VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
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Nacionalismo, que os dicionários apontam como uma espécie de exaltação dos valores e tradições nacionais, e que, nesse sentido, não difere muito do que é encontrado na maioria dos países mundo afora, alcança significado deveras preocupante quando imbica para o lado de um movimento político, transformando-se numa ideologia fechada em que a xenofobia e a distorção desses valores substituem o bom senso, colocando algo abstrato como pátria muito acima dos interesses de seus cidadãos.
Em lugar nenhum do planeta e em tempo algum, a pregação do nacionalismo como valor fundamental de uma sociedade rendeu bons frutos. Pelo contrário. Exemplos observados, na história, dessa distorção conduziram invariavelmente seus povos à ruína e à decadência. É preciso, pois, tomar ciência desse perigo, adotando salvaguardas e muita ponderação quando, entre nós, já se ouve, ao longe, a pregação contínua desses valores nacionais como mote e bordão político. Dito isso, são precisos ouvidos de psicanalista, que auscultam nas entrelinhas, para filtrar o que vem sendo pregado sistematicamente pelo presidente Bolsonaro nas suas muitas manifestações em público.
Se o nacionalismo do tipo cultural é necessário para a preservação da identidade nacional em meio à pasteurização da cultura mundial, o dito nacionalismo de viés político e ideológico serve apenas para a criação mitológica e farsesca de um “pai da pátria”, a quem os cidadãos, transformados em filhos obedientes, recorrem em busca de conselhos, amparo e colo. Não é esse o caminho a ser trilhado. A República, com seus valores impessoais e equitativos, deve ser a bússola a ser seguida. Também é ao Estado Democrático de Direito que os brasileiros devem recorrer para garantir a plena cidadania e a outros valores como dignidade da pessoa humana. O patriotismo, já dizia o filósofo do Meier, Millôr Fernandes, “é o último refúgio do canalha, sendo que no Brasil é o primeiro”. Na realidade, a dupla patriotismo\nacionalismo, apesar dos estragos que tem provocado no mundo, parece renascer entre nós, fora de contexto, tempo ou lugar, ainda mais quando entoado por grupos políticos.
Nesse sentido, as seguidas bravatas feitas pelo presidente contra, por exemplo, o fim anunciado nos investimentos em preservação da Amazônia bancados há anos pela Alemanha e Noruega, e que já perfazem bilhões de reais, devem ser lidos com dupla atenção. De um lado, há suspeitas de que ONGs que atuam nessa região, bancadas por esses países, estariam, de fato, não preocupadas com as árvores e os povos indígenas, mas com o riquíssimo subsolo dessas áreas remotas, versão essa que é defendida por setores do governo. Por outro lado, as evidências que se têm até aqui, é que essa ajuda tem sido fundamental para preservação não só das matas como dos povos, sobretudo dos indígenas.
Infelizmente, retóricas políticas do tipo nacionalista, ao criarem uma nuvem de dúvidas sobre esse caso particular, confundem mais do que esclarecem. O que os brasileiros necessitam saber, nesse caso, até para tirar suas próprias conclusões, é se parcerias como essa são benéficas ao nosso país quanto à questão da preservação dos povos e das matas dessas regiões. Para tanto, é preciso que o governo comprove, por meios de fatos e provas, que essas parcerias escondem motivos escusos e muito além do que se pensa. O que não dá é fazer pouco caso dessa ajuda, desprezando anos de serviços em nome de ideias vagas como patriotismo, nacionalismo e outros ismos aleatórios.
Se nessa questão, a pátria significar a posse de um deserto árido e inóspito à vida, melhor repensar esses conceitos à bem do futuro dos brasileiros.
A frase que foi pronunciada:
“É o mistério que permanece. Não a explicação”.
Neil Gaiman, autor britânico.
Novidade
Agora o combate a ligações de vendas por empresas de telemarketing, operadoras de celular e bancos está forte. Já com milhões de assinaturas, o site “Não me pertube” despertou a atenção do GDF que já lançou pelo Procon-DF o “Me respeite”. De qualquer forma, o sofrimento alheio gerou um banco de dados volumoso.
Caixa
Mercado imobiliário pode melhorar com as facilidades de financiamento apresentadas pelo governo federal. O presidente Bolsonaro anunciará a novidade na terça-feira. A renegociação com caminhoneiros já foi feia pelo presidente Jair Bolsonaro e o presidente da Caixa Econômica Federal (CEF), Pedro Guimarães.
Ceará
Assusta voltar a Jericoacoara, depois de muitos anos. A Duna Pôr do Sol, cartão postal cearense, diminuiu assustadoramente. São 5 metros a menos por ano.
Casa Cor
Ações interessantes não param pelo país, assinadas pela iniciativa Casa Cor. Projetos de revitalização do patrimônio arquitetônico é um dos objetivos para devolver aos habitantes, edificações valorizadas pela estética. Dona Yolanda Figueiredo ficaria orgulhosa da extensão de seu projeto.
Muda já
Quem tem parentes chegando a Brasília de ônibus pode ficar horas aguardando por absoluta falta de informações. Noutros estados, a aflição é a mesma. Com GPS em franco desenvolvimento, está na hora de as empresas investirem para divulgar o percurso dos ônibus interestaduais pela internet.
HISTÓRIA DE BRASÍLIA
O número de barracos está aumentando demais nas superquadras ainda na construídas no Plano Piloto. É impressionante a rapidez, com que se constrói uma invasão. (Publicado em 28/11/1961)
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