Desgovernado e nos trilhos

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Com a confirmação pelo Supremo Tribunal Federal, abrindo ao Senado a possibilidade não só de validar por maioria simples o afastamento de Dilma Rousseff por seis meses, como rever toda a decisão adotada pela Câmara, a judicialização do rito de impeachment, que é um processo eminentemente político, ganha protagonismo.

A maioria da população, que enxerga no atual governo a origem de toda a crise, terá que aguardar, até o fim do recesso, para saber que caminhos as autoridades apontam para tirar o país do fosso. Até lá, muita coisa pode acontecer, a começar pela mobilização das ruas e radicalização das manifestações pró e contra o impeachment.

Para muita gente lida, vista e ouvida, a decisão da Corte Suprema, dando sobrevida a Dilma, não surpreendeu, pois muitos identificam no STF uma instância simpática aos desejos de um governo que, ao fim ao cabo, indicou a maioria dos atuais ministros. Há inclusive quem acredite que o voto do relator, Edson Fachin, a favor do rito da Câmara, deu a senha para a mudança de rumos dos demais ministros, numa ação combinada nos bastidores.

O advogado-geral da União, Luís Adams, ao comemorar a vitória no STF com a afirmação de que “o trem entrou nos trilhos”, deixou dúvidas se, no caso, o trem era o processo em si ou a própria Corte, que votou de acordo com as necessidades do governo. De toda a forma, o que se tem, com a decisão final do STF sobre o rito do impeachment, é a volta aos trilhos da própria crise, pelo prolongamento do percurso e do tempo que esse trem terá ainda que percorrer.Em outra frente, o governo volta a intervir indevidamente no PMDB, reconduzindo, de forma artificial, o deputado amigo Leonardo Picciani (PMDB-RJ) na liderança do partido. Essa recolocação do “homem do Planalto”, chamado por alguns de “líder paraguaio”, garante a indicação de nomes contrários ao impeachment de Dilma na comissão a ser novamente formada. Daí terá o poder de criar feridas profundas nessa legenda, aprofundando o racha e tornando ainda mais incertos os rumos desse partido.

À coleção de pessoas magoadas pela atual ocupante do Planalto, soma-se agora parte significativa do maior partido de sua base de apoio. Durante o recesso do Judiciário e do parlamento, o Executivo vai trabalhar em todas as frentes para soterrar, de vez, o processo de impeachment.

Nessas negociações, sabe-se que o preço cobrado pelo apoio é sempre exorbitante. Diante de uma situação em que os especialistas já denominam de depressão econômica, o labirinto que o governo teceu com as próprias mãos ameaça enredar também os brasileiros. Todos, sem exceção.

Circe Cunha

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Circe Cunha

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