiros. Veja a seguir.

Burocracia virtual

Para gerar a segunda via da conta da Caesb, o portal interativo e amigável agiliza o comando. Já na CEB, é preciso usar a barra de rolagem, o que nem sempre é lógico para os usuários. O que aparece primeiro é um login e senha para se cadastrar no portal, absolutamente desnecessário, visto que o clique para a segunda via da conta foi jogado para o final da página.

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

Os moradores da superquadra 409/410 pedem a construção de uma escola e alegam que uma superquadra dupla merece uma escola, perfeitamente. (Publicado em 05/01/1962)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: #Coronavírus #COVID-19 #HistóriadeBrasília #Isolamento #MeioAmbiente #Quarentena AriCunha Brasília CirceCunha mamfil

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