Temer e Dilma: mais parecidos do que nunca

Publicado em Economia

O presidente interino, Michel Temer, usa um discurso empolado, recheado de mesóclises, numa estratégia milimetricamente estudada para se diferenciar da confusão mental mostrada por Dilma Rousseff em declarações públicas. Mas quem se der ao trabalho de vasculhar as falas do peemedebista verá o quanto o pensamento dele se assemelha ao da petista quando o tema é economia.

 

Desde que tomou posse, Temer mostrou um apego impressionante pela gastança. Mesmo pregando um ajuste fiscal vigoroso, foi abrindo os cofres para adoçar a boca de quem lhe pudesse causar problemas: servidores públicos, governadores, prefeitos, agricultores. Com a complacência dos investidores, praticamente dobrou o rombo previsto para as contas públicas em 2016.

 

Dilma, quando estava no poder, previa um buraco de R$ 90 bilhões em 2016, apesar de sua disposição para gastar. O interino achou por bem elevar o deficit até R$ 170,5 bilhões para evitar qualquer chateação. Os cofres públicos estão aí para isso mesmo.

 

Pois nesta semana, Temer se aproximou de Dilma como nunca. Nas várias entrevistas que concedeu, disse que pediria à equipe econômica para baixar os juros. Ele acredita que a taxa básica (Selic), que está em 14,25% ao ano, pode cair como num passe de mágica. O mais impressionante é que o peemedebista prometeu redução de juros às vésperas de o Comitê de Política Monetária ((Copom) do Banco Central se reunir.

 

Será que Temer já mandou Ilan Goldfajn e seu time estrelado cortarem a Selic mesmo com a inflação rodando os 9% ao ano? Cadê a autonomia operacional do BC prometida pelo interino? Havia o compromisso de que essa autonomia, com mandatos fixos para os diretores do BC, seria sacramentada por lei. Mas, agora, só o presidente da autoridade monetária fala do projeto de lei que foi defendido por Temer.

 

Dilma baixou os juros a fórceps. Obrigou o então presidente do Banco Cental, Alexandre Tombini, a levar a Selic para o menor nível da história: 7,25% ao ano. Desde então, a inflação só vez subir e se distanciar do centro da meta, de 4,50%. A partir daquele movimento desastroso, a confiança dos agentes econômicos desapareceu e o país foi afundando na recessão.

 

O incrível é qua as mesmas pessoas que gritaram contra Dilma estão caladinhas neste momento. O que Temer tem de diferente que pode dizer, sem levar nenhuma crítica, que mandará a equipe econômica reduzir juros? Essa leniência dos agentes produtivos realmente está muito estranha.

 

Brasília, 9h30min