Alguma iniciativa de economia circular — conceito de compartilhamento, manutenção, reutilização, remanufatura e reciclagem de materiais — é adotada por 76,4% das indústrias brasileiras, mostra pesquisa inédita da Confederação Nacional da Indústria (CNI), feita com 170 empresas. Para 75,9% dos entrevistados, os principais objetivos são redução de custos e utilização da matéria-prima sem desperdícios. O levantamento completo será divulgado nesta terça-feira (24/09), no Encontro Economia Circular e a Indústria do Futuro, em São Paulo.
Para o gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Davi Bomtempo, a questão da eficiência está no “DNA da indústria”. “O setor sempre produziu mais com menos”, disse. No entanto, 70% das pessoas responderam não ter ouvido falar sobre economia circular antes da pesquisa. “O conceito não era entendido, mas os princípios já são adotados”, explicou Bomtempo.
A partir da melhor compreensão do conceito, sustentou o especialista, as oportunidades de negócios ficam mais claras. “Trabalhar no ecodesign, criar produtos que gerem menos resíduos ou já concebê-los pensando na reciclagem. E pensar no que não é reciclável como insumo na produção de energia”, exemplificou. “É olhar o lixo como recurso”, resumiu.
A economia circular parte de ações que resultam no aumento da vida útil de produtos e materiais, com uso mais eficiente de recursos naturais. Para se ter uma ideia, na Europa, a prática reduz gastos com materiais na ordem de US$ 340 bilhões a US$ 630 bilhões por ano. Dados da União Europeia apontam que a economia circular pode diminuir custos no setor de mobilidade entre 60% e 80%. No setor de alimentos, a economia é de 25% a 50% com redução de desperdício.
De acordo com a pesquisa da CNI, 70% dos empresários responderam não ter ouvido falar sobre economia circular antes do estudo, embora a maior parte já desempenhasse práticas em suas empresas. Segundo a confederação, a indústria brasileira tem avançado em práticas como o reúso de água, a reciclagem de materiais e a logística reversa, que contribuem para a eficiência no uso de recursos, para a redução de custos e para a sustentabilidade do meio ambiente e da atividade produtiva.
A economia circular é uma alternativa ao modelo tradicional, de produção, consumo e descarte, uma vez que é baseada no uso dos recursos naturais com menos desperdício. Além disso, permite fontes alternativas de receita e reduz a dependência de matérias-primas virgens.
Quando perguntados sobre a que remete o termo economia circular, a maioria dos representantes das indústrias mencionou “sustentabilidade” e “reciclagem”. A pesquisa revelou, também, que outras motivações, além de redução de custos e menos desperdício, foram maior eficiência operacional (47,3%) e oportunidade de novos negócios (22,6%). Aliar eficiência a novos modelos é imprescindível e necessário para a sociedade ser mais sustentável e acabar com o que é chamado de “lixo”, de forma a considerar o material como recurso útil e reutilizável.
Para 72,4% dos empresários, a economia circular pode gerar a fidelização do cliente. “No Brasil, para que a lógica circular se realize, será necessário maior investimento em educação e inovação. Em um primeiro momento as empresas terão de investir, mas em uma etapa seguinte será possível diminuir custos operacionais, por meio de processos mais eficientes e voltados para o reaproveitamento de resíduos e utilização de bens reciclados”, destacou o presidente do Conselho de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, Marcelo Thomé.
Conforme o levantamento, 60% das indústrias entendem que as práticas de economia circular podem contribuir para a geração de empregos na própria empresa ou na cadeia produtiva do setor. Para tanto, será necessária uma ação cooperada entre governo, empresas e consumidores, conforme os resultados da pesquisa: 73% consideram que a transição para a economia circular deve ser uma responsabilidade compartilhada.
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