Transferência do PPI obriga ‘Super-Guedes’ a saciar cobranças de Bolsonaro por mais investimentos

Publicado em Economia

RODOLFO COSTA

 

O ministro da Economia, Paulo Guedes, está ainda mais fortalecido, em detrimento da desidratação imposta ao ministro-chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni. A transferência do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) da Presidência da República para a equipe econômica vai oferecer os instrumentos para Guedes cumpra promessas feitas no Fórum Econômico Mundial, em Davos, na Suíça, e possibilite tornar realidade as promessas de privatizações feitas pelo secretário especial de Desestatização, Desinvestimento e Mercados da pasta, Salim Mattar. É o que alguns interlocutores do governo estão chamando de ‘pulo do gato’ do ‘Super-Guedes’. Mas isso terá um custo, o de saciar as cobranças do chefe do Executivo federal. 

 

O presidente Jair Bolsonaro evitou a imprensa nesta quinta-feira (30/1), na saída do Palácio da Alvorada, e, se responder os jornalistas sobre a decisão anunciada pelas redes sociais, vai dizer que a transferência do PPI é uma forma de impulsionar a economia e alavancar a agenda econômica. É o que aposta um interlocutor ouvido pelo Blog, que, também, acredita que ele evitará classificar a decisão como uma retaliação. Mas, nos bastidores, dizem que o presidente não está totalmente satisfeito com o desempenho da estrutura. 

 

Embora reconheça avanços do PPI na Presidência da República, que passou pela Secretaria-Geral e pela Casa Civil, Bolsonaro cobra mais resultados práticos, ou seja, investimentos. Sobretudo os externos. A estrutura é a responsável pelas privatizações, concessões e parcerias do setor público com o privado. Com a transferência do programa para a equipe econômica, ele espera celeridade na arrecadação de receitas extraordinárias com a venda de ativos da União e, mais do que isso: cumprir o discurso de liberal na economia. 

 

O presidente da República não gostou das alfinetadas feitas pelos ex-presidentes do Banco Central Gustavo Franco, Pérsio Arida e Armínio Fraga, que criticaram o andamento da agenda de privatizações e abertura comercial. Arida, coordenador do programa econômico da campanha de Geraldo Alckmin nas eleições de 2018, chegou a dizer em um evento promovido pelo banco Credit Suisse, em São Paulo, que o governo é menos liberal do que parece. Os economistas foram rebatidos por Mattar, que prometeu, por exemplo, a privatização dos Correios para 2021.

 

Abertura comercial

É dentro do arcabouço do PPI que se encontra, em fase de estudos, a privatização dos Correios e de outras estatais. A transferência do programa para a equipe econômica também é vista como uma forma de Guedes cumprir a abertura comercial para concorrentes estrangeiros em licitações públicas. Em Davos, o chefe da equipe econômico sinalizou a adesão do Brasil a um acordo da Organização Mundial do Comércio (OMC) que prevê a abertura de espaço para a participação de empresas estrangeiras em contratações públicas nas áreas de bens, serviços e infraestrutura. 

Com o PPI no Ministério da Economia, técnicos do governo entendem que Guedes terá os instrumentos adequados ao seu comando para agilizar procedimentos burocráticos, articulações e demais trâmites no processo de abertura comercial nas áreas de infraestrutura e desestatização. “Agora, o Guedes vira, de vez, um super-ministro. A modulação jurídica que faltava para ele cumprir o discurso de Davis era ter o PPI”, disse um assessor ao Blog.