Roubam o futuro do país diante do silêncio dos honestos

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DESDE 1960

aricunha@dabr.com.br com Circe Cunha e MAMFIL

Se forem observadas através da lupa dos órgãos da justiça e da polícia, é certo que em praticamente todos os setores da administração pública do país serão identificadas irregularidades das mais variadas, desde as mais simples e corriqueiras até casos mais complexos e de grande monta.

É conhecido, nas repartições públicas, o desvio diário, pelos próprios funcionários, de pequenas quantidades de material básico como papel, lápis, clipes, levados para uso particular. É o chamado roubo formiguinha. Somados, estes desvios continuados causam prejuízos de milhões de reais aos contribuintes.

Usar os serviços e o material das repartições públicas para fins particulares é tão comum que já não causa mais espanto. Os antigos costumavam dizer que quem desvia um centavo desvia um milhão. “Non adimittitur peccatum nisi restituatur ablatum” ou “não se perdoa o pecado sem se restituir o que foi roubado”, dizia padre Antônio Vieira no século 17.

Nos hospitais desaparecem desde medicamentos básicos até estetoscópios, termômetros e outros materiais. Nas delegacias, somem armas e munições. Nos quartéis, só não levam o canhão. Nas escolas e universidades públicas, tudo é alvo dos amigos do alheio. Nada escapa à sanha dos fajardos. Até os materiais mais inusitados são surrupiados, como tampa de bueiro, placas de sinalização, fiação elétrica, roupas no varal. Nem os locais de descanso eterno escapam da ação dos ladravazes. Túmulos são saqueados; imagens, crucifixos e quaisquer objetos de valor são levados sem medo de assombração. Aliás, um crucifixo bem importante foi noticiado pela imprensa como desaparecido de algum palácio em Brasília. Nas igrejas, sob o olhar dos santos, roubam-se os dízimos. Em outras, pastores tungam os fiéis sob promessas de futuras farturas no além e punição do fogo do inferno.

O que a Operação Lava-Jato e congêneres têm mostrado para todo o país é que, nem aqueles aos quais foi confiado à guarda das coisas do Estado (res pública) são dignos dessa missão. Fossem todos, dos maiores aos menores, obrigados a devolver 100% do subtraído e condenados a prisão por gatunagem, obviamente não haveria espaço suficiente para trancafiar tal multidão.

A delinquência é democrática e está presente em todos os escalões sociais. A diferença é que para as elites existem aqueles advogados, de altos honorários, que, mais do que conhecer os meandros da lei, conhecem os juízes certos para cada caso. Nas camadas de poder aquisitivo menor a história se repete. Mesmo os programas sociais são tungados de cima a baixo e de baixo para cima. O caso recente do conjunto Paranoá Parque é um exemplo. O Governo do Distrito Federal vem investigando casos de venda e de aluguel dos apartamentos recebidos no programa Morar Bem Habita Brasília. Ocorre o mesmo com parte das propriedades entregues por meio de programas de reforma agrária e assentamentos de famílias na área rural.

Entre os elementos que compõem o chamado Custo Brasil, a corrupção tem um peso considerável. Estudo apresentado em 2015 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) dão conta que até 2,3% de nosso Produto Interno Bruto (PIB) escoam a cada ano pelo ralo largo da corrupção, ou algo como R$ 100 bilhões.

A situação é tão séria que mesmo a Anistia Internacional tem denunciado que os casos de corrupção no Brasil têm tido reflexos negativos e diretos tanto sobre a questão dos direitos humanos, como no aumento da criminalidade.

A frase que foi pronunciada

“A corrupção não é uma invenção brasileira, mas a impunidade é uma coisa muito nossa.”

Jô Soares, antes das operações da Polícia Federal

Vale ver

Hoje é dia de acompanhar Cantorias, um excelente documentário da TV Senado, às 21h30. Entrevistas de pessoas que sabiam da vida ou espírito do lendário Zé Limeira, chamado por Orlando Tejo de “o poeta do absurdo.” Depoimentos de Ariano Suassuna, Chico César, Siba, João Furiba, Geraldo Amâncio, Ivanildo Vila Nova, Moacir Laurentino, Oliveiras de Panelas, Jomaci Dantas, Beto Brito, Marcus Accioly, Bráulio Tavares e Gonzaga Rodrigues. O programa será reprisado.

História de Brasília

A informação extraoficial que se tem é a de que a Prefeitura será “dada ao PSD de Goiás”. Prefeitura não se dá, Brasília não se concede. Escolha-se um técnico da equipe que a construiu, e seja este, o Prefeito. (Publicado em 12/9/1961)

Circe Cunha

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Circe Cunha

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