O furto do fruto violento

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Desde 1960

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com Circe Cunha  e Mamfil

“Os ladrões que mais própria e dignamente, merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e legiões ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais já com mancha, já com forças roubam cidades e reinos: os outros furtam debaixo do seu risco, estes sem temor nem perigo: os outros se furtam, são enforcados, estes furtam e enforcam”, Sermão do Bom Ladrão, do padre Antônio Vieira.

Faltou pouco para que o plano de furtar R$ 1 bilhão dos cofres do Banco do Brasil, na Zona Sul de São Paulo, fosse concretizado com sucesso. Caso a polícia não aparecesse para estragar a festa da quadrilha, formada por duas dezenas de indivíduos, este seria o maior roubo do planeta e colocaria de vez o Brasil na galeria dos países onde roubar é quase uma arte.

Rouba-se da esquina malcheirosa aos palácios acarpetados. Entre nós, roubar é também uma atividade democrática e sem preconceitos de cor, gênero ou classe social. Rouba-se, como já dizia padre Antônio Vieira, no século 17, em todos os tempos verbais. De alto a baixo, praticam o ato de roubar. A diferença é que, para os menos favorecidos, roubar exige esforço, treinamento e coragem e, não raro, investimentos e custos elevados no preparo das pessoas, na aquisição de materiais e elaboração de planos minuciosos. Afinal, é a própria pele que está em jogo. E foi isso justamente que fizeram os ladrões que sonhavam em limpar os cofres do BB.

Investiram, do próprio bolso, cerca de R$ 4 milhões, segundo a polícia. Os membros da quadrilha, compraram uma casa nas imediações, onde montaram o centro de operações, com toda a infraestrutura. A partir daí, cavaram um túnel de meio quilômetro de extensão, com trilhos para o deslocamento de carrinhos, iluminação, escoras e toda a parafernália necessária à empreitada criminosa.

Durante semanas, trabalharam duro para roubar a fortuna, na expectativa de colher bons rendimentos pelo dinheiro investido. Para nós, que ostentamos o título de um dos países mais corruptos do planeta, graças, sobretudo às revelações feitas pela Operação Lava-Jato, o assalto a mais uma agência bancária, seja por explosão de caixas eletrônicas, seja por invasão por túnel, é até uma façanha pequena na comparação com os desfalques praticados pelas principais lideranças políticas do país.

Balanço auditado e divulgado pela Petrobras mostra que, entre 2004 e 2012, foram desviados pela corrupção R$ 6,2 bilhões ou R$ 110 a cada cinco segundos —só na estatal e numa estimativa preliminar e modesta. As estimativas dão conta de que a cada ano R$ 200 bilhões escoam pelo ralo da corrupção. O grosso dos desvios, e a Justiça tem provado a tese, é realizado justamente por aquelas pessoas a quem foram confiadas a gestão e a guarda da coisa pública.

Se roubar é democrático, o mesmo não se pode dizer da punição para os ladrões. Os que cavaram o túnel terão uma sentença pesada e o cumprimento da pena será imediato. Aos outros que afanam reinos inteiros, estes, como fidalgos que são, merecem outra sorte, quem sabe uma prisão domiciliar, no conforto de sua mansão, com proteção especial feita pela polícia e com a propriedade bem guardada por cerca elétrica. Afinal, todo o cuidado é pouco nesses tempos infestados de gatunos.

A frase que foi pronunciada

“A comissão faz o ladrão.”

Jô Soares

Do bem

» No domingo, o chef Dudu comandará as panelas da Feijoada Solidária, da Câmara de Dirigentes Lojistas Jovem do Distrito Federal. A partir do meio-dia, no Dúnia City Hall. Essa foi a forma que o chef encontrou de comemorar o aniversário. Toda a renda arrecadada será revertida para a Associação de Moradores da Estrutural, que atende as famílias de catadores de lixo. Informações sobre a compra de ingresso na CDL: 3218-1500.

Divulgação

» Começará no Senado, de 24 a 26 de outubro, a 10ª Semana de Valorização da Primeira Infância e Cultura da Paz. Com expedição de certificados pela participação, o evento terá como tema “Cuidadores da Primeira infância: por uma formação de qualidade”. As inscrições estão abertas e são gratuitas.

Resgate

» Alexandre Dias,  ex-aluno de Neusa França, está fazendo um trabalho espetacular de resgate do material deixado pelo marido da pianista, Osvaldo França. Todos os encontros musicais, na residência do casal, foram gravados por Osvaldo. Momentos preciosos registrados para sempre. Recitais nas salas de concerto de Brasília também foram resgatados. Basta procurar pela conta de Alexandre Dias no Youtube com a palavra-chave Neusa França.

História de Brasília

Em tudo isto, note-se uma coisa: a fraqueza do governo para tomar uma resolução. O caso da Prefeitura de Brasília é flagrante. É importante demais para nós, mas para o governo, deve ser rotina. Uma solução é o que se pede, seja contra quem for. (Publicado em 5/10/1961)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: Política Brasil Brasília Mamfil Ari cunha circe cunha

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