VISTO, LIDO E OUVIDO, criada por Ari Cunha (In memoriam)
Desde 1960, com Circe Cunha e Mamfil – Manoel de Andrade
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Uma das vozes balizadas, que fala em nome da pesquisa científica no país, a Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) já adiantou, e em diversas ocasiões, que a ciência do país vive atualmente num ambiente de aridez semelhante ao encontrado no romance Vidas Secas, de Graciliano Ramos, que mostra a dificuldade de sobrevivência em meio ao ambiente hostil e ao descaso do governo com investimentos.
Ao contrário do que pode acreditar o atual governo, é preciso que alguém firme na cabeça do chefe do Executivo a convicção de que sem ciência não há possibilidades de haver desenvolvimento sustentável e contínuo. Sem essas premissas, qualquer governo está fadado ao fracasso. Ou ele encontra um meio de reconciliação com a ciência e os cientistas, fomentando pesquisas e apoiando o trabalho árduo desses profissionais especializadíssimos, ou o país permanecerá no limbo, exportador de matérias-primas, numa repetição do que foi o seu passado histórico, como colônia, à mercê dos humores das grandes metrópoles, dependente e à margem do mundo desenvolvido.
Alguém dentro do governo precisa convencer o mandatário que a ciência e a pesquisa representam hoje o referencial de riqueza de uma nação. Já foi dito que nenhuma nação moderna logrou experimentar o pleno desenvolvimento, abrindo mão da ciência e da pesquisa. A pecha de que o atual governo se pauta pelo atraso e pelo que chamam de negacionismo científico precisa ser posta de lado o mais rápido possível. Não em nome de ideais políticos e eleitorais, mas em nome da sociedade a quem todo e qualquer governo deve servir e se submeter. A fonte de recursos, tão necessária para as pesquisas, que não podem sofrer interrupções no processo de continuidade, já secou há tempos. Somente no Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), houve recentemente um bloqueio de R$ 600 milhões.
A falta de verbas para a ciência em nosso país, de tão grave, já foi repercutida em várias partes do mundo acadêmico, sendo classificada como um “golpe na ciência”. Laboratórios, centros de pesquisa e outros ambientes onde a ciência é buscada incessantemente para a melhoria de vida das pessoas, encontram-se hoje em visível processo de sucateamento, fechados e entregues ao tempo. Também uma cadeia imensa de profissionais que torna possível o trabalho de cientistas estão sendo prejudicados. Reunir uma equipe de pessoas para fazer funcionar um laboratório de pesquisa, de acordo com as exigências atuais da ciência, não é uma tarefa que se constrói da noite para o dia. Exige preparo, desde o pessoal que cuida da manutenção desses espaços, até das equipes mais especializadas. O mais triste é constatar que, dentro do governo, há ainda indivíduos que sabem desses pormenores e estão impedidos de agir, por conta de uma ala palaciana que encara as ciências e os cientistas como um mundo averso às ideologias políticas de direita e, portanto, inimigos a serem expelidos do Estado.
Não surpreende que, diante de um estado lastimoso que se encontra a pesquisa, e mesmo aqueles estudiosos ligados à preservação do meio ambiente, a imagem do governo, perante o mundo, seja a pior possível. O que parece, para muitos, é que estamos vivenciando um replay dos anos de chumbo, quando o governo passou a enxergar, nos professores universitários e pesquisadores de ponta, inimigos a serem combatidos e expulsos do país.
A penúria de recursos a que está submetida hoje a ciência de ponta, prejudica o país e seu futuro. Condenando brasileiros ao subdesenvolvimento eterno. Numa situação dessas, em que o governo parece ter declarado guerra à ciência e aos adeptos das pesquisas, não chega a ser surpresa que os protestos, seguidos de declarações públicas desses profissionais, contra o descaso do Estado, multipliquem-se a todo momento. Cientes de que o atual governo não cederá espaço às Ciências, professores e pesquisadores de todo o país e até do exterior estão numa espécie de mobilização permanente, protestando abertamente contra a atual gestão e a politização, pouco esclarecida, de um governo avesso declarado desses profissionais.
Em outras partes do mundo, nos países ricos, cientistas e pesquisadores gozam de grande prestígio e, não é por outra razão: são eles que dão os primeiros passos para preparar o futuro material de um país, garantindo instrumentos para os cidadãos enfrentarem os desafios que a todo momento surgem. Um caso exemplar que reforça essa afirmação pode ser conferido na questão do aparecimento, em tempo recorde, da vacina contra o Covid, desenvolvida por países em que os governos apoiam a ciência.
Obviamente que a culpa desse descaso não cabe somente ao Executivo, mas pode ser partilhada com o Legislativo também, onde uma classe política e indiferente não faz esforço algum para apoiar as ciências, preocupados como estão em garantir vantagens apenas para si e para seus grupos no entorno.
Ao comprometer esse importante setor da vida nacional, o que esse governo faz, juntamente com aqueles que o apoiam, é empurrar no abismo uma parte do potencial humano do país, sufocando parte da nossa história em nome de algum propósito qualquer inominável.
A frase que não foi pronunciada:
“A ciência deveria explicar a razão de Bolsonaro não usar máscara e estar tudo bem com ele.”
Dona Dita intrigada com as notícias científicas.
Banalização
Diminuem as notícias sobre Coronavírus e a violência volta a ocupar as páginas dos jornais. É sinal de que as coisas começam a voltar ao normal. Quem poderia imaginar, anos atrás, que espectadores como crianças, idosos e donas de casa pudessem assistir uma tentativa de assassinato desde o começo ao fim. Facas, armas, briga corporal. Foi assim com o PM que estava no dentista e será assim sempre, já que não há instâncias da comunicação que arbitrem sobre.
História de Brasília
Mas o Carajá não deixa de ser um homem feliz. Mesmo em contato com o civilizado, vê o confôrto do ar condicionado, o perfume de mulheres, o ronco do avião, e anseia apenas um pano para se cobrir dos mosquitos, uma resina que lhe dê cheiro à pele, e uma piroga na qual possa trazer o peixe. (Publicada em 13/02/1962).
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