VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Com algumas das milhares de imagens e instantâneos captados da guerra de defesa cruenta que a Ucrânia trava contra a invasora de seu território, a Rússia, é possível fazer um exercício de reflexão, mesmo à distância, do sentimento misto de aflição, tristeza, incapacidade de parar os acontecimentos, medo, incerteza e toda uma gama de maus presságios e maus pensamentos que esses cidadãos estão experienciando ante a possibilidade real da morte que se avizinha.
Como seres humanos que ainda somos, apesar das dúvidas de que, em momentos como estes que nos assaltam, sabemos, de antemão, que possuímos os mesmos mecanismos mentais, disparados por nosso cérebro diante de situações diversas. Somos, neste planeta, irmãos siameses, quando nos vemos diante de sentimentos como o medo, a raiva, a impotência diante de um fato, a aflição e o sentido de defesa de nós e de nossos entes queridos.
A aproximação da guerra e do inimigo, anunciada pelo estrondo, cada vez mais forte, das bombas e crescendo a voz de morte e destruição nas vizinhanças, aciona nos nossos irmãos distantes os mesmos sentimentos que teríamos diante de um fato dessa natureza. Correr e deixar tudo para trás, apagando nossas lembranças e pertences, despidos de tudo e até da dignidade, tão cara a muitos seres humanos, arde por dentro.
Que sentimentos e pesadelos estariam experimentando neste exato momento os idosos, impossibilitados de caminhar, os doentes acamados, as crianças nos leitos dos hospitais e todos que padecem em suas casas, mesmo aqueles que perderam a capacidade de entender direito o que se passa ao redor.
Pensar que todos esses augúrios estão vindo com um inverno rigoroso, quando o céu busca mais cedo a escuridão para se esconder do frio intenso. Por imagens captadas diretamente por trás de uma cortina, instalada num desses apartamentos familiares, é possível presenciar o momento exato em que uma bomba cai na vizinhança defronte. Ou vem-se gritos e choros aflitos. As pessoas cerram as cortinas, como se isso pudesse deter a força e a aproximação dos bombardeios cegos e correm para um outro cômodo da casa para se protegerem. Não sabem para onde se dirigir.
As notícias sobre a existência de corredores humanitários que se transformaram numa verdadeira armadilha para os refugiados, todos eles expostos à artilharia inimiga, correm em toda a parte. Imagens de prédios aparentemente abandonados, em destroços, contra a paisagem árida e inóspita, mostrando um céu escuro e frio ao fundo, iluminado, algumas vezes, pelo estouro das bombas, dizem a todos que é preciso ficar escondido dentro de casa.
O que fazer com o avô e a avó deitados inertes em suas camas, debaixo de grossas cobertas? Abandoná-los e fugir? Para onde? A morte saiu às ruas numa noite gélida e espreita. As luzes da artilharia incessante lembram relâmpagos anunciando a chuva, mas todos sabem: anunciam a chegada da ceifadora de vidas.
E pensar que, protegidos a milhares de quilômetros desse palco de horrores, estão os políticos que apoiam, por medo do carniceiro que preside a Rússia, todo esse massacre. Estão todos eles são e salvos, traçando, em suas estratégias, melhores formas de eliminar pessoas com mais eficiência e rapidez, sem despertar a atenção da imprensa mundial que a tudo observa in loco.
O coração dispara como uma metralhadora. A síndrome de pânico adormecida, desperta e também massacra como uma batalha de vida e morte. A depressão, o inverno, as bombas, a morte dos amigos, vizinhos e parentes dão a certeza de que estamos todos perdidos na mesma batalha, mesmo à distância.
A frase que foi pronunciada:
“Na guerra, os políticos dão munição, os ricos dão comida e os pobres dão os filhos. Quando a guerra acaba, os políticos pegam as munições que sobram e entregam uns aos outros. Os ricos aumentam o preço dos alimentos, enquanto os pobres procuram covas para os filhos.”
Ditado sérvio
Mais cordel
Concorre à cadeira do jornalista João Brígido, na Academia Cearense de Letras, o poeta popular Geraldo Amâncio Pereira, respeitado repentista cearense. Caso seja eleito, será a primeira vez que um cantador de viola terá assento na tradicional academia, cujas cadeiras sempre foram ocupadas por escritores e poetas eruditos. Geraldo Amâncio estudou história na Universidade Vale do Acaraú e é autor de dezenas de livros, entre eles, romances de cordel. Ouça no link: Oliveira de Panelas & Geraldo Amâncio – Galope beira mar.
Dúvidas de Luzia
Será que uma administração com sete milhões de associados é eficaz? A pergunta feita pela leitora traz outras indagações sobre os planos de saúde. Até que ponto a lei permite que a saúde humana seja tratada como negócio? É possível fiscalizar e punir os aumentos abusivos de poderosos lobistas? Até quando os consumidores precisam aceitar tudo?
História de Brasília
Não se nega que há falta de diversão, e como as pessoas aqui residentes ainda estão ligadas a laços de parentescos em outras terras, estão sujeitas a depressões, que são, também, comuns nas grandes cidades de movimento intenso, ao contrário da nossa portanto. (Publicada em 18/2/1962)