Tecnologia baniu a sensibilidade humana

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ARI CUNHA

Visto, lido e ouvido

Desde 1960

com Circe Cunha e Mamfil

colunadoaricunha@gmail.com;

Com previsão para ficar pronta no segundo semestre desse ano, as obras de infraestrutura e urbanização da Praia Norte, localizada às margens da DF 005, no Setor de Mansões do Lago Norte, vão a cada dia tomando a forma concebida pelo autor do projeto. Em arquitetura há muito é conhecido o dito de que o papel branco tudo aceita, mesmo os mais bizarros traços.

     No passado, os riscos de um projeto urbano que não se adequasse ao espaço, cumprindo seu propósito, atendendo às necessidades dos usuários e, ao mesmo tempo, mantendo um relacionamento respeitoso com o entorno imediato, eram menores que hoje.

        Contribuía para isso, o fato de que anteriormente ao advento dos sofisticados programas de computação gráfica, os projetos de arquitetura, principalmente aqueles que tinham como alvo interferir em área urbana, eram feitos por uma equipe multidisciplinar, obedecendo à um ritual de elaboração que tramitava, sem atropelos, pelas mãos de diversos técnicos. Naquelas ocasiões, eram necessárias várias visitas ao local escolhido para um levantamento minucioso de todos os detalhes que compunham a região, até mesmo a trajetória do sol, as correntes de ar, as vistas dentro e fora da obra, os impactos ao entorno próximo e distante e todas essas variantes que compõem um projeto urbano bem pensado e bem resolvido.

Imagens: paranoa.df.gov.br

        Interferir na paisagem é de uma responsabilidade tamanha que somente os grandes arquitetos são capazes de perceber e acertar. Em se tratando de paisagem natural, essa responsabilidade é ainda maior. Sem qualquer interferência do homem, o céu, a terra e água compõem juntos uma paisagem onde todos os elementos mais prezados se harmonizam em escala, beleza, proporção e equilíbrio. A interferência humana nesse meio tem que ser feita com muito cuidado para não “sujar” a paisagem com interferências impensadas e outras garatujas impróprias.

        Com a adoção das novas tecnologias de projeto, trazidas pelos modernos programas de computação gráfica, as facilidades e a rapidez para a confecção de projetos parece ter retirado dos projetistas a capacidade de enxergar obviedades como o chamado “espírito do lugar”, em que o arquiteto passa a pressentir que impactos sua proposta irá provocar naquele sítio e nas pessoas que por ali transitam.

        O papel que tudo aceitava cedeu lugar ao computador que tudo aceita. Tudo passa a ser resolvido dentro de um escritório e na tela do computador. Nos projetos do passado, quando o relógio parecia rodar mais vagaroso, era comum encontrar projetistas acampados vários dias no local de futuras interferências para sentir e se impregnar do ambiente. Hoje, essas excentricidades estão esquecidas e deram lugar à tecnologia. Com isso, surgem construções e interferências urbanas assustadoras, como é o caso do Estádio Mané Garrincha, um aleijão assentado definitivamente numa área nobre, sem qualquer relação com tudo em volta e mesmo sem relação alguma com a arquitetura pensada para a cidade.

No caso do Projeto Praia Norte, os projetistas, ou seja, o computador, esqueceram de um pequeno detalhe: as milhares de pessoas que trafegam pela DF 005 e que tinham naquele ponto, entre os Trechos 5 e 6, uma visão ampla e bela de grande parte do Lago Paranoá. Com a urbanização “tecnicista” feita naquele ponto, a paisagem ficou coberta pela construção de banheiros (acreditem) e quiosques, formando um paredão de alvenaria feio, crasso, errado e desengonçado a esconder a paisagem, numa demonstração de que a arte e a sensibilidade humanas parecem banidas e desterradas com as novas tecnologias.

A frase que não foi pronunciada:

“Primeiro a Caesb invade a paisagem para “tratar” a água do lago Paranoá e agora os banheiros invadem o pôr-do-sol. Não há lugar para a inteligência e sensibilidade em projetos feitos por quem não tem relação com essa cidade.”

Lelé, de onde estiver.

Desconsideração

Inúmeros e-mails de acordo com a coluna sobre a destruição da Brasília Super Rádio. É mais uma iniciativa de quem não tem consideração pela comunidade candanga. Os idosos já acostumados com o baile, os coralistas com a programação erudita, os apreciadores da boa música ficaram sem a tradicional programação. Na realidade, trocaram as músicas que duraram 200 anos, por outras que duram 2.

Esclarecimento I – SISTEMA S

As contribuições repassadas pelas empresas ao SESI e ao SENAI não são impostas e sim recursos privados, conforme atestado em diversas decisões do STF. Tais recursos são aplicados de forma eficiente e responsável. Anualmente, o SENAI realiza 2,3 milhões de matrículas na educação profissional e atende 20 mil empresas em serviços técnicos e tecnológicos. Já o SESI beneficia cerca de 5 milhões de pessoas com educação básica e serviços de segurança e saúde no trabalho.

Esclarecimento II – SISTEMA S

A aplicação dos recursos do SESI e do SENAI se pauta pela máxima transparência, com fiscalização de nove instituições. Todas as informações sobre orçamentos e demonstrações contábeis das duas entidades estão disponíveis em seus sites, e podem ser acessadas livremente por qualquer cidadão, por meio dos seguintes links abaixo.

SESI: http://www.portaldaindustria.com.br/sesi/canais/transparencia/

SENAI: http://www.portaldaindustria.com.br/senai/canais/transparencia.

Quebra do respeito

Conselho dos anciãos. Desde a Bíblia, vinha sendo transmitida a sabedoria humana de geração em geração, pelos mais velhos. Infelizmente, o conselho dos anciãos foi trocado pelo Google, mas com a seguinte diferença: o primeiro é real e tem endereço, o segundo é virtual e não há responsáveis.

Charge: docedeni.blogspot.com.br

HISTÓRIA DE BRASÍLIA

O comandante Raposo, num momento de feliz perícia (perícia mesmo), evitou, ontem, um acidente no aeroporto de Brasília, que poderia ser de graves proporções. (Publicado em 20.10.1961)

Circe Cunha

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Circe Cunha
Tags: #Brasília #HistóriadeBrasília #AriCunha #CirceCunha #Mamfil

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