A hidra dos transportes

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Nos seres vivos, a infestação por micro=organismos patogênicos ocorre sempre quando se verifica uma baixa no sistema de defesa, também chamado imunológico. Nas grandes cidades, onde milhões de pessoas transitam o tempo todo para todos os lugares, esses mecanismos infecciosos agem e se multiplicam com rapidez sempre que os sistemas de fiscalização se ausentam ou falham.

Não é por outra razão que muitos urbanistas modernos enxergam as cidades atuais como verdadeiros organismos vivos, que crescem, se reproduzem, entram em decadência e acabam por desaparecer. Por isso mesmo, é preciso manter a saúde das cidades, por meio de uma fiscalização sistemática e diuturna, não dando brechas para o aparecimento de disfunções que induzem ao caos generalizado.

Em Brasília, o reaparecimento do transporte pirata de passageiros, uma antiga infecção que muitos acreditavam debelada, volta a pôr em risco a saúde da capital. Da mesma forma que os organismos infecciosos que ganharam resistência à ação dos antibióticos usuais, o ressurgimento dos transportes clandestinos mostra que essa praga se reinventou, ganhou novos adeptos e formas de atuar, se fortalecendo, sobremaneira, nos muitos espaços deixados pelo Estado.

Hoje, a ação desses grupos, por causa da grande soma de dinheiro envolvida, passou a ser estruturada nos mesmos moldes de uma quadrilha organizada, com a divisão de tarefas e hierarquia de comando. Diariamente, uma frota composta por quase 10 veículos clandestinos transporta irregularmente cerca de 700 mil passageiros, movimentando mais de R$ 3 milhões, livres de impostos.

As longas distâncias, a interminável espera, a alta demanda por transportes públicos de qualidade e a corrupção onipresente, vêm transformando a capital no ambiente ideal para o crescimento desse mercado de foras da lei que agem com desenvoltura, à luz do dia, na cara das autoridades. A situação ganhou tamanha dimensão que quem ousa enquadrar esses piratas nas normas é ameaçado de morte.

Para os usuários, o risco de perder a vida é constante, uma vez que muitos desses transportes não contam com itens de segurança, os motoristas não têm habilitação adequada, não respeitam as leis de trânsito, andam em alta velocidade e desafiam qualquer um, certos da impunidade e da brandura da legislação.

Bem estruturadas, essas organizações contam com o apoio de policiais militares, escritórios de advogados e um sem-número de agentes do Estado corrompidos que agem sob suas ordens. O problema ganhou tamanha dimensão que os agentes do governo que não se deixaram corromper denunciam as constantes ameaças e desacatos. O cidadão de bem não tem a quem recorrer. Na Câmara Legislativa, é conhecida a pressão que esses grupos exercem sobre os distritais e, em muitos casos e por diversas razões inconfessáveis, são devidamente amparados e defendidos como empresários legítimos. Ou o governo age, agora, com firmeza ou essa situação vai descambar para o descontrole, com risco para todos os brasilienses e para a saúde da cidade.

A frase que foi pronunciada

“Precisamos redescobrir a arte perdida do argumento democrático.”

Michael Sandel, professor de filosofia em Harvard

Mudou

» Estava proibida para o orçamento de 2017/2018 a compra de passagens aéreas em classe executiva para políticos e demais autoridades. O presidente Michel Temer autorizou. Na verdade, aqueles políticos que têm amigos com aeronaves até preferem pagá-los a ter que enfrentar o eleitorado cara a cara. Poucos são queridos a esse ponto.

Ensurdecedor

» Nosso leitor José Rabelo testemunhou reclamações de diplomatas que moram perto de clubes, onde o som de festas ultrapassa a barreira do bom senso.

Cuidado

» Uma dica importante que chegou pela leitora Beatriz Oliveira é que nunca, em hipótese alguma, entregue seu cartão de crédito em lojas, mercados, restaurantes ou postos de combustível. Apenas com o número do cartão e os números de segurança podem efetuar compras pela Internet em seu nome.

Igualdade

» Tem assustado muita gente a proposta da senadora sergipana Maria do Carmo Alves. Ela quer regulamentar o artigo 41, parágrafo 1º, inciso III, da Constituição Federal. Com isso, o servidor efetivo, concursado, das esferas federal, estadual e municipal dos três Poderes, que não tiver desempenho satisfatório perderá o cargo como qualquer trabalhador do país.

História de Brasília

Uma comissão de deputados do Rio está estudando de onde partiu a censura nos dias de crise. Em Brasília, a censura, normalmente realizada pela Polícia, foi afastada não se sabe por quem e passou a ser feita por oficiais do Exército. (Publicado em 27/9/1961)

Circe Cunha

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Circe Cunha
Tags: Política Brasil Brasília Mamfil Ari cunha circe cunha

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