O que tinham de discretas, as mulheres pioneiras tinham de fortes. O que tinham de simples, completavam com a solidariedade. No ambiente hostil do Planalto Central, elas entraram de corpo e alma. O espírito inovador construía a Capital da Esperança. Copacabana deu lugar a apartamento tão pequeno que o piano, ferramenta de trabalho, não entrava. Assim foi com a autora do Hino de Brasília. Neusa França veio do Rio de Janeiro e teve sua música aprovada em concurso público. Palmerinda Donato, toda garbosa, chegou com sapato aveludado para a inauguração da cidade. Caprichou no visual. Logo no primeiro passo, atolou o pé no barro. Era presságio de que nada seria fácil. Mas também venceu.
]Muitas dessas mulheres estariam cobertas pelo manto do anonimato não fosse a garra de Tânia Fontenele, nossa homenageada hoje. No ambiente doméstico, nascida e crescida em Brasília, Tânia percebeu que, quando o assunto era a construção de Brasília, os nomes que vinham eram sempre de Juscelino, Lucio Costa, Niemeyer. Dona Júlia e Sarah Kubitsheck eram citadas também, mas com pouca ênfase. Inquieta, Tânia resolveu buscar informações com dona Inês Fontenele Mourão, a mãe, que tinha participado da criação da primeira associação de mulheres empresárias da nova capital. Ela era fonte rica sobre as batalhadoras da cidade.
Em 1985, o primeiro filme de Tânia Fontenele foi Corrida das 5.300 mulheres. O fato de ter sido, na década de 1990, professora da Enap também contribuiu para os valiosos contatos que iam aparecendo. Ela participava de programas de capacitação de ordem técnica e gerencial para mulheres que ocupavam cargos importantes no setor público. Desenvolveu, até no mestrado, o tema mulheres no topo da carreira — flexibilidade e persistência. O estudo foi marco na atenção às mulheres. A Secretaria da Mulher, na Presidência da República, publicou 3 mil exemplares que foram espalhados por todo o país. É possível acessar o trabalho no seguinte endereço eletrônico: http://www.spm.gov.br/arquivos-diversos/publicacoes/publicacoes/topo-carreira-fim.pdf .
Em 2007, Tânia participou da criação do Instituto de Pesquisa Aplicada da Mulher (Ipam), onde hoje é coordenadora. Em 2009, no aniversário de Brasília, pesquisa patrocinada pela Petrobras e GDF mostrou a invisibilidade das mulheres que participaram ativamente da construção da cidade. Para Tânia elas eram invisíveis, mas, nas entrevistas, ela pôde perceber que estavam satisfeitas pelo trabalho que realizaram, e mais ainda naquele momento em que teriam a memória oral registrada para as próximas gerações. A cultura da época foi desafio para Tânia. Com fotos lindas nas mãos, o registro dizia sr. Manoel d’Andrade e esposa. Nunca, ou quase nunca, a mulher tinha nome e sobrenome.
As pioneiras sabem a importância do trabalho de Tânia Fontenele e colaboram como podem. Cedem ou emprestam fotos, objetos, textos, o que têm em casa desde os anos 1960. Assim, como um cerrado em pequenas peças, as famílias pioneiras vão ocupando o espaço na História de Brasília. Isoladas, longe da cidade em que viviam, a relação humana que deu início à nova capital era diferente de qualquer lugar no Brasil. As pessoas se ajudavam mutuamente, um grupo que tinha carro aguardava os novos moradores no aeroporto para o deslocamento, médicos atendiam as emergências em qualquer hora ou lugar. O espírito de solidariedade era a regra. Todos se cumprimentavam, se conheciam, conversavam.
Poeira e batom é um filme de Tânia que mostra a saga da construção de Brasília. Uma decisão política e econômica de grande envergadura que chamou para si o esforço de cada brasileiro. Brasília é vista como cidade arquitetonicamente moderna, com espaços livres, mas é importante que os jovens saibam que o cenário de desenvolvimento era muito diferente do que se vê hoje. Tânia discorda dos que dizem que Brasília nasceu no meio do nada. Tribos indígenas, pessoas que já estavam aqui desde o século 18 também não são parte da história da capital por falta de conhecimento.
Brasília tem muito mais do que a arquitetura para mostrar. Acreditando na capacidade da educação em promover o ser humano, um projeto social e político, com os educadores mais modernos do país, implementou o melhor sistema educacional do Brasil. Educação em tempo integral, a nata da intelectualidade participou dos projetos inovadores. A Escola Parque, que deveria estar espalhada pela cidade, a Escola de Música, que deveria ter dezenas espalhadas pelas quadras. A base era uma cidade humanizada. Arte, conhecimento, convivência. O investimento de alto nível em termos de propostas e inovação. Alto nível, explica Tânia, não quer dizer muito dinheiro. Ninguém ostentava nada.
Tudo o que era de alta qualidade tinha o toque da simplicidade. Assim como os traços de Niemeyer. As escolas eram simples e aconchegantes. A criação das crianças era mais socialista do que nunca. Na mesma sala de aula, filhos de ministros e filhos de operários brincavam sem dar importância para status. A cidade vai além do que é visto. A cidade foi criada com conceitos de cordialidade. Aqui não se buzina. As tesourinhas foram criadas para dar oportunidade de os motoristas cederem a vez, os porteiros moravam nos prédios. As pessoas que chegam e dizem que Brasília é uma cidade fria é porque nunca experimentaram dar um sorriso com um bom-dia.
Tânia prepara o doutorado sobre as memórias femininas de Brasília e já arruma a bagagem para se mudar para o Arquivo Público, que sempre a recebeu de portas abertas. Faltam mesmo para completar o projeto de registro da história da capital apoio institucional e financeiro do GDF ou do governo federal para a construção da sede da memória feminina na construção de Brasília. A autoestima das pioneiras é visivelmente valorizada com esse projeto. As próprias famílias descobriram as avós e bisavós, vendo o valor daquelas mulheres tantas vezes sozinhas, mal ouvidas e até deprimidas.
Venham conhecer Tânia Fontenele na projeção do filme Poeira e batom. De 8 a 15 de março a partir das 18h30. Documentário e exposição homenageiam pioneiras no Dia Internacional da Mulher. Pela primeira vez o filme Poeira e batom vai ser exibido com legenda em francês, e a mostra Memórias Femininas da Construção de Brasília ganha nova configuração. Entrada franca, na Aliança Francesa, SEPS 708/908. O nosso muito obrigado a essa brasiliense. Que o governo reconheça o trabalho providenciando sede fixa para um centro de pesquisa, de exibição e exposição da memória feminina que contribuiu para a construção de Brasília.
História de Brasília
As casas de armas de Goiânia e Brasília venderam, nestes últimos dias, todos os estoques de balas de todos os calibres.(Publicado em 1/9/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…
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