Os botos da Amazônia, ameaçados de extinção, agora têm uma chance de sobrevivência maior. Uma proposta de preservação, dentro de um plano regional para conservação de botos no Brasil, Colômbia, Equador e Peru, foi apresentada por representantes dos quatro países e revisada pela Comissão Baleeira Internacional (CBI). O plano visa mitigar ameaças enfrentadas pelos botos na região e é um marco importante para o grupo de Organizações Não Governamentais (ONGs) que compõem a Iniciativa dos Botos da América do Sul (Sardi, na sigla em inglês).
Após expedições científicas e análises de dados em busca de mais informações sobre os cetáceos de rio da Amazônia, a Sardi está celebrando mais um passo em direção ao desenvolvimento de um plano de manejo de conservação regional para proteger os botos nos rios Amazonas, Orinoco, Tocantins e Araguaia, que cobrem Brasil, Colômbia, Equador e Peru.
“Esses animais enfrentam uma infinidade de ameaças, incluindo captura acidental e mortalidade em redes de pesca, caça direcionada, perda de habitat, poluição, impactos das mudanças climáticas e distúrbios sonoros”, explicou Andrea Ramírez, diretora de Assuntos Marinhos e Costeiros e Recursos Aquáticos do Ministério do Meio Ambiente da Colômbia.
Ramírez apresentou a proposta ao comitê científico da CBI e destacou o apoio recebido pelas organizações da sociedade civil dos quatro países que integram a Sardi. A CBI é a mais importante instituição científica internacional em se tratando de cetáceos, assim o seu endosso é um marco importante para a Sardi.
Monitoramento
A iniciativa realizou um extenso trabalho, incluindo estimativas de abundância e monitoramento por satélite de botos no Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador e Peru. Os integrantes da Sardi chamam a atenção para o perigo de ameaças como a construção de barragens hidrelétricas, que afetam a conectividade dos rios e, portanto, os movimentos dos golfinhos. Os resultados desses estudos foram fundamentais para o desenvolvimento da cooperação regional.
Fernando Trujillo, diretor da Fundação Omacha e membro do Comitê Científico da CBI, disse que o plano chega em um momento importante: há um ano a União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN) recategorizou o golfinho do rio Amazonas como ameaçado de extinção, o que destaca a urgência para que sejam implementadas ações para sua conservação. Ele acrescentou a importância da coordenação política e legislativa a ser alcançada entre os quatro países, “promovendo ações conjuntas que permitam contrariar fatores que ameaçam a sobrevivência dessas espécies, como contaminação por mercúrio, desmatamento e perda de conectividade fluvial”.
“É notável que, em tempos de pandemia, quatro países continuaram trabalhando juntos e articularam ações para garantir a sobrevivência dos botos no continente.Também serão implementados planos de envolver parceiros na Bolívia e na Venezuela”, assinalou Saulo Usma, especialista em Água Doce do WWF-Colômbia.
O plano representa um grande desafio, pois a área geográfica onde será implementado corresponde a três bacias hidrográficas com aproximadamente 9 milhões de km².