A vez dos bichos

Compartilhe

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam)

Hoje, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade

jornalistacircecunha@gmail.com

facebook.com/vistolidoeouvido

instagram.com/vistolidoeouvido

Foto: blog.petiko.com

          Ao contrário do que ocorre, de maneira positiva, com os seres humanos, a humanização dos animais, ou seja, a atribuição de características exclusivamente humanas, sobretudo, emocionais ou comportamentais aos animais de estimação, como cães e gatos e outros, parece ser uma tendência atual, que tem levado muita gente a estabelecer relações complexas e mesmo confusas com os bichos.

Vivemos tempos em que vamos assistindo a uma espécie de interlocução e entendimento íntimo, antes exclusivo aos seres humanos, elevando os bichos de estimação ao mesmo patamar da nossa espécie. É preciso recordar que o fenômeno de humanização se deu num contexto necessário e essencial para que as pessoas pudessem encontrar um modelo de equilíbrio e harmonia que permitisse a convivência pacífica e produtiva em sociedade.

Um bom exemplo pode ser conferido, já no final da Idade Antiga, com a decadência do Império Romano, fustigado pelas diversas invasões bárbaras vindas do Norte da Europa. Naquele momento, a disseminação do movimento cristão, com sua força espiritual e apelo pelo amor e concórdia entre os homens, contribuiu, de forma profunda, para a humanização dos povos, impedindo que as sociedades daquele período regredissem ao estágio evolutivo de selvageria, onde a força e a irracionalidade seriam as normas.

O profundo sentimento de humanização e paz, trazido pelo cristianismo, como filosofia de fé, permitiria que os povos do Ocidente voltassem a se reunir em sociedades organizadas durante os mais de mil anos que durou a chamada Idade Média. Desse modo, a humanização do indivíduo é sempre necessária, pois resgata-o da barbárie e de um estado animalesco, onde os instintos prevalecem sobre a razão. Portanto, a racionalidade é também um atributo da humanização. Temos assim que sem esse e outros movimentos de humanização do homem, como os propagados durante o Renascimento, não haveria possibilidade do estabelecimento da cultura Ocidental. Lembrando que o Humanismo foi também um movimento filosófico, literário e artístico, que surgiu em parte da Europa no século XIV, e que buscava justamente a valorização da razão humana e o entendimento do mundo ao redor de forma crítica, tudo dentro dos parâmetros que pregavam a supremacia e a inviolabilidade da dignidade humana.

 Retornando ao aqui e agora confuso e que marca, ao mesmo tempo, a transição de século e de milênio, assistimos estupefatos ao fenômeno da antropomorfização dos animais, com muitos indivíduos buscando conferir, aos animais de estimação, os mesmos valores morais, sociais e sentimentais característicos dos homens. Hoje, um gato, cachorro ou outro animal passou a integrar a família dos humanos, como se humano fora, com todos os seus direitos e prerrogativas. Alguns levam essa humanização dos animais ao extremo, com seus bichos de estimação comendo no mesmo prato e dormindo na mesma cama de seus donos. É comum ver pessoas beijando seus pets na boca, levando-os aos salões de beleza, pagando plano de saúde, organizando festas de aniversário e dando todo o conforto do mundo aos seus bichos. Também é comum observar pessoas preferindo conviver com esses bichos do que com outros humanos. As razões são muitas, mas todas elas carecendo de explicações lógicas. A situação chegou à tal paroxismo que, hoje, as clínicas médicas para animais rivalizam com as clínicas para humanos.

 São dentistas, fonoaudiólogos, psicólogos, escolas, creches, transporte exclusivo, hotéis e mesmo reservas de passagens áreas para esses pequenos seres. Há ainda seguros, contas bancárias e outros mimos para os animais. Mesas cirúrgicas e toda a complexidade da medicina moderna também estão a postos para atender esses seres. Muitos indivíduos chegam a declarar publicamente que se tivessem que escolher entre seu pet e um outro ser humano ficariam com a primeira opção, pois esses são mais fiéis.

Ocorre que toda essa projeção de sentimentos feitas do humano para os animais demonstra, no fundo, uma carência e uma fantasia, que busca transformar o que é naquilo que nunca será de fato. Ou seja, os tempos nebulosos e indecisos que atravessamos, com as pessoas cada vez mais afastadas uma das outras, a solidão abriu as portas para esse novo e intrigante modelo de vida social. Vemos casais preferindo criar animais domésticos do que filhos; solteiros e solteiras preferindo seu cão e gato, ao invés de buscar companhia humana.

          De olho nessas preferências, o comércio abriu um amplo flanco de atendimento aos pets e faturam como nunca. Os números nesse nicho específico já beiram os R$ 100 bilhões em nosso país. Para os psicanalistas, essa tendência atual muitas vezes resulta no desenvolvimento, cada vez mais forte, de uma espécie de amor narcisista, onde nada, nem ninguém é suficientemente bom para nos fazer companhia. Exceto os pets. Trata-se de uma patologia que transfere as relações e os desejos das pessoas para os animais. Muitas dessas pessoas, segundo entendimento da Psicologia, desejam e esperam, de seus pets, uma espécie de amor dadivoso, sem riscos, muito aquém das possibilidades do amor entre os humanos, onde há de tudo, amor e ódio, luz e sombras.

A frase que foi pronunciada:

“Felizes os cães, que pelo faro dão com os amigos!”

Machado de Assis

Foto: escritas.org

História de Brasília

Os três diretores acusados pelo sr. Hélio Fernandes como “traquejados no manejo da maior máquina de corrupção” são os senhores Frank Ballalai May, Vasco Viana de Andrade e Jaime Almeida. O dr. Frank, antes da Novacap, era diretor do Banco do Nordeste. Valeu sempre como um homem de bem. O dr.Vasco substituiu o dr. Moacir Gomes e Sousa e o dr. Bernardo Sayão. Fêz um milhão e meio de metros quadrados de asfalto dentro do Distrito Federal, afora as outras obras, e o dr. Jaime Almeida, lidando sempre com a parte financeira, tem mantido a impecabilidade que todos conhecem. (Publicada em 25.04.1962)

Circe Cunha

Publicado por
Circe Cunha
Tags: #AnimaisDeEstimação #AriCunha #Brasília #CirceCunha #HistóriadeBrasília #HumanizaçãoDosAnimais #IndústriaPet #Mamfil

Posts recentes

  • ÍNTEGRA

Feliz 2025, de coração

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…

2 semanas atrás
  • ÍNTEGRA

Comissões e omissões

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…

3 semanas atrás
  • ÍNTEGRA

A exceção e a regra

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…

3 semanas atrás
  • ÍNTEGRA

Em busca do Santo Graal

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…

4 semanas atrás
  • ÍNTEGRA

O cordão umbilical com o dólar

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…

4 semanas atrás
  • ÍNTEGRA

Dos planos para amanhã

VISTO, LIDO E OUVIDO, criada desde 1960 por Ari Cunha (In memoriam) Hoje, com Circe…

4 semanas atrás