Sem obstáculos maiores pela frente, a proposta do governo prevê benefícios diretos a todas as empresas que delatarem esquemas de corrupção na União, nos estados e municípios. O intuito, segundo o governo, de construir agenda econômica positiva, evitando demissões e fechamento de empresas, não resiste a análise mais detida desses acordos.
Na verdade, a pressa do governo tem sentido prático: mostrar aos grandes empresários, sobretudo os envolvidos na Operação Lava-Jato e congêneres, que os políticos que integram o atual governo, beneficiários diretos do grande propinoduto revelado, desaprovam a conduta bisbilhoteira do Ministério Público e da Polícia Federal sobre suas atividades.
Como prova desse descontentamento, acendem uma luz no fim do túnel para guiar com segurança os grandes doadores das campanhas políticas para fora dessa encrenca. De certa forma, ao abrandar as penas dos empresários desonestos, sob o argumento de preservar empregos, o que o governo deixa transparecer é a ansiedade pelo advento de possível grande pacto de conciliação, capaz de esfriar a fervura com as investigações lá de Curitiba.
Para aqueles que entendem do assunto, a MP é inconstitucional, pois coloca na mesma mesa de negociação corruptores e corrompidos, alijando o resto da sociedade, que, ao fim ao cabo, é que ficará com os prejuízos. Acordo dessa natureza só poderia ser estabelecido, após as conclusões da Operação Lava-Jato e semelhantes, colocando, em primeiro lugar, as punições cabíveis e ressarcimentos devidos, para, depois, se for o caso, pensar em abrandamento das penas.
Ao colocar o carro adiante dos bois, este governo, já desacreditado pela maioria da população, consegue levantar mais suspeitas sobre si e seus atos. Chama a atenção ainda o apelo, sob forma de alerta, de que as empresas que primeiro assinarem os acordos terão mais chance de perdão do que as retardatárias.
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…
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