Desaceleração do desmatamento apontada pelo IBGE foi revertida

Compartilhe

Pesquisa Uso da Terra nos Biomas Brasileiros mostra perda florestal de meio milhão de km² entre 2000 e 2018, com desaceleração no período. Especialista revela, contudo, que, em 2019 e 2020, desmatamento voltou a subir

O desmatamento no Brasil, entre 2000 e 2018, atingiu uma área de meio milhão de quilômetros quadrados (km²), uma extensão territorial equivalente à da Espanha. A perda da cobertura natural da vegetação ocorreu em todos os biomas, porém, na Amazônia e no Cerrado a devastação foi maior, cerca de 90% da destruição total.Em 2018, a cobertura florestal da Amazônia representava 75,7% de sua área original. Na Amazônia, nesses 18 anos, desapareceram 269,8 mil km² de vegetação nativa, uma extensão pouco superior à do estado de São Paulo. No cerrado, 152,7 mil km² foram perdidos, área maior que a do Ceará.

Os dados constam da primeira edição da pesquisa Contas de Ecossistemas: Uso da Terra nos Biomas Brasileiros (2000-2018), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgada nesta quinta-feira (24/9). O levantamento também revela que houve desaceleração até 2018, sendo a maior na Mata Atlântica, cuja perda saiu de 8.793 km², entre 2000 e 2010, para menos 577 km², entre 2016 e 2018.

Na Caatinga, nesses mesmos cortes temporais, as perdas foram de 17.165 km² e de 1.604 km², respectivamente. A Mata Atlântica, que sofre a ocupação mais antiga e intensa, conserva 16,6% de suas áreas naturais, o menor percentual entre os biomas. Já a Caatinga, o terceiro bioma mais preservado do país, tem 36,2% de seu território sob influência antrópica.

Desmatamento volta a subir no governo Bolsonaro

Especialista revela, no entanto, que a desaceleração parou em 2018. No governo Bolsonaro todos os dados de desmatamento voltaram a subir. Marcos Reis Rosa, coordenador técnico do Mapbiomas, rede colaborativa que realiza monitoramento detalhado da vegetação desde 1985, explicou que, apesar de algumas diferenças metodológicas com relação à pesquisa do IBGE, os números gerais são muito parecidos com os apurados pela organização que coordena. “O IBGE analisa o uso predominante da terra e cruza com dados de produção agropecuária, população, cria toda uma visualização de como está sendo ocupado o território nacional. O nosso é um mapeamento mais detalhado, que identifica vegetações mais esparsas e fragmentos”, comparou.

O especialista ressaltou que, como o estudo do IBGE é de 2000 a 2018, realmente os dados vinham em desaceleração. “No entanto, o que percebemos, por meio do sistema Prodes (do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial – Inpe) que, em 2019 e 2020, o desmatamento voltou a subir. “Estamos perdendo os ganhos conquistados. Na Mata Atlântica, que até 2018 se comemorava desmatamento zero, houve aumento de 27% na devastação em 2019”, alertou.

Além de lei específica de proteção, a Mata Atlântica é o bioma mais desmatado, relatou. “Há um processo de recuperação muito grande. Está quase estável, porque várias áreas foram recuperadas. No entanto, ainda há desmatamento de florestas antigas, como das araucárias, com mais biodiversidade e maior estoque de carbono”, disse. As áreas recuperadas, embora importantes, têm menos biodiversidade, esclareceu Rosa.

O coordenador do Mapbiomas assinalou que 90% do desmatamento foi para uso agropecuário. “O país tem muitas áreas abertas, de pastagens abandonadas, pode aumentar produtividade sem desmatar novas áreas”, ressaltou. No Pantanal, por exemplo, o processo que se percebe, segundo ele, é a conversão de pastagem tradicional pelo pasto plantado de brachiaria, um capim exótico para aumentar a produtividade. Isso é danoso”, alertou. A mesma coisa ocorre no Pampa, onde a pastagem natural está sendo convertida em floresta plantada de eucalipto e pinus.

Sobre as queimadas no Pantanal, Rosa disse que o fogo é um processo de degradação e o IBGE mapeia conversão. “Se essa área não for limpa para outro uso, ela se recupera. O que a gente perde são os animais mortos, mas a vegetação volta. Este ano, já queimou mais de 20% do bioma. Está chegando em 25%”, destacou.

simonekafruni

Posts recentes

Mudança climática extinguirá principalmente espécies típicas

As mudanças climáticas podem extinguir espécies de plantas e animais nos lugares mais biodiversos do…

4 anos atrás

Reciclagem de vidro traz benefícios ambientais, econômicos e sociais

O vidro pode ser totalmente reaproveitado no ciclo produtivo, porém é necessário melhorar sua coleta…

4 anos atrás

Potes sustentáveis preservam o meio ambiente ao reduzir consumo de plástico

A Bio Mundo lança uma coleção de potes de vidro retornáveis, que visam reduzir o…

4 anos atrás

Energia eólica chega a 18 GW de capacidade instalada no Brasil

Dados de fevereiro de 2021 da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica) mostram que o…

4 anos atrás

Campanha alerta investidores sobre aplicação em ouro da Amazônia

Consulta pública pretende colher subsídios para uma proposta de regulação, a ser apresentada ao Banco…

4 anos atrás

Instituto Nacional da Mata Atlântica comemora sete anos nesta sexta

Criado em 2014, o INMA incorporou o Museu de Biologia Prof. Mello Leitão, um dos…

4 anos atrás