Correndo atrás da sombra

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Mau agouro antigo vaticinava que alguns países estariam condenados a passar direto do estágio evolutivo da barbárie à decadência, sem contudo, experimentar os frutos intermediários e saborosos da civilização. Tal parece ser o destino do Brasil. Depois de adiar sine die momento em que finalmente integraria o seleto grupo de países desenvolvidos — eis que o Cristo, redentor de nossas eternas mazelas, arremete violentamente contra o solo.
O “Brazil’s fall”, retratado na capa da primeira edição de 2016 da prestigiosa revista britânica The Economist, mostra que o país, sede das Olimpíadas, terá desastroso ano pela frente. Como o magazine é fonte de consulta obrigatória para investidores de todas os matizes, a internacionalização das nossas agruras internas ganha o mundo em manchetes, expondo a nu um governo que é a cara dos efeitos que desencadeou.
Analisada de forma sucinta, a crise é o governo em si, com nome e sobrenome e não qualquer outro fator exógeno relevante, como certamente usarão para culpar a China. O desmonte, na undécima hora, de experimentos como o Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), contidos na cartilha bolivariana da nova matriz macroeconômica, deixa claro que despejar R$ 362 bilhões do BNDES para os campeões de produtividade não foi bom negócio para o país. O que restou da chamada bolsa empresário foi passivo de R$ 214 bilhões, que entrará no livro de contabilidade da União como dívida pública a ser paga, obviamente, pelo contribuinte.
Dentro da peculiar lógica petista de lidar com as teses do capitalismo, a retroalimentação da crise, com mais e mais endividamento, terá desdobramentos tão inusitados, que não será surpresa se o país regredir décadas. Exemplo desse modelo em que quase 600 mil investidores remuneram suas aplicações à custa do endividamento público é o Tesouro Direto.
Na prática, o que ocorre é aposta na crise. O indicador de rentabilidade desse papel é dado pelo nível de endividamento do governo. Quanto maior a dívida, maior o lucro dos investidores. Com matemática desse nível, não é por acaso que adornamos, pelos motivos errados, as capas dos principais noticiários do planeta.
Correndo atrás da sombra que se alonga à medida que o ocaso de nossa economia se evidencia, o governo, em vez prestigiar os ajustes e correções apontadas por um Levy bem avaliado mundo afora, opta por um Barbosa, que tem no currículo a paternidade da crise. Governos e chefes medíocres querem gente competente bem longe.
Buscando minorar os efeitos da crise pelo lado errado, o governo aumentou de R$ 6,7 bilhões para R$ 7,2 bilhões as verbas destinadas a emendas partidárias, no melhor estilo molhando as mãos de seus pretensos avalistas. No mesmo sentido, Dilma Rousseff aumentou de R$ 289 milhões para R$ 867,5 milhões o valor destinado ao Fundo Partidário. O mensalinho oficial tem finalidade que, se não atende ao reclame republicano, ao menos abre perspectiva de remissão dos pecados do governo, no mesmo molde das antigas indulgências concedidas pela igreja.
De qualquer forma, o fogo do impeachment, que há a meses vem fritando o governo pelas beiradas, já deixou sinais indeléveis, marcando-o com a cicatriz do pior da história, por qualquer lado que se analise. Isso não é pouco. Nem tudo. Vem muito mais por aí.

Circe Cunha

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Circe Cunha
Tags: mamfil

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