Única saída

Publicado em Economia

O Palácio do Planalto se diz aliviado com o fato de Geddel Vieira Lima não fazer mais parte do governo de Michel Temer, mas é bom que se ressalte: o país está estarrecido com tantos casos de corrupção envolvendo empresas estatais. Depois do estrago que o PT e o PMDB fizeram na Petrobras, a Polícia Federal mostra o quanto a Caixa Econômica Federal foi usada por esquemas criminosos liderados por Geddel para beneficiar políticos e empresários. O pior é que coisas ainda piores estão por vir. O esquema montando para surrupiar o caixa das companhias controladas pelo Tesouro Nacional foi gigante e está longe do fim.

 

Ciente de que o mundo político continuará a ser varrido pelas investigações da Operação Lava-Jato, os mais próximos aliados de Temer têm feito constantes recomendações para que ele cole sua imagem às ações da equipe econômica. Ainda que o país esteja mergulhado na recessão, boas notícias estão por vir. A decisão do Banco Central de acelerar o corte da taxa básica de juros (Selic) mexeu com o empresariado, que já fez chegar ao Planalto sinais de que investimentos importantes engavetados começarão a ser retirados das gavetas.

 

Não será nenhuma onda gigantesca de anúncios, mas algumas empresas já começam a se movimentar para ver se conseguem entrar na agenda de Temer a fim de que os projetos de investimentos sejam informados conjuntamente. O capital produtivo está disposto a criar condições para que o presidente se fortaleça e consiga levar adiante propostas importantes, como a reforma da Previdência. “Caso o BC continue entregando mais queda de juros, certamente o capital produtivo responderá. É nosso interesse que o governo tenha estabilidade para sairmos dessa crise que ninguém aguenta mais”, diz um importante representante da indústria. “Se a política continuará dando notícias ruins, a economia poderá fazer a diferença”, acrescenta.

 

O mesmo industrial recomenda ao presidente que se antecipe às novas operações da Lava-Jato e afaste do governo todos os que podem lhe dar problemas. “Não dá para vivermos de sobressalto, esperando o próximo que será preso. Isso cria uma instabilidade desnecessária, que só ajuda a afundar a economia”, afirma. Temer, lembra o empresário, está caminhando para completar um ano no poder. “Quando maio chegar, o clima terá que ser outro, de boas perspectivas e não de insegurança. Não pode continuar o temor de se o governo vai ou não ser detonado por denúncias”, emenda.

 

Dois desafios

 

Para Eduardo Velho, economista-chefe da INVX Global, não há escapatória para Temer. Ou ele abraça de vez a economia como forma de sustentação ou será tragado pela turbulência política. “São dois os desafios colocados para o presidente: recuperar o crescimento econômico e aprovar as reformas. Se ele conseguir levar essa agenda adiante, surfará na onda”, frisa. Na avaliação dele, o governo precisa convencer a sociedade de que coisas boas virão nos próximos meses e, em vez de recessão, o país terá a reativação da atividade, que, mais à frente, ajudará a reduzir o desemprego.

 

Velho ressalta que Temer tende a se fortalecer politicamente por meio da economia, mesmo que a crise continue na política. Como o governo não tem controle sobre a Lava-Jato e se sabe que o esquema de corrupção se disseminou pelo governo — a Polícia Federal diz que Geddel, que deixou recentemente a Secretaria de Governo, comandava uma organização criminosa —, o melhor é focar o discurso na queda dos juros e da inflação. “É importante destacar que a vida das pessoas e das empresas ficará mais fácil. Temos que acreditar nisso”, reforça.

 

Aliados de Temer garantem que ele já se deu conta da força que pode obter se a economia realmente der sinal de vida. Tanto o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, quanto o presidente do BC, Ilan Goldfajn, apresentaram ao chefe projeções favoráveis para a atividade a partir do segundo semestre. É possível que a recuperação se dê até mais rápido que o esperado. Contudo, mais do que os números, o que governo quer é a volta da sensação de bem-estar. E nada melhor do que a inflação sob controle para reforçar esse sentimento. “Agora, é preciso que o governo mantenha o foco, não se desvie de sua missão principal: a reforma da Previdência”, conclui Velho.

 

Brasília, 00h22min