VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Em meio a mata e em terrenos de difícil visibilidade, é comum que as tropas e pelotões, envolvidos em batalhas, fiquem atentos às recomendações das cartilhas de guerrilhas que ensinam: “Quando o inimigo avança, nós recuamos. Quando o inimigo recua, nós avançamos. Quando o inimigo para, nós aquietamos.” Uma lição dessa natureza pode ser empregada também em tempos de pandemia, quando o inimigo invisível, representado pelo vírus da Covid-19, parece sitiar as populações em todo mundo.
Em tempos de guerra pela preservação de vidas e quando já se prevê que, na virada do ano, cerca de 180 mil brasileiros poderão perder a batalha contra a doença sufocante, a recomendação mais sensata a ser seguida por aqueles que detêm o poder de governar uma cidade seria, exatamente, a observância dos sinais emitidos pela pandemia. Nesse caso, e dadas as ondas de avanço e recuo da doença, a prudência, aceita pelos homens de bom senso, manda que qualquer ação mais ousada por parte do governo deveria aguardar o momento propício para ser deflagrada. Incluem-se nesses casos, além de todo o processo de privatização, feito, ao ver de muitos, como uma ação um tanto açodada e sem medir as exatas repercussões que tais medidas trarão para a população, a médio e longo prazos, toda e qualquer realização de obras de grande vulto, que venham a demandar recursos públicos, numa hora tão delicada.
Na verdade, os recursos e poupanças públicas deveriam, neste momento tão especial, ficar retidos para eventualidades, sendo sua utilização reservada apenas para casos de emergência pública. O momento requer serenidade e parcimônia com o dinheiro do contribuinte. A privatização de estatais, merecidas ou não, deveriam esperar outro momento. Assim como a construção de pontes, viadutos, estradas e outras obras de interesse do governo.
Os preciosos recursos recolhidos da população, numa hora de incerteza como esta, deveriam, por parte de governantes prudentes, ficar, prioritariamente, à disposição para serem gastos em necessidades de emergência, como na compra de medicamentos e insumos, aparelhamento de centros de saúde, hospitais, contratação de pessoal de saúde, compra de vacinas, geladeiras para acondicionar esses materiais, o restabelecimento de hospitais de campanha, compra de ambulâncias e uma infinidade de outros gastos necessários em tempos de guerra, como estamos presenciando.
Por certo, haverá oportunidade para que o Governo do Distrito Federal demonstre sua capacidade administrativa e de empreendedorismo centrada na realização de obras vistosas nos quatro cantos da cidade. Por enquanto, o inimigo, vindo do Leste, de terras distantes, está à espreita, comprando terras, portos, indústrias e atacando a cada movimento desastroso feito por nós, ceifando a vida de nossos cidadãos, sem piedade.
É tempo de preservar a vida de nossos soldados, reunindo a tropa, mantendo-os seguros e protegidos do fogo inimigo. É tempo de nos aquietarmos.
A frase que foi pronunciada:
“A política brasileira está dividida entre paranoicos e messiânicos.”
Jaime Lerner, urbanista.
Recordando Neusa
Merecida homenagem à autora do Hino de Brasília, Neusa França. Debaixo do bloco J, onde morou desde os primeiros anos da capital, os alunos Soledad Arnaud, Wandrei Braga e Alexandre Romariz e Beatriz Pimentel (por vídeo) tocaram músicas compostas pela mestra. Com a colaboração de Rogério Resende, que tratava o piano da Neusa como um cardiologista, o instrumento foi levado ao ar livre, onde a audiência aplaudia animada. Alexandre Romariz, Dib Francis e Durval Cesetti trataram da divulgação, e quem organizou o evento, além dos alunos, foi Mauria França, a nora de Neusa. Denise França, filha, não escondeu a emoção com o carinho dos alunos.
Pela cidade
Leia, no Blog do Ari Cunha, a opinião da professora de arquitetura Emilia Stenzel, em relação ao Setor Comercial Sul. Emília é representante do International Council of Monuments and Sites (ICOMOS), ligado à UNESCO.
–> A proposta de revitalização do SCS, ao colocar a ênfase na introdução do uso habitacional, sob a justificativa da democratização dos espaços da cidade, parece não reconhecer que a alocação de usos de caráter público nos centros urbanos – como os usos definidos para a escala gregária: comércio, serviços, cultura – assegura o acesso a camadas mais amplas da população, do que a sua destinação ao uso habitacional.
A par de assegurar uma maior amplitude no acesso àqueles espaços, pelo caráter público desses usos, a implantação de polos de tecnologia e de ensino, bem como o apoio ao desenvolvimento do comércio e o suporte adequado às manifestações culturais são ações que têm em seu conjunto o potencial para a revitalização que o SCS demanda.
A introdução da habitação traz para aquele setor comercial demandas que não poderão ser atendidas no âmbito do SCS, como mais escolas, mais silêncio, ou espaços para playgrounds, para citar as imediatas.
A “cidade de 15 minutos” que buscamos no Século XXI demanda ações mais amplas e pode se realizar sem que se alterem os usos definidos no quadro da preservação.
O SCS demanda ações de fortalecimento dos usos que lhe são inerentes e a resposta a essa situação não comporta o abandono de sua estrutura física, da mesma forma como não comporta o abandono de suas características gregárias.
A introdução de uso habitacional na escala gregária não responde às pautas levantadas para justificar tal uso, não se mostra sustentável (seja do ponto de vista econômico, seja do ponto de vista social) e fere a preservação do patrimônio cultural.
Por um outro lado, a proposta de uma tal alteração de uso nos espaços centrais do conjunto urbanístico tombado é colocada sem que tenham sido estabelecidos os mais elementares instrumentos de gestão definidos pelas Nações Unidas para os sítios inscritos na Lista do Patrimônio Mundial, quais sejam: um plano de preservação do conjunto urbanístico e um comitê gestor do mesmo.
Brasília é um feito da cultura brasileira no campo do urbanismo e da arquitetura, mundialmente reconhecida como um dos mais importantes legados do Século XX. A construção de Brasília tornou realidade um projeto de cidade que é nosso privilégio, mas também nosso compromisso: é nosso compromisso transmitir essa riqueza às futuras gerações, é nosso compromisso inserir esse legado cultural em nossos projetos de futuro.
Condizente com nossa autonomia como povo é recusarmos a miopia e o casuísmo de interesses políticos e econômicos, que não hesitam em tornar letra morta os dados estruturantes de nossa memória coletiva.
Magia
Reginaldo Marinho publicou, na coluna Bahia de Todos os Cantos, comentário sobre a magia das pedras encantadas da Serra do Sincorá. Tudo registrado no link Diário do Turismo.
Viva hoje
Não sei o nome dela. Passou a vida inteira planejando a volta para Laranjeiras, no Rio. Juntou cada centavo que podia. Ano a ano. Eliminou viagens, passeios, almoços, só para economizar. Tudo conspirava a favor. Até que o grande dia chegou. O caminhão de mudança estacionava na rua Estelita Lins. Um choro escapou por alguns minutos de tanta emoção. Dali em diante sua vida virou um inferno. O vizinho era viciado em drogas pesadas e nunca mais ela conseguiu dormir em paz. Moral da história trazida pelo ditado lídiche: “Deus ri de quem faz planos” (Mann Tracht, Um Gott Lacht).
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Não faz muito, denunciamos desta coluna, que numa granja depois de Taguatinga, seu proprietário alimentava porcos com abóbora e cenoura, porque não tinha comprador, e não tinha lugar para vender na cidade. (Publicado em 20/01/1962)
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