Quando o circo pega fogo

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Imagem aérea mostra incêndio no Parque Nacional de Brasília. Imagem: g1.globo.com

Em dezembro de 1961, num domingo de verão, o Brasil inteiro tomava conhecimento do que foi considerado o maior incêndio já registrado no país. Naquela ocasião, na cidade de Niterói, no Rio de Janeiro, um enorme incêndio consumia por completo o maior circo da América Latina, Gran Circo Norte-Americano, deixando 503 mortos, dos quais 300 eram crianças. A causa dessa tragédia teria sido a imensa lona que cobria o circo, feita de uma mistura de algodão com parafina.

Nessa ocasião, o presidente da República era Juscelino Kubitschek, e o Brasil registrava uma população de aproximadamente 71 milhões de habitantes. Passados 63 anos, o episódio trágico, como tudo neste país, caiu no esquecimento e poucos ainda se recordam do acontecido. Para os moradores de Niterói, ficou um certo temor e uma fobia contra espetáculos circenses de qualquer natureza. O que teria esse acontecimento do passado a ver com a situação atual de nosso país, cercado hoje por mais de 200 mil focos de incêndio, mergulhado na maior e mais escandalosa nuvem de fumaça e fuligem de toda a nossa existência como nação?

Por certo, no futuro distante, o ano de 2024 ficará registrado nos anais do país como o ano da calamidade nacional. A começar pelo Sul, vítima do maior dilúvio já registrado na região. Agora, Norte e Centro-Oeste são consumidos por chamas colossais, varrendo o que resta de cobertura vegetal e, com ela, milhares de animais silvestres, todos igualmente reduzidos a cinzas e mostrados ao vivo e a cores para todo o país e para o resto do mundo.

Alguns mais apressados correrão para anunciar que o Gran Circo Brasil está em chamas. Os rescaldos materiais desses fogos continentais ainda não são conhecidos. Talvez, um dia, venhamos a saber. Também não se conhece o número de vítimas humanas dessas queimadas. Por certo existem, e devem ser muitas. O fato aqui, e que corrobora para o prosseguimento dessas tragédias, é que não aprendemos nada com nossa história. E pior: buscamos não aprender nada, deixando que as culpas recaiam sempre nas costas daqueles que pouco ou nada podem fazer em sua defesa.

Os políticos brasileiros, em sua grande maioria, fazem até o impossível para serem eleitos. Uma vez no cargo, deixam de lado suas responsabilidades e miram apenas no poder que ser governo dá. Apenas uma pequena e ínfima minoria entende que governar, em um país como o nosso, é um apagar de incêndio diário. Para os demais, somente quando o fogo começa a lhes arder as vestes é que correm para agir.

Bastou o Distrito Federal ser coberto por grossas nuvens de queimadas para os ocupantes da Praça dos Três Poderes sentirem a necessidade de gritar: Fogo! O Congresso, como sempre, preocupado e envolto em questões argentárias de orçamento, pouco ou nada tem feito. Do mesmo modo, o Executivo, alheio ao que se passa além das janelas do Palácio, mesmo avisado com muita antecedência sobre os sinistros que viriam, resolve agora fazer reuniões para estabelecer estratégias visando, quem sabe, impedir que o país volte a arder em chamas.

Não há quem possa acreditar que o que não foi prevenido será, doravante, efetivado. É tudo uma grande pantomima a mostrar, mais uma vez, que os brasileiros, de modo geral, estão entregues à própria sorte. Não chega a ser surpresa que o Gran Circo Brasil, aquele cujo picadeiro fica em Brasília, está em chamas, sendo imolado no altar das vaidades e das políticas sem lastro na ética pública. Tivéssemos aprendido com os acontecimentos daquele longínquo dezembro de 1961, por certo, não voltaríamos a nos reunir debaixo dessa lona.

A frase que foi pronunciada:
“A nossa preocupação é que, ao longo do dia, com o aumento da temperatura e queda da umidade, esses focos possam se propagar novamente”
Coronel Pedro Aníbal, comandante operacional do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal

Coronel Pedro Aníbal. Foto: agenciabrasilia.df.gov

Alerta para alagamentos
Enquanto o DF permanece atrás de uma cortina de fumaça, as faixas de pedestres continuam sem tinta, as bocas de lobo não foram revisadas e não há contenção para as chuvas vindouras. Hora de prevenir!

Agenda
Hoje é dia da Comissão do Esporte da Câmara dos Deputados promover um debate virtual entre os pré-candidatos à presidência do Comitê Olímpico do Brasil (COB): Paulo Wanderley Teixeira, Marco Antonio La Porta e Yane Marques. O evento será realizado às 14h, no plenário 4, e atende a pedido do deputado Luiz Lima (PL-RJ), que será o moderador do debate.

Foto: cob.org

Inclusão
Projeto incentiva produção cultural que busca incluir idosos. A proposta trata de idosos internados em instituições de longa permanência, asilos e residência assistida. Já que o deputado federal David Soares (União-SP) se empenhou tanto nesse objetivo, poderia simplesmente prever a participação de idosos com um aporte maior se forem de instituições.

David Soares. Foto: camara.leg

História de Brasília
Para os que querem entender demais, e que receitam a torto e a direito sem ser médicos, o nome da doença é laringite estridulosa. (Publicada em 18/4/1962)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: #AriCunha #Brasília #CirceCunha #Fumaça #HistóriadeBrasília #IncêndioFlorestal #Mamfil #QueimadasNoBrasil

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