Resultado das eleições pode levar dólar para mais de R$ 5, inflação a 7% e derrubar PIB

Publicado em Economia

ANTONIO TEMÓTEO

Nas reuniões semanais que mantém com economistas e analistas de mercado, o presidente do Banco Central (BC), Ilan Goldfajn, tem recebido previsões catastróficas para a economia brasileira caso o candidato eleito para ocupar o Palácio do Planalto, a partir de janeiro de 2019, não tenha compromisso com a continuidade dos ajustes e reformas.

 

A pluralidade de postulantes à Presidência da República e a falta de previsibilidade econômica levam analistas a estimar que o dólar pode disparar para mais R$ 5 logo após as eleições, em outubro, sem um reformista à frente do Executivo. A SPX Capital estima que, caso esse cenário se confirme, a moeda norte-americana pode terminar o ano cotada a R$ 5,30. O Bank of America Merrill Lynch projeta a divisa estrangeira em R$ 5,50, inflação em 7%, juros em dois dígitos e retração do Produto Interno Bruto (PIB).

 

O estrategista Ronaldo Patah, do UBS Wealth Management, explica que a causa da turbulência atual é o desequilíbrio fiscal no governo, o que significa que não há espaço para cortar impostos ou evitar, por exemplo, o aumento drástico nos preços do diesel e do gás que desencadearam a greve dos caminhoneiros no mês passado. “Em nossa opinião, esta situação só será corrigida quando a legislatura aprovar o projeto de reforma da Previdência, que, provavelmente, não será votada até o começo do ano que vem”, destaca.

 

Como resultado de todo o imbróglio político e da greve dos caminhoneiros, ele avalia que as chances de um candidato reformista passar para o segundo turno da eleição presidencial são menores do que antes da paralisação. “Nosso cenário base, agora, tem 60% de chances de que o próximo presidente seja quase reformista, ou alguém que não tenha uma forte convicção sobre as reformas que devem ser feitas para consertar a economia”, afirma.

 

Patah adverte que as chances de um candidato antirreformista alcançar o segundo turno da eleição cresceram. “Nossa hipótese básica era de que um reformista fosse eleito. Agora, as maiores chances são de um ‘quase reformista’. Adicionalmente, a ameaça de um antirreformista estar no segundo turno aumentou, já que a recuperação econômica tem sido frustrante e o foco dos eleitores é reduzir a corrupção e a violência”, comenta.

 

Riscos

 

O presidente do BC tem evitado se manifestar publicamente sobre os efeitos da incerteza eleitoral na economia e no preço dos ativos. Após muita insistência, ele se limitou a dizer durante a divulgação do Relatório Trimestral de Inflação (RTI), na semana passada, que as projeções para a inflação que constam do documento levam em conta a continuidade da agenda de reformas e ajustes.

 

A prudência de Ilan neste momento é necessária para evitar ainda mais volatilidade nos mercados. Apesar disso, o chefe da autoridade monetária sinaliza, na prática, que a eleição de um candidato sem compromisso com reformas desancorará as expectativas para a inflação e que os investidores cobrarão um prêmio de risco maior para financiar a dívida pública brasileira.

 

Sem dúvida, o principal risco para a recuperação da economia brasileira é o nível de imprevisibilidade do processo eleitoral. Diante desse cenário, a tendência é de volatilidade ao longo dos próximos quatro meses. O BC e o Tesouro Nacional têm sinalizado que atuarão para garantir a boa funcionalidade dos mercados, mas não terão força para garantir estabilidade se um candidato antirreformas for eleito.

 

E o nível de volatilidade já assusta o mercado. Apesar de ter fechado a terça-feira (03/07) em queda de 0,43%, vendido a R$ 3,896, o dólar já acumula alta de superior a 17% no ano. A Bolsa de Valores de São Paulo (B3), que já ultrapassou os 80 mil pontos, corre o risco de desabar para menos de 50 mil, alertam analistas. Toda essa incerteza tem se traduzido na elevação do risco Brasil. Os Credit Default Swaps (CDS) brasileiros de cinco anos, uma espécie de seguro contra calotes, já estão em 268 pontos, nível considerado alto.

 

Durante o governo Dilma Rousseff, a taxa superou os 500 pontos. Durante a gestão de Michel Temer, chegou a cair para 140. A elevação de quase 130 pontos indica que os próximos meses reservarão fortes emoções para os investidores. As urnas definirão o futuro do país e as escolhas se dividem entre a volta das políticas que levaram o país para o atoleiro e a opção por uma agenda de recuperação gradual.

 

Brasília, 06h24min