Descrédito da classe política

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DESDE 1960 »

aricunha@dabr.com.br

com Circe Cunha e MAMFIL

É sabido que o descrédito da classe política é hoje maior do que em qualquer outra época — um fenômeno mundial, que decorre, em grande parte, do distanciamento que a sociedade observa entre a realidade de quem assume o poder e o dia a dia árduo do cidadão. Há casos em que a disparidade entre estes dois mundos chega às raias do surrealismo. Na vizinha Venezuela, outrora um dos países mais prósperos da América do Sul, graças à fartura do petróleo presente no subsolo, a crise econômica, social e política, provocada pela implantação do chamado bolivarianismo, conduziu o país a um estado de ruína de tal monta que a incidência de crimes, principalmente o furto famélico, se multiplicou por mil.

Os estabelecimentos que vendem comida na capital, Caracas, passaram a ter proteção e monitoramento igual ou superior ao dos bancos. Um garoto venezuelano franzino, visivelmente subnutrido, reclama nas redes sociais da internet que várias pessoas de sua família estão passando fome, inclusive, sua mãe, portadora de doença degenerativa. Ela é obrigada a caminhar muitos quilômetros diariamente para obter comida na fronteira próxima.

No vídeo que circula pelas redes, é mostrado o contraste gritante entre o perfil rechonchudo dos membros do governo, inclusive do líder máximo, Nícolas Maduro, com sua face redonda superalimentada e o restante da população magra e esquálida.

Estudos apresentados pelo Instituto Eurobarômetro mostram que a confiança na classe política na Europa oscila próximo aos 30%. Análise semelhante revela que, no Brasil, o nível de confiança está abaixo de 20%. O Instituto Ibope Opinião apresentou pesquisa recente dando conta de que somente 3% dos brasileiros acreditam que os políticos defendem os interesses da população. Para a maioria das pessoas ouvidas, apenas 10% dos atuais congressistas podem ser considerados bons políticos. Desonestidade, falta com a verdade e insensibilidade são os qualificativos mais amenos dados pela população quando avaliam os políticos nacionais.

Nas eleições que ocorrem, neste domingo, em todo o país, os votos nulos e brancos dispararam e, na maioria dos estados, ocupam a segunda posição da preferência dos eleitores. Para o doutor em geografia humana Demétrio Magnoli, o descrédito dos políticos ante a população decorre da degradação moral deles próprios e de seus partidos envolvidos em diversos casos de corrupção.

A mídia também é apontada como responsável pelo baixo índice de aceitação dos políticos, pela denúncia sistemática dos casos de corrupção, nos quais eles estão envolvidos. Outro dado que reforça a tese de desgaste dos políticos é que, em grande parte, os trabalhos do Congresso são pautados diretamente pelo Executivo, dentro do chamado governo de coalizão, em que basta atender a demanda pecuniária das bancadas para ter os projetos aprovados de imediato. Vive-se, assim, uma democracia de fachada, provocada não só pela hipertrofia do Executivo, mas pela fragilidade da classe política, agrupada aleatoriamente em legendas sem expressão ideológica ou programática clara.

O problema maior do descrédito com a política e com os políticos é que esse fenômeno ocasiona sempre um vácuo de poder que é imediatamente preenchido pelos oportunistas de plantão e salvadores da pátria, sempre dispostos a levar vantagens em tudo. Não é por outra razão que políticos como Marcelo Crivella, ligado à Igreja Universal, e transformado numa espécie de Moisés moderno, despontou nas pesquisas para a prefeitura do Rio de Janeiro. A democracia que temos, por enquanto, resulta, em larga escala, da baixa escolaridade do eleitor brasileiro e do conhecimento que muitos candidatos têm desse fato.

A frase que foi pronunciada

“Formemos uma pátria a todo custo e tudo o demais será tolerável.”

Simon Bolívar

Decifra-me

» Henrique Meirelles volta à cena e deixa jornalistas desesperados para interpretar suas declarações. Ao mesmo tempo em que garante que não haverá aumento de impostos em 2017, afirma que quer mais arrecadação.

Sofrível

» Houve tempo em que Jaime Lerner viria a Brasília para deixar a cidade transitável para os cadeirantes e pedestres. Não aconteceu. O IAB tem todas as ferramentas necessárias para uma parceria com o GDF e resolver a questão.

Nota do leitor

» Bombardear prédios de apartamentos é errado. É crime de guerra. Onde está nosso Itamaraty? O Brasil tem alguma opinião a respeito da Síria ou está tudo bem?

Donos da terra

» Relatora das Nações Unidas, Victoria Tauli-Corpuz, elogiou o Ministério Público Federal do Mato Grosso do Sul. Ela pediu para que o Brasil seja severo na punição dos responsáveis pelos ataques aos indígenas da região. A situação dos indígenas no país está grave.

História de Brasília
Todos conhecemos as tradições políticas do governador de Goiás, reconhecemos, inclusive, o seu espírito progressista, que sempre tem demonstrado, e esperamos sua decisão. (Publicado em 15/9/1961)

Circe Cunha

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