Setembro caminha para dados ainda mais trágicos do que os apurados em agosto, quando foram registrados quase 30 mil focos de fogo na Amazônia e a maior queimada em 10 anos no Pantanal
Os dados parciais de setembro do Programa de Queimadas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) apontam para mais um mês de catástrofe ambiental nos biomas do país. Em agosto, foram registrados quase 30 mil focos de fogo na Amazônia e a maior queimada em uma década no Pantanal. Segundo o Inpe, apenas nas duas primeiras semanas deste mês, foram contabilizados mais de 20 mil focos de queimadas na Amazônia, o que significa um aumento de 86% na comparação com os registros do mesmo de período de 2019.
No número acumulado, a quantidade de focos de calor no bioma de 1º de janeiro até 14 de setembro é 12% maior do que a de 2019 (quando os dados já eram alarmantes) e 28% a mais do que a média dos últimos três anos. Já quando a comparação é em relação aos últimos 10 anos, a média de queimadas na Amazônia é de um impressionante 43% maior em 2020.
Fotos do Parque Nacional do Xingu (10/9/20) feitas pela Brigada do Ibama
Queimadas no Pantanal
A situação, porém, consegue ser ainda mais grave no Pantanal, onde especialistas classificam que os focos de queimadas estão “fora de controle”, com números recordes e o fogo atingindo importantes regiões de preservação ambiental do bioma.
Até agosto deste ano, o fogo já tinha atingido uma área de mais de 1,8 milhão de hectares no Pantanal, o que representa 12% do tamanho total do bioma. Porém, ao virar o mês, o problema só aumentou: nos 14 primeiros dias de setembro foram registrados 5.300 focos de calor, praticamente o mesmo número do mês inteiro de agosto, com 5.935 pontos.
“Dessa forma, setembro será o mês com maior número de focos de queimadas no Pantanal desde o início do monitoramento, em 1998”, comenta a gerente do WWF-Brasil para Ciências, Mariana Napolitano. Os incêndios colocam em risco a fauna, a flora, as áreas de preservação e terras indígenas do bioma.
O Parque Estadual Encontro das Águas é considerado o maior abrigo de onças-pintadas do mundo e há registros de que mais de 80% de sua área já foi queimada. As araras-azuis são consideradas, hoje, pela Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) como “vulneráveis à extinção”. Por conta das queimadas, os pássaros perderam um importante abrigo: a RPPN Sesc Pantanal – a maior Reserva Particular do Patrimônio Natural do Centro-Oeste brasileiro, com mais de 1 mil km², que servem de dormitório para a espécie.
De acordo com Napolitano, é importante ressaltar que mesmo os animais que sobreviverem terão uma disponibilidade muito menor de alimentos, além de sofrer com a poluição gerada no ar e nos cursos d’água, agravando ainda mais o cenário e a necessidade de acabar com esse ciclo de tragédias.
“As queimadas sem controle, da forma como estamos vendo hoje, têm como principal causa a ação do homem, que usa o fogo para a limpeza do pasto ou de áreas desmatadas. Para impedir que desastres como esses aconteçam, precisamos combater o desmatamento -no caso especial da Amazônia e do Cerrado- e incentivar um manejo correto e bem planejado do fogo, além de aumentar a fiscalização e punição para quem descumpre a lei. Caso contrário, vamos continuar assistindo desastres como esses todos os anos”, diz Napolitano.
* Com informações do WWF-Brasil