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MAMFIL com Circe Cunha
Dinheiro compra tudo, até amor verdadeiro. Transportada para a cena política em tempos de delações, a sentença do dramaturgo Nelson Rodrigues adquire atualidade e amplidão muito além da ficção. Com a deduragem generalizada e propiciada unicamente pelo medo da polícia, toda a nação comprova uma suspeita antiga: no Brasil, o dinheiro compra tudo, inclusive, o pacote fechado contendo os políticos, os índios, o debate eleitoral, os três Poderes, a confecção das leis e a interpretação das mesmas dependendo do cliente.Diante de uma realidade crua como essa, qualquer outro prognóstico sobre o país do futuro e outras balelas ufanistas caem por terra. Não temos futuro algum. Pelo menos como eleitores, cidadãos e com essa classe de políticos, dirigentes e empresários que aí está. Se todos não mudarem, apenas uma certeza permanece: continuaremos na rabeira do mundo civilizado.Brasília, com a emancipação política, passou a importar todas essas mazelas e, hoje, encontra-se na mesma situação de impasse e dilema. Não há como prosseguir, dentro do que anseiam as pessoas de bem, com essa classe dirigente nem com o atual modelo gestão da coisa pública, que permite e facilita a perpetuação desse flagelo.
O que está ocorrendo com a sociedade é justamente o que já previa o dramaturgo tempos atrás: “A bondade brasileira está se deteriorando a cada 15 minutos, aumentando o desgaste de nossa delicadeza”. É o que temos assistido, ao vivo, com a maioria dos políticos sendo hostilizada ou mesmo ameaçada de linchamento em público. A revolta não é preventiva. Os votos provam isso.Nossa classe dirigente se encontra, literalmente, em palpos de aranha. Fosse vivo hoje, Nelson Rodrigues experimentaria frustração sem par, ao verificar que a realidade do dia a dia tem se mostrado, extremamente, mais imaginosa do que qualquer ficção. Os apelidos atribuídos a cada um dos atores dessa pantomima revelam o quanto de ficção e surrealismo existe em nosso modelo de democracia. Até mesmo a atuação célere do juiz Sérgio Moro, buscando desinfetar o país, remete ao nome dado à operação policial.“Eu me nego a acreditar que um político, mesmo o mais doce político, tenha senso moral”, diagnosticava Nelson Rodrigues, para quem o subdesenvolvimento se resumia à questão profissional, já que alguns vivem às custas dessa “generosa abundância”. A tentativa de forçar, agora, a reforma política visando, entre outras excrescências, anistiar a todos, também foi observada de antemão pelo autor de A vida como ela é, quando afirmou: “Existem situações em que até os idiotas perdem a modéstia”.
O que todos estamos presenciando neste momento é, no antigo dizer do escritor, à “multicolorida variedade dos vigaristas”. Nossos modelos de gestão pública, previa o dramaturgo, “trabalham para o nosso aviltamento pessoal e coletivo”. Até o odioso “nós contra eles”, tão comum em tempos recentes, fez sucesso por que naquela ocasião “o sujeito preferia que lhe xingassem a mãe e não o chamassem de reacionário”.A repetição dos mesmos nomes, eleição após eleição, enganando a população há décadas, tem justificativa singela em Nelson Rodrigues: “A burrice é eterna”. Para o escritor, a explicação para a realidade ontem, hoje e sempre é que “não se faz literatura, política e futebol com bons sentimentos”, já que “não há nada que fazer pelo ser humano: o homem já fracassou”.
A frase que foi pronunciada
“O sorriso do Sr. Odebrecht durante a delação premiada significa que o crime (ainda) compensa.”
Qualquer telespectador atento
História de Brasília
Por essa e por outras é que precisa ter alguém no DCT, que o dirija mesmo, como seria o caso do coronel Dagoberto. (Publicada em 26/9/1961)
VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…
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