Campanha valoriza biodiversidade, história, costumes e povo do Cerrado

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Campanha lançada pela Rede Cerrado e o WWF-Brasil pretende valorizar o bioma, sua gente, costumes e biodiversidade. A Campanha Cerrados vai lançar, semanalmente, às segundas-feiras, até 17 de agosto, 10 episódios de podcasts sobre as realidades do bioma contadas a partir de histórias reais de moradores da região.

A campanha também conta com o site cerrados.org.br, que terá informações e dicas de mobilização para a preservação local, bem como chatbot pela página da Rede Cerrado no Facebook. A iniciativa é resultado da articulação entre o WWF-Brasil e a Rede Cerrado, que reúne mais de 50 organizações da sociedade civil que atuam na promoção da sustentabilidade, em defesa da conservação do bioma e dos seus povos.

Os podcasts, disponíveis no Spotify e em outras plataformas digitais, expõem os desafios humanos e ambientais do Cerrado a partir de histórias de pessoas locais e seus esforços de sobrevivência e conservação do Bioma. O primeiro episódio, Semeando água, conta como Fabrícia Costa, uma coletora de sementes nativas que, sofrendo com a falta de água em sua região, une-se a outros moradores da comunidade Roça do Mato para replantar o Cerrado no norte de Minas Gerais como forma de combater a escassez hídrica.

Poucos sabem, mas o Cerrado é indispensável para a regulação hídrica do Brasil: as raízes das árvores deste Bioma atuam como uma esponja gigante, absorvendo e estocando água da chuva e distribuindo para oito bacias hidrográficas do Brasil, alcançando milhões de nascentes e aquíferos importantes, como o Bambuí, Urucuia e Guarani.

A relevância do Bioma está em suas propriedades pouco conhecidas, tanto na fauna quanto na flora.  Mesmo abrigando 12% da população brasileira e alcançando 11 estados mais o Distrito Federal  o Cerrado ainda é pouco conhecido e valorizado se comparado à Amazônia, por exemplo. Trata-se da maior savana biodiversa do mundo, que abriga 5% de todas as espécies da Terra (32% das quais são únicas), com 12 mil espécies de plantas.

O Cerrado tem ainda um patrimônio cultural vivo nas comunidades tradicionais e povos originários, também conhecidos como guardiões da biodiversidade e das águas do Cerrado. Eles detêm um saber especializado sobre o uso dos recursos naturais, ciclos da natureza, clima e conservação do Bioma, de onde retiram seu sustento.

“No Cerrado vivem cerca de 80 etnias indígenas, além de quilombolas, extrativistas, geraizeiros/as, vazanteiros/as, quebradeiras de coco, veredeiros e veredeiras, ribeirinhos e ribeirinhas, apanhadores de flores sempre-viva, pescadores e pescadoras artesanais, barranqueiros e barranqueiras, fundo e fecho de pasto, sertanejos e sertanejas, ciganos e ciganas, agricultoras e agricultores familiares, entre tantos outros, que vivem, principalmente, do extrativismo e do artesanato”, lembra Maria do Socorro Teixeira Lima, quebradeira de coco e coordenadora-geral da Rede Cerrado.

De acordo com ela, os modos de vida tradicionais são importantes aliados na conservação dos ecossistemas, pois formam paisagens produtivas que proporcionam a continuidade dos serviços ambientais prestados pelo Cerrado, como a manutenção da biodiversidade, dos ciclos hidrológicos e dos estoques de carbono.

Histórias do Cerrado

Índia da etnia Apinajé na aldeia Prata, no Tocantins, em área demarcada

O segundo episódio, sobre Dona Lucely Pio, mostrará como a medicina tradicional pode ser uma forma de conservar o ambiente, gerar renda e ainda cuidar da saúde. Lucely encontra remédio para tudo nas plantas do Cerrado de Goiás. Pelas suas mãos, os conhecimentos ancestrais herdados pelos quilombolas da Comunidade do Cedro viram xaropes, pomadas, garrafadas, já o sétimo episódio, narra como lideranças jovens estão sistematizando os conhecimentos tradicionais dos anciões em uma aldeia Xavante no Mato Grosso.

O setor agropecuário cobre 40% do solo do Cerrado e embora existam mecanismos de recuperação da terra, cerca de 30% das pastagens estão degradadas ou subutilizadas. A riqueza e biodiversidade do Cerrado tem perdido espaço para o desmatamento causado pelo mau gerenciamento das cadeias produtivas de carne bovina, soja e também do processo de especulação fundiária. Isso é retratado no quarto episódio, que mostra como moradores da comunidade Cacimbinha enfrentam invasões, ameaças e se tornam vítimas da grilagem de terras. A história mostra como a jovem Lusineide se torna uma liderança comunitária, organiza um projeto, une vizinhos e cria novas ferramentas de proteção do Cerrado no oeste da Bahia.

Desmatamento

Apesar dessas histórias de resistência, desde 2009 a média de desmatamento tem sido de 1 milhão de hectares por ano, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). Só em 2018 foram desmatados 660 mil hectares. Metade do Cerrado já foi perdido e a disseminação de informação e orientação sobre preservação e conservação ajudarão no conhecimento e valorização da identidade e riqueza local.

Para responder ao desafio de mobilizar mais pessoas em prol do Cerrado, a campanha inclui ferramentas virtuais de capacitação de movimentos e vozes locais, com conhecimento e legitimidade para propor pautas em defesa do ambiente e das comunidades do Bioma.

Pelo messenger do perfil no Facebook da Rede Cerrado será possível conhecer vários caminhos e ferramentas de mobilização social, incluindo exemplos de boas práticas e tutoriais passo-a-passo. Orientações sobre como organizar um financiamento coletivo, acompanhar ou propor um projeto de lei, como fazer um twittaço ou uma Live, entre outras opções, estão disponíveis de forma dinâmica e clara. Todas as ferramentas preveem o uso com poucos recursos e forte embasamento digital, de forma a envolver pessoas de todo o Bioma.

“Com esta campanha, convidamos as pessoas a se conscientizar sobre o momento que vivemos e a importância do agirmos juntos, agora – seja no ativismo digital, na educação, no voluntariado ou apoiando como doadores os projetos que realizamos com vários parceiros em todo Brasil. A mensagem coletiva que compartilhamos é que cuidar da natureza – florestas e savanas, rios, mangues, oceanos e toda a sua diversidade de vidas – é cuidar de nós mesmos”, explica Gabriela Yamaguchi, diretora de Sociedade Engajada do WWF-Brasil.

Com informações do WWF-Brasil

simonekafruni

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