Frouxa fiscalização

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Criada por Ari Cunha desde 1960

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com Circe Cunha e Mamfil

Todos e quaisquer problemas, que hoje são de difíceis soluções, quer pela dimensão que tomaram, quer pelos profundos estragos que geraram, foram, no seu início, pequenos e de fáceis resoluções. A questão é reconhecer esses problemas a tempo, quando ainda estão surgindo e prontos para serem debelados. Com isso, fica claro que os problemas, quando não reconhecidos quando deviam, crescem, ganham vida própria e se tornam maiores do que os recursos usados para saná-los.

É o caso aqui do consumo de álcool por menores de idade em Brasília, um problema que desde sempre tem sido alertado nesse espaço e que já pode ser considerado, hoje, como uma questão de saúde pública, tamanho o contingente de crianças e adolescentes que está imerso nessa tragédia. Sabe-se, por pesquisas, que quanto menos idade um indivíduo tem ao consumir  álcool, menos chances ele tem de se recuperar e mais chance de vir a se tornar um adulto com sérios problemas de saúde física e mental.

O alcoolismo é uma doença grave e, em seus graus mais elevados, ocorre, na maioria, em indivíduos que foram expostos ao álcool ainda jovens. Os estragos feitos pelo consumo de álcool no corpo de um indivíduo, em que a maioria dos órgãos ainda está em formação, são imensos e de difícil recuperação. Em todos os países desenvolvidos e onde as autoridades temem pelo uso do álcool, as penalidades para os infratores, que vendem bebidas alcoólicas para menores ou oferecem o produto são pesadas e não raro terminam com o fechamento definitivo do estabelecimento comercial.

No Brasil e em Brasília, é um pouco diferente. A fiscalização corre frouxa, e isso contribui para o aumento no consumo de álcool pelos mais jovens. Não se vê também campanhas educativas e de alerta sobre os malefícios das bebidas alcoólicas no organismo humano. Outro fator a colaborar para essa verdadeira calamidade pública é a existência de número absurdo de estabelecimentos que vendem bebidas. Em todas as quadras e endereços da cidade, há botecos e, agora, as distribuidoras de bebidas estão presentes. Vendem livremente desde as inocentes cervejinhas em lata até bebidas com alto teor de álcool como as cachaças. As autoridades sanitárias fazem cara de paisagem para o problema que só cresce a cada dia.

Os casos de dependência em álcool abarrotam as clínicas de psiquiatria. É sabido que o álcool leva os menores de idade a experimentar outras drogas, e isso contribui para o aumento do problema. A Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (PeNSE) vem, desde 2009,  se debruçando sobre o problema. Em parceria com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), fez, em 2019, uma coleta de dados em mais de 4.360 escolas em todo o país, chegando à conclusão de que 34,6% do total de estudantes consultados havia experimentados bebidas alcoólicas pela primeira antes dos 14 anos. A pesquisa mostrou ainda que as meninas consumiam mais álcool do que os meninos, 36,8% contra 32,3%.

Outras pesquisas mostram que menores que convivem em seus lares com parentes que bebem, têm mais propensão ao uso do álcool. Mesmo sabendo que a Lei nº 13.106/2015 tem tornado crime servir bebidas para crianças e adolescentes, o consumo nessa faixa etária não tem diminuído. Não se conhece um caso sequer de estabelecimento fechado por venda de bebidas a menores. O pior é que os educadores têm constatado que as crianças estão procurando esse perigo e bebendo cada vez mais e cada mais precocemente. É nas escolas públicas que o problema é maior e mais recorrente.

A Secretaria de Educação não dá conta da tarefa. Não é raro encontrar bares próximos às escolas e não é raro também observar maiores de idade comprando bebidas para menores de idade. Apreensões de bebidas alcoólicas dentro das escolas são comuns. Bebidas, cigarros e drogas são ofertados em cada esquina. O número de policiais é insuficiente para conter o consumo e para reprimir a venda. Com isso, o problema tem crescido e adquirido um grau de grave ameaça para a sociedade. Se não for combatido com severidade agora, mesmo sabendo de suas dimensões, chegaremos a um ponto em que não será mais racional falar-se em futuro para esses jovens. O futuro determinado pelo consumo precoce de álcool é aquele que se vê hoje nos presídios e nos manicômios judiciais.

» A frase que foi pronunciada

“Como o álcool é incentivado pela nossa cultura, temos a ideia de que não é perigoso. No entanto, o álcool é a mais potente e tóxica das drogas psicoativas legais.”

Sebastian Orfali

» História de Brasília

Mais uma do “Gavião”: falta água quase todos os dias. Os reservatórios construídos não foram inaugurados. Ou melhor, foram, e não aprovaram, por causa da infiltração. As especificações da construção estavam erradas. (Publicada em 11/3/1962)

Circe Cunha

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Circe Cunha

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