Manaus, capital do Brasil

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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facebook.com/vistolidoeouvido

Foto: BBC

       Não se sabe ainda muito bem o que vem a ser a tal “governança global” para os problemas climáticos ou muito menos o que vem a ser o convite para que os Estados Unidos venham a aderir ao Fundo Internacional, que já conta com recursos da Alemanha e da Noruega, para a proteção e conservação da Amazônia.

A primeira questão aqui é que estas novidades, estes projetos e convites são sempre anunciados no exterior, onde surgem prontos e acabados, pegando o restante da população de surpresa. Nem ao menos os ambientalistas sabiam das novidades.

Uma outra questão, essa mais prática, diz respeito ao paradeiro e à prestação de contas sobre esses bilhões que são aportados para salvar a Amazônia. Trata-se aqui de vultuosos recursos que acabam diluídos ao longo do caminho onde estão ONGs, políticos, burocracia e outros entreveros que fazem esses financiamentos virarem poeira, lá na ponta onde seriam necessários.

A relação na administração de dólares ou euros, sobretudo vindos do exterior, é, no mínimo, uma situação com altos graus de tensão. Com os Tribunais de Contas e outras cortes superiores, o controle desses recursos e sua correta aplicação não pode ser acompanhado pela população. Por soar bastante intrigante, esse projeto surpreende.

 Dadas as milhões de vezes que o próprio chefe do Executivo Brasileiro alertou e criticou acerca da intromissão criminosa dos países desenvolvidos na região amazônica, tal mudança de atitude, indo como um mascate em busca de recursos lá fora, faz acender a luz vermelha de que algo nessas tratativas precisa vir à tona e ser minuciosamente debatido no Congresso.

 A verdade deve ser dita: Biden, pelo nível de informação que possui acerca do atual presidente do Brasil, não nutre um naco sequer de confiança no atual governo brasileiro. Tampouco no presidente do Brasil. Esse, por seu passado turbulento, vai aos Estados Unidos como alguém desconfiado ou, ao menos, receoso de que os milhares de pequenos credores e acionistas americanos, que investiram bilhões na Petrobras, venham causar contratempos nessa viagem.

A intenção expressa de transformar a Amazônia em um centro de pesquisa compartilhado com o resto do mundo, bastando que, para isso, pague-se uma taxa de adesão ao tal Fundo, soa suspeito e até fora de contexto, já que, há décadas, alemães, ingleses, franceses, japoneses e outros povos estão embrenhados nas matas brasileiras, pesquisando e enviando amostras vegetais e animais para seus países, conhecendo a riqueza dessa região até mais do que os próprios índios.

Outra questão grave é colocar a Amazônia sobre o balcão de negócios internacionais, sob o falso pretexto de incentivos às pesquisas e preservação desse imenso bioma. O que os países desenvolvidos buscam e todos sabemos disto, desde a chegada de Cabral por essas bandas, são riquezas minerais, botânicas e outras, capazes de gerar lucros fabulosos para seus países. O que é mais trágico em tudo isso é saber que a população está, mais uma vez, sendo ludibriada com essa conversa de preservação da Amazônia.

Para cuidar melhor, imagine a mudança da capital do Centro Oeste para o coração da região amazônica. Seria uma solução para administrar toda aquela vasta área. Só que isso daria um trabalho danado, sob um calor infernal, e isso os políticos instalados em palácios refrigerados em Brasília não iriam querer nunca.

A frase que foi pronunciada:

“A floresta é um organismo peculiar de bondade e benevolência ilimitadas que não exige seu sustento e estende generosamente os produtos de sua atividade vital; oferece proteção a todos os seres, oferecendo sombra até ao homem do machado que o destrói.”

Gautama Buda

Foto: Buddha in Sarnath Museum (Dhammajak Mutra)

Por favor!

Não faz o menor sentido impedir o retorno no início do Lago Norte. Parece que a barreira foi instalada por não morador da região. Se a função do DER é “assegurar a qualidade da infraestrutura viária, do trânsito e da mobilidade nas rodovias do Distrito Federal, comprometida com o desenvolvimento sustentável”, essa barreira prova que não está cumprindo a meta. Perde-se a qualidade, a mobilidade durante a maior parte do dia e o gasto de gasolina é maior.

Foto: comdono.com

Espectador

Falar em cultura em Brasília é sempre uma missão dolorosa. A reforma que transformou o Teatro Nacional em novo esqueleto, com todas as poltronas arrancadas, deve demorar tempo demais. O palco do Dulcina sofre a agonia de passar pela falência. A Escola de Música enfrenta greve, e por aí vai. Cultura é o que faz a diferença entre o desenvolvimento e o subdesenvolvimento.

Teatro Nacional, em Brasília. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil/Agência Brasil

Memória
Leia, a seguir, a homenagem ao frei João Benedito, da Basílica Santuário São Francisco de Assis, prestada por Silva Filho.

Foto: Marcelo Ferreira/CB/D.A Press

–> Memorial de Fr. João Benedito, OFM Conv.

Aúltima oportunidade em que estive a sós com Fr. João Benedito foi há dois meses. Era fim de março e eu iria me confessar por ocasião da Semana Santa. Entre os pecados que minha consciência acusava, estavam críticas feitas em relação a meu pároco. Sentei-me no auditório do centro paroquial e aguardei minha vez sem saber quem era o confessor. Chegado meu momento, entrei na sala e avistei o pároco sentado na cadeira do confessor. Ele me saudou com um sorriso suave. Eu o saudei com um sorriso amarelo.

Recuo quatro anos e recordo os dias iniciais de seu retorno de seu exílio em Pádua. Assumia a administração da paróquia e queria um coordenador para a música. Reunimo-nos numa salinha improvisada que acumulava suas coisas trazidas do exterior, entre um cavalete de pintura e uma estante cheia de livros. Com o decurso da conversa ele descobriu que eu sabia italiano. Então levantou-se, apanhou um livro na estante e me entregou. Era a publicação italiana de sua tese doutoral que versava sobre a liturgia. Falamos sobre o belo e como sobre o corpo interage com a oração, temas caros a ele e muito abordados, tanto na tese publicada quanto em suas pregações.

Desde sua chegada, devido ao fato de ser um de seus coordenadores, busquei aproximar-me de sua pregação dirigindo o canto na missa das 19 horas, justamente a que ele costumava presidir. Nelas, provei de sua retórica e erudição ao longo destes anos. Havia dois temas bastante recorrentes em seus pregões que me tocaram especialmente. O primeiro deles eu poderia chamar de “dimensão litúrgica da fé”. O cristão adquire sua fé por meio de sua participação na liturgia. Não se deve esperar concluir uma conversão pessoal para frequentar a missa. De modo contrário, a frequência à missa será o itinerário que formará a fé do novo católico, ou do católico que retorna aos braços da Igreja. Já o segundo tema era a “explicação da Escritura a partir das próprias Escrituras”. Uma espécie de chave hermenêutica para a interpretação bíblica. Aprendi muito com Fr. João Benedito.

Conta-se que Fr. João tinha muita pressa para terminar as obras da basílica, e que isso poderia manifestar a consciência de sua iminente morte. Não sei. Tinha, talvez por característica própria de seu temperamento, um senso agudo de urgência em tudo. Logo que assumi a coordenação da música, acertamos um programa anual de reuniões para os músicos interrompido pela pandemia logo após a primeira delas. Lembro-me de vê-lo, meses depois, externalizar sua frustração pelo tempo perdido com a interrupção das atividades. Dizia que tinha pouco tempo e que já se passava um ano sem poder avançar nos projetos pastorais.

Mesmo sob a “chuva de setas” da pandemia promoveu uma grande festa para celebrar os 40 anos da paróquia. Gostava de pintar e ornou quarenta taus de madeira que eram semanalmente apresentados à comunidade na missa de domingo. Produziu uma arte alusiva à festa, mandou fazer camisetas, determinou a realização de uma solene novena e uma festa social por ocasião de sua conclusão. Sinto-me grato a ele por não deixar passar em branco essa importante data de nossa comunidade mesmo sob as piores circunstâncias.

Impulsionou a pastoral dos coroinhas. Queria mais de cem deles atuando no santuário. O número era impressionante, mas estava perto de ser alcançado por ocasião de sua páscoa. Dizia que sua experiência mais marcante até entrar no seminário foi sua atuação como coroinha e que, por isso, acreditava muito nesse serviço como um caminho de formação na fé das crianças e adolescentes. Minhas filhas pediram para fazer o curso de formação sem serem provocadas por nós e abraçaram o serviço com entusiasmo.

Suas virtudes intelectuais impressionavam mas o que talvez tenha deixado um buraco no espírito de sua comunidade foi o afeto que lhe era próprio. Afeto este que cativou minha família. Guardarei em meu espírito a imagem de minha caçula chorando copiosamente enquanto abraçava com ternura um bonequinho da basílica que ganhara na véspera. Havia recebido horas antes a notícia da inesperada morte do amado reitor.

Era muito arrojado. Há oito anos o território de um novo bairro da capital federal havia sido confiado aos cuidados pastorais dos franciscanos. Bairro este no qual, para se poder instalar um templo religioso, devia-se comprar alguma das poucas e milionárias projeções disponíveis. Valores fora do alcance da arquidiocese. Devia ser negociada a cessão ou doação de algum terreno com o governo do Distrito Federal. Já se havia decidido o patrono da futura capela e as missas ocorriam nos pilotis dos edifícios residenciais. Uma pequena comunidade daquele bairro começava a ser formada, sem se desvincular da matriz. Eu não acreditava no sucesso dessa empreitada mas, na manhã de 4 de maio de 2023, acompanhando a missa matinal, recebi a surpreendente notícia da consumação do ato de doação do terreno. Um milagre que prefigurou a constituição da basílica. Ou teria sido o contrário?

Ah, e sobre contendas civis, lembro-me da questão dos sinos. Fr. João Benedito mandou que soassem a cada hora entre as oito da manhã e seis da tarde. Alguém reclamou e o caso ganhou a mídia. Lembro-me dele sorrindo ao comentar o assunto. Sorriso de vencedor. Os sinos não pararam e dobraram por ocasião da saída de seu cortejo fúnebre. Veni vidi vici.

Por ocasião de minha derradeira confissão com ele, fui deixando o tal pecado de maledicência para o final da lista. Acabados os outros, não tive opção a não ser declarar que havia tecido críticas a um “determinado padre”. Olhou-me enigmaticamente. Teria percebido o não dito? Talvez, identificando uma raiz temperamental comum aos pecados que relatei, falou-me então algo assim: “Muitos santos tinham temperamentos muito fortes, que produziam neles pecados contra os quais lutaram durante todas as suas vidas. Mas vejamos de outra forma: o próprio temperamento era a força motriz de muitas de suas virtudes. Peça ao Espírito Santo para que o ensine a tirar proveito de seu temperamento para uma vida de santidade.” Virou a mesa. Ele era assim.

Ao lado de seu féretro, em sua missa de corpo presente, disse-lhe: “Vá em paz, meu irmão, e interceda agora no céu por nós!”.

Brasília, 18 de maio de 2023.

Silva Filho

História de Brasília

Pessoas que usam o posto de telefones públicos do DTUI estão reclamando que depois de meia noite quem quiser telefonar, e não tiver aparelho em casa, terá que incomodar vizinhos, porque àquela gora o posto não presta mais serviço. (Publicada em 20.03.1962)

Circe Cunha

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Circe Cunha
Tags: #AriCunha #Brasília #CirceCunha #HistóriadeBrasília #Mamfil

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