ARI CUNHA
Visto, lido e ouvido
Desde 1960
com Circe Cunha e Mamfil;
colunadoaricunha@gmail.com;
Estabelecer hoje parcelamentos de expansão urbana em áreas onde há a presença de importantes aquíferos, além de discutível, coloca o futuro de milhões de pessoas sob um sério risco. Sem água, não há vida e muito menos condições de fixação de populações.
Construtores, empreendedores e muitos políticos não se sensibilizam com questões dessa natureza. Aliás, a natureza, na visão dessa gente, tem que oferecer lucros, não importando de que maneira. Há um consenso geral que considera ser impossível, hoje em dia, a construção de Brasília, nos moldes em que foi erguida naquele período. A razão é que as imensas movimentações de terras para aplainar as grandes áreas, onde seriam implantados todo o Plano Piloto, ocasionaram o assoreamento e aterramento de muitos córregos e matas ciliares que existiam nessas áreas, provocando um verdadeiro extermínio de plantas, animais e de nascentes.
Ainda hoje, não se sabe, ao certo, a extensão desses estragos. O que se vê é que jazem sob ruas, avenidas e quadras residenciais da cidade, um grande número de cursos d’água que cederam lugar ao avanço poeirento do progresso. Justificar essa imensa destruição da natureza, numa época, em que não se discutiam assuntos dessa ordem, é tempo perdido. O fato é que os homens parecem não aprender com o passado. A construção do Trevo de Triagem Norte (TTN), considerada fundamental para o pesado escoamento viário daquela região, aterrou, sem dó, nem piedade, importante nascente de água que existia de um lado e outro da Ponte do Braguetto, assoreando, de morte também, o grande espelho de água que recebe as águas do córrego Bananal.
Ninguém protestou. As construtoras e os empreendedores aplaudiram. Parte da população ficou inerte tendo as reclamações abafadas pelo barulho das máquinas. Segue a passagem das estações assinalando ameaçadoramente, para todos, que os períodos de estiagem vão ficando cada vez mais prolongados e os reservatórios que abastecem a cidade com índices de cotas cada vez menores.
O que seria impensável no passado, no caso a utilização das águas do Lago Paranoá, que coleta grande parte do esgoto da cidade, para o consumo humano, hoje é uma realidade que, ainda por cima, é comemorada como trunfo para alguns. Aos poucos, vamos deixando para trás a certeza de que só a preservação do meio ambiente tornará possível o estabelecimento de pessoas na região, em troca de um futuro incerto, debitado na conta das gerações vindouras. Indiferentes a essa realidade que nos ameaça, prosseguimos erguendo bairros sobre o que restou de natureza, apenas para atender à uma demanda criada pelos especuladores e umas poucas autoridades públicas.
Num ciclo que parece não ter fim, a cada ano, os brasilienses de boa índole assistem, sem meios de agir, ao estabelecimento de novas expansões urbanas. Norte, Sul, Leste e Oeste, vamos cercando toda a capital com assentamentos mal planejados, favelas, invasões disfarçadas em condomínios, com áreas rurais tendo sua destinação primária mudada ao sabor dos ventos.
O caso em pauta, nesse momento, é a expansão do Setor Habitacional Taquari, numa região que abriga os córregos do Urubu e Jerivá, considerado importante sítio de recarga de aquífero. Para se ter uma ideia da importância dessa região, basta dizer que mais de 50% da água pura, que ainda chega a bacia do Paranoá, provém dessa região, conhecida como Serrinha.
A expansão das etapas II e III desse bairro irá afetar, segundo ambientalistas, mais de cinquenta pequenos cursos de água limpa que ainda insistem em correr por essa região. Há inclusive estudos do Prodema que atestam que a diluição de esgoto no Lago Paranoá chegou ao limite. Dejetos de toda a natureza, produzidos por bairros programados para receber milhares de famílias, nunca é devidamente estipulado.
É corrente a constatação de que a maioria dos projetos de amenização dos impactos ambientais gerados por projeto de assentamento, na sua grande maioria, não são implementados ou, quando o são, ficam muito aquém do necessário.
Vivemos tempos contraditórios. Engatinhamos a caminho do desenvolvimento. Ainda não aprendemos a erguer, sem destruir ao mesmo tempo. A questão aqui é que, objetivamente, vamos alargando desertos áridos em nossa volta. Não bastassem os enormes latifúndios de monocultura que derrubam o cerrado para benefício apenas dos donos dessas áreas, vamos também destruindo o que ainda resta do verde e da água, contidos nesse pequenino quadrilátero chamado Distrito Federal.
A frase que foi pronunciada:
“Não se pode fazer voltar a água que passou nem a hora que transcorreu.”
Ovídio
Dados
Há um caso de subnotificação em relação a crimes cometidos nas regiões onde delegacias estão desativadas. As estatísticas não correspondem com a realidade. Rodrigo Franco, presidente do Sinpol, dá o exemplo da área rural do Paranoá, como a comunidade Café Sem Troco, que fica a 43 quilômetros do Paranoá.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
Aliás, nesse vôo, os ministros tomam uísque escocês, e os passageiros comuns saboreiam o nacional. (Publicado em 26.10.1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…
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