Grande cemitério

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VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

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Foto: Reprodução

       Em vídeo de grande repercussão, que circula nesse momento pela Internet, é apresentado, ao distinto público brasileiro, uma pequena mostra da dura e perigosa realidade vivida hoje por milhares de professores em todo o país, dentro das salas de aula.

Filmado pelos próprios alunos, na Escola Estadual Carlos Alberto de Oliveira, em Assis, o vídeo flagra a fúria e o descontrole de um adolescente de 15 anos contra o professor de Biologia de 58 anos, em cenas ocorridas nessa terça-feira, 10 de abril. Por muito pouco, o aluno agressor não parte para as vias de fato. Mas de dedo em riste na cara do mestre, o estudante ameaça o docente, joga objetos em sua direção, retira bruscamente sua cadeira por trás, joga sua mesa e seus objetos no chão, tudo numa onda de selvageria, que é apoiada pelo resto da turma aos gritos, incentivando ainda mais as cenas lamentáveis.

O professor não reage em instante algum, limitando sua ação em pedir que o aluno se retire de sala. É visível o constrangimento e mesmo o medo do professor diante de um aluno descontrolado e violento, que, caso estivesse armado – o que seria hoje muito provável -, não hesitaria em ferir ou mesmo matar o profissional por motivo injusto e fútil.

As cenas de barbárie, lógico, correram o mundo, oferecendo um pequeno close do nosso cotidiano dentro das escolas e que muito pouco difere da vida real fora das escolas. Para as autoridades que deveriam agir de imediato e com firmeza, restou a nota que diz: “o importante é trabalharmos uma visão holística, a qual envolve um olhar sobre todas as dimensões do indivíduo (desejo, crenças, sentimentos e afetividade) em conjunto com a comunidade escolar de forma que cada uma exerça seu papel a favor do bem comum.”

A visão “holística” aqui, no tempo em que havia civilidade, era chamar os pais, depois de fazer um boletim de ocorrência na delegacia e depois de desligar o aluno da escola. Não se trata de um problema novo ou inusitado, mas demonstra, isso sim, um avanço, cada vez maior, da violência dentro de nossas escolas, contaminando, como um todo, as instituições de ensino e tornando a outrora respeitada profissão de docente em uma atividade insalubre e de grande risco de morte. Atos sem consequências.

 Não será exagero se, mais adiante, não forem exigidos, por parte desses profissionais, acréscimo salarial por conta da extrema periculosidade da função. Ninguém precisa ser especialista em educação, psicologia, pedagogia e outras disciplinas voltadas ao ensino para saber que esse avanço paulatino da permissividade e violência dentro das escolas decorre, antes de tudo, de um desequilíbrio flagrante entre deveres e direitos, sendo aqui, nesse caso específico e em outros já registrados, a ausência ou mesmo a falta de punição adequada e correspondente ao nível de agressão.

Em alguns países, essas cenas terminariam com o aluno sendo algemado conduzido a algum centro de reeducação de menores, à disposição da Justiça. Por aqui, a frequência com que esses casos vêm ocorrendo mostra bem que a impunidade é, em última análise, também, o motor propulsor desses atentados. É justamente a impunidade e a leniência das leis que estimulam os crimes, começando pelos pequenos delitos e tendo como desfecho os crimes de mortes e de chacinas de inocentes. Somos, nesse caso e em outros, compartícipes desses atentados, dentro e fora de casa, quando toleramos comportamento longe daquilo que seria minimamente civilizado.

Muitos desses menores, verdadeiros infratores em potencial, são preparados ainda dentro dos lares e depois enviados para as escolas, na ilusão de que irão ser civilizados nesses ambientes externos. O que o país assiste, de mãos e atitudes amarradas, é a formação de uma grande legião de menores totalmente sem freios e sem leis, largados pelados de éticas, em meio a uma sociedade que parece acordar apenas naqueles momentos de grande comoção, quando delinquentes entram com machados em escolas e deixam um rio de sangue.

Depois disso, passado o susto e comoção, voltamos sonolentos para nosso berço esplêndido, à espera de que outro susto venha nos perturbar a paz nesse grande cemitério chamado Brasil.

A frase que foi pronunciada:

“O que educa é corrigir o erro na base da consequência. É corrigindo o erro que se aprende.”

Içami Tiba, foi médico e psiquiatra

Içami Tiba. Foto: Arquivo Pessoal

Há controvérsias

Na discussão alterada dos deputados em Comissão, onde participava Flávio Dino, uma coisa ficou clara. Os dados da violência no país não batem nem com o Ipea, nem com o monitor da violência do G1. Veja, a seguir, os indicadores da época.

História de Brasília

No Setor Comercial Residencial à altura das casas da Fundação, uma máquina estava fazendo movimento de terra, e, por isto, foi preciso retirar  as árvores plantadas outro dia. Terminado o trabalho, quem arrancou as árvores não plantou, novamente, como seria lógico. (Publicada em 18.03.1962)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: #AlunoAgrideProfessor #AriCunha #Brasília #CirceCunha #Educação #EnsinoNoBrasil #HistóriadeBrasília #Mamfil #ProfessorNoBrasil #ViolênciaNasEscolas

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