Cidade com alma

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Desde 1960

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com Circe Cunha // circecunha.df@dabr.com.br

Cidades podem subsistir séculos como ponto de referência da cultura humana apenas por sua beleza arquitetônica e plástica. Ficam ali expostas a céu aberto, como monumentos de um tempo, com suas edificações, praças e casas. Mas se nelas não se observam a presença e o fervilhar de suas gentes, poderíamos classificá-las como ruínas do passado.

A despeito da beleza duradoura das construções e do ambiente concreto, o que imprime a alma a um sítio é justamente o poder de criação humana em diversas áreas, das artes às ciências. É o gênio dos habitantes que ilumina as cidades. “Nullus locus sine Genio” ou não existe lugar sem alma, diziam os antigos latinos.

Da mesma forma, os antigos germânicos usavam o termo “Zeitgeist” para se referir ao espírito do tempo, presente em determinado lugar e que diz respeito direto aos aspectos fenomenológicos do ambiente.

Arquitetura, literatura, pintura, escultura, música e os múltiplos aspectos da cultura, além dos hábitos do lugar e de sua gente, formam o “caldo da vida” do local. A cidade é de todos, mas, de uma forma até metafísica, poderia ser dito que a cidade pertence mais àqueles que produzem e sorvem sua cultura e seu caldo de vida. Sem sua população e suas produções, tudo seria árido e monótono.

No caso de Brasília, por seu contexto histórico e sua formação, é possível afirmar que o espírito, ou gênio, ficou suspenso no ar a partir de março de 1964, com a intervenção militar. Ressentido e cheio de presságios, o gênio recuou e o caldo esfriou por um bom tempo.

Perseguições, censura e debandada geral quase fizeram da capital uma cidade natimorta. Foi preciso a alienação própria dos jovens e a coragem culta de outras pessoas para devolver vida a uma cidade que muitos de fora acreditavam e pregavam não ter um futuro promissor.

Aos poucos, Brasília foi renascendo com a produção de sua gente —  afinal, a vida deve continuar. O Festival de Cinema, o movimento Cabeças, o berço de tantos talentos, o movimento Porão do Rock, o Coro Sinfônico da UnB, o Festival de Dança, o Açougue Cultural T-Bone, a Casa do Ceará, o Clube Nipo, a quermesse do Templo Budista, as festas juninas da cidade e tantos outros grupos de prestígio nacional e outros acontecimentos culturais reacenderam a luz invisível que ilumina e dá chama ao espírito local.

A frase que não foi pronunciada

“Muito bem. Todos os carros com o farol aceso durante o dia. Paguem seus impostos e não exijam contrapartida! Escondam a Constituição. Trouxas! Enquanto isso, o que devo, pago se quiser, e quando quiser.”

Estado brasileiro

Melhora já!

É muito triste ver policiais e bombeiros precisarem chamar a atenção por aumento salarial. Assim como acontece regularmente com os professores. São prioridades.

Silêncio

Aos poucos, os músicos da cidade vão se firmando nas estações do Metrô. O Instrumenta Brasília teve que parar enquanto a greve dos metroviários continuar.

Agenda

Bienal Brasil do Livro e da Leitura, em sua terceira edição, entrou pra valer no calendário oficial e cultural da cidade e será realizado entre os dias 21 e 30 de outubro, no Estádio Mané Garrincha. Que venham outras bienais que ainda faltam em nossa agenda, como a Bienal e de Arte, a Bienal de Design, a Bienal de Moda e tantos outros ingredientes para nosso caldo de vida.E são pagos! Realmente, os terceirizados dos Parques e Jardins precisam de orientação sobre poda. No lugar de dar força, eles arrancam a sombra muitas vezes matando as árvores que levaram décadas para crescer.

Sabedoria

“Jornalismo é vida. Ou, para ser realista, o jornalismo trabalha com uma das utopias humanas mais desafiadoras, que é a busca da verdade, que “nunca está onde nós a pomos e nunca pomos onde nós estamos”, como reclamava o poeta da felicidade. Mas vale a pena, com as ferramentas profissionais da investigação (onde, como, quem, por que, quanto, quando) e a correta expressão da língua, reduzindo visões e informações em dados essenciais para o exercício da liberdade. Por isso, sem democracia não há jornalismo.”

Luiz Gutemberg, em entrevista

História de Brasília

Brasília já tem planos em execução. A transferência da Cidade Livre não pode ser interrompida, porque seria desamparar os que desejaram melhores dias. Com um bilhão e meio de financiamento, a Caixa Econômica construirá toda a W3 da Asa Norte. (Publicado em 10/9/1961)

Circe Cunha

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Circe Cunha

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