Com a urna eletrônica associada à disseminação das mídias sociais e com grande número de plataformas digitais à disposição de todos, os candidatos passam, num átimo, de personagens reais a virtuais, deixando, portanto, sua existência física e se juntando ao universo do faz de conta, onde as possibilidades são infinitas, inclusive aquelas relativas à condução do eleitor para o mundo da fantasia ou à Terra do Nunca.
Os perfis dos políticos a pleitearem cargos públicos eletivos também se multiplicam, de forma exponencial, criando um mundo infinito de imagens a se misturar entre verdades escassas e mentiras abundantes. De longe, todos parecem perfeitos e ajustados à mecânica da democracia. De perto e ao vivo, são os mesmos de sempre, avessos a eleitores fora do período de campanha, agrupando-se em bancadas que mais parecem bandos, donde passam a legislar em prol do grupo e diretamente em beneficio próprio e de seus mais próximos.
São, como no tempo do fogão a lenha, avessos a mudanças, ao progresso e à modernidade institucional, que poderiam aperfeiçoar a administração pública e tirar o Brasil do atraso endêmico em que se encontra desde a chegada do primeiro invasor em 1500. Para tanto, rechaçam medidas que poderiam atalhar a impunidade perpétua, como a prisão em segunda instância ou o fim do foro privilegiado.
Ao contrário, aprovam, em ritmo acelerado, projetos para liberar cassinos, facilitando a vida do crime organizado, que poderá contar, doravante, com um misto de banco oficial e lavanderia de dinheiro. Autores desse e de outros crimes contra a população, como é o caso da flexibilização da Lei de Improbidade Administrativa, estão agora protegidos duplamente tanto pelo foro quanto pelo fato de habitarem no mundo virtual.
Mesmo atributos éticos como a verdade, ganham nesse novo espaço irreal uma nova roupagem na figura de verdade virtual, tão etérea e impalpável que, ao primeiro vento, se dissolve no ar. O perigo da democracia virtual, nos moldes como ela vem sendo implantada em nosso país é a de que percamos, definitivamente, a chance de mudanças. Mudanças que venham em benefício do cidadão, e não aquelas que são erguidas para gaudio de uma elite no poder.
É justamente esse “virtualismo” que vai nos levando de um ponto, em que os princípios da ética humana e espiritual eram dogmas aceitos para o bem coletivo e individual, para uma situação em que todo um ambiente de velhas novidades é erguido apenas para a redenção de uns poucos e a condenação de muitos.
Dentro desse novo conceito, apresentado nas telas de vídeo, os políticos parecem estar em toda par te, junto ao eleitor, experienciando suas dores e aflições. Mas, de fato, estão longe, em ambientes como resort de luxo, à beira-mar ou em seus iates, onde projetam suas presenças. Vistos por trás das câmeras, da cintura para cima, estão trajando ternos e gravatas. Da cintura para baixo estão de tangas e de chinelo de dedos num eterno Il dolce far niente.
Somente em um mundo dessa natureza, onde o eleitor e o cidadão, sequer figuram, é que se torna possível, e sem resistência mesmo de caráter ético, candidaturas ao mais alto cargo da vida pública, de personagem recém-saído da prisão, onde cumpria parte de uma pena por corrupção, lavagem de dinheiro e outros crimes, que, para o cidadão comum, resultaria até em pena capital. Pelo menos nesse mundo virtual, onde a sorte de todos os eleitores é lançada num jogo viciado, os cidadãos são poupados de sentir os maus odores que emanam desses mortos-vivos a perturbar a nação.