“Descarbonário”, livro que será lançado no DF, conta história de luta pelo clima

Publicado em meio ambiente, Mudanças climáticas

A redução de gás carbônico na atmosfera para desacelerar as mudanças climáticas, dinamizar a economia e gerar empregos é o tema central do livro Descarbonário, de Alfredo Sirkis, que será lançado no Distrito Federal no aplicativo de audiolivros Ubook nesta terça-feira (7/7), em e-book e impressões sob encomenda. O lançamento ocorre 40 anos depois de Os Carbonários, um clássico sobre a geração que enfrentou a ditadura de 1967 a 1971, vencedor do Prêmio Jabuti de 1981. 

Sirkis, prestes a completar 70, lança outro depoimento geracional, desta vez sobre o tema ao qual dedicou-se nas últimas décadas: a redução de gás carbônico na atmosfera para desacelerar as mudanças climáticas, dinamizar a economia e gerar empregos. Mas a causa ambiental não é o único assunto. Longe disso. O livro traz preciosas histórias pessoais e reflexões sobre temas diversos como drogas, milícias, corrupção, ascensão e queda da esquerda, ressurgimento e vitória da extrema-direita e a sobrevida curta das duas “vacas sagradas” da economia brasileira: o petróleo e o boi. 

A nova obra de Sirkis faz contraponto a uma leva de autores que encaram a crise climática como praticamente sem solução. Para o autor, ela existe e passa por uma revolução cultural, tecnológica, política e financeira. O livro questiona o modelo de financeirização neoliberal e propõe ação do Estado na promoção de um novo ciclo de desenvolvimento sustentável, descarbonizante e gerador de empregos. São reflexões que ganham urgência no cenário da pandemia. 

Alfredo Sirkis, 69, é carioca, escritor, jornalista, gestor ambiental e ex-deputado federal, tendo presidido a Comissão Mista de Mudanças Climáticas do Congresso Nacional. Foi secretário de Urbanismo (2001-2006), de Meio Ambiente (1993-1996), vereador de quatro mandatos no Rio de Janeiro. Fundador do Partido Verde (PV) e seu presidente nacional entre 1991 e 1999, em 1998 aventurou-se em uma “campanha quixotesca” a presidente da República. 

 

Confira trechos do livro:

 

A AMEAÇA DO CLIMA AO HOMO SAPIENS

“É besteira frequentemente repetida dizer que a mudança climática ameaça o planeta. O planeta propriamente dito não está nem um pouquinho ameaçado. Em seus 4,5 bilhões de anos, ele já foi uma bola incandescente, já passou por glaciações e temperaturas elevadíssimas. A Terra continuará, e a natureza prosseguirá, ainda que sobre ela se abata o inferno de um aumento de 6ºC com feedbacks exponenciais no próximo século. Quem está seriamente ameaçado é o Homo sapiens habitante do planeta que, em meados do século passado, o fez ingressar na era do Antropoceno. Ele pode ter como sina a de outras espécies dominantes no passado, como os dinossauros. Quando falamos de mudança climática incontrolável, de efeito catastrófico, nos referimos a uma ameaça específica à humanidade. Outros seres vivos, como as baratas, por exemplo, adaptar-se-ão agilmente a um planeta superaquecido.”

 

CONFERÊNCIA DO CLIMA EM PARIS

“Dos diversos acordos desde a Convenção do Clima, na Rio-92, foi o que conferiu maior dramaticidade à questão climática. Colocou o dedo na ferida: “(…) a necessidade urgente de lidar com a significativa distância entre o efeito agregado dos compromissos em termos de emissões globais anuais de gases efeito estufa, em 2020, e as emissões no agregado compatíveis com a limitação da temperatura média bem abaixo de 2ºC, acima dos níveis pré-industriais, com a persecução de esforços para limitar esse aumento de temperatura a 1,5ºC.” O tema reaparece na parte relativa às NDCs. O Acordo, ao reiterar a meta de “bem abaixo de 2ºC”, acrescenta: “perseguir esforços para limitar o aumento de temperatura em 1,5ºC”. (..) É preciso entender que o Acordo de Paris foi um ponto de partida, não de chegada. Um degrau. Ainda conduz ao inferno, embora avance em relação à situação anterior e indique um caminho para o esforço coletivo, adicional, que possa abrir aos nossos filhos, netos e bisnetos as portas do purgatório.”

 

O BRASIL NÃO SEDIA A COP 25

“Esse problema da sede da COP 25 se estenderia por meses. Finalmente, quando a Venezuela foi neutralizada e o Brasil, prestes a ser proclamado país-sede da Conferência de 2019, o novo presidente eleito, Jair Bolsonaro, informou a Michel Temer que não aceitava a Conferência no Brasil. Para o novo ministro indicado para o Itamaraty, Ernesto Araújo, a mudança climática não passava de um complô marxista. Logo que foi informado, o presidente do Chile, Sebastián Piñera (de direita) ficou exultante e se articulou. Rapidamente venceu a disputa com a Costa Rica, a outra candidata, e substituiu o Brasil. Havia, no entanto, uma caveira de burro enterrada no (…) caminho de Santiago. O Chile entrou em ebulição social, e a conferência, que finalmente ocorreria em Madrid e seria um retumbante fracasso.”

 

PRECIFICAÇÃO DO CARBONO

“A verdade é que, em relação à precificação do carbono, tanto a real quando a positiva a qual introduzimos com sucesso no Parágrafo 108, o escopo de ação da UNFCCC é (…) limitado. Passados 23 anos da Rio-92, não foi possível sequer avançar em algo que o próprio FMI fortemente recomenda: pedir a supressão de subsídios para os combustíveis fósseis. Alguns países vem fazendo-o em geral por razões macroeconômicas, e quase sempre ocasionando revoltas sociais. Nessas circunstâncias, aquela simples menção no Acordo de Paris à precificação do carbono como um ‘incentivo para atividades de redução de carbono’ representou um pequenino avanço.”

 

BOLSONARO E OS AMBIENTALISTAS

“Em algum momento, por perceber que uma parte dos ambientalistas era de esquerda, em sua sesquipedal desinformação, passou a catalogar a questão ambiental e climática na ‘caixinha’ do comunismo e a se identificar com todo tipo de atividade devastadora que identifica como progresso: grilagem, garimpo ilegal, invasão de terras indígenas, poluição. Desenvolveu uma antipatia visceral por uma causa cujos pioneiros, ironicamente, foram ilustres militares, como o marechal Cândido Rondon, o major Francisco Archer ou o almirante Ibsen de Gusmão. Preferiu a inspiração de Pato Donald.”

 

 

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