Para empresários e investidores, o melhor é Temer sair

Publicado em Economia

O presidente Michel Temer se movimentou ativamente nos últimos dias para obter apoio entre empresários e investidores. Em troca, reforçou o compromisso de aprovar as reformas trabalhista e da Previdência assim que possível e, sobretudo, de manter intacta a política econômica. Num primeiro momento, os donos do dinheiro decidiram dar um voto de confiança ao peemedebista, abatido pelas delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista. Agora, porém, querem que Temer deixe o governo o mais rápido que puder, sob a alegação de que, com ele no cargo, o país afundará novamente na recessão.

 

Na avaliação de empresários e investidores, o presidente não tem mais força política para levar adiante reformas tão importantes e impopulares. A governabilidade se desfez. Eles acreditam que Temer deve se render à realidade e renunciar depois de fechado um acordão entre lideranças dos principais partidos políticos. As negociações para a saída do presidente envolveriam um compromisso de aprovação das reformas até novembro. É o prazo máximo, no entender dos donos do dinheiro, que o país aguenta sem mergulhar na desordem econômica.

 

Para empresários e investidores, o nome escolhido como substituto de Temer por meio de uma eleição indireta deve ter amplo apoio no Congresso. De nada adiantará mudar o comando do país se o futuro presidente não tiver força para manter a economia nos eixos com a aprovação das reformas. Eles ressaltam que não há preferência por um dos nomes que estão sendo ventilados para suceder Temer. Estão na lista o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o ex-ministro da Justiça Nelson Jobim, o senador Tasso Jereissati e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia.

 

A pressa dos donos do dinheiro se explica. Desde que as delações dos irmãos Batista se tornaram públicas, há uma semana, a destruição de riqueza foi brutal. Estima-se que, somente nos fundos multimercados, as perdas chegaram a quase R$ 40 bilhões. O valor de mercado das empresas negociadas em bolsa encolheu mais de R$ 200 bilhões. Os juros futuros, que servem de parâmetro para a formação do custo do crédito, dispararam. A incerteza voltou com tudo.

 

Sem barulho

 

Empresários e investidores já fizeram chegar ao Palácio do Planalto o desembarque do apoio a Temer. A ordem, porém, é não fazer barulho para não tornar o clima ainda mais complicado. De qualquer forma, instituições como a Confederação Nacional da Indústria (CNI) já começaram a soltar manifestos públicos destacando que “o Brasil não pode parar”. A entidade defende a continuidade das reformas trabalhista, previdenciária e tributária, mas, em nenhum momento, cita o nome do presidente da República.

 

Na opinião dos donos do dinheiro, é vital que a troca de governo seja feita de acordo com a Constituição. Essa visão é ressaltada pela CNI. “Temos a convicção de que os poderes da República serão capazes de solucionar a atual turbulência com serenidade, equilíbrio e espírito público, em estreita observância da Constituição Federal”. A Confederação acrescenta: “A indústria brasileira entende que não pode haver retrocesso nos avanços conquistados duramente nos últimos meses”.

 

Para empresários e investidores, mesmo com toda turbulência política na qual o Brasil está mergulhado, há sinais animadores na economia. A inflação caiu fortemente. O IPCA-15, prévia do índice oficial de inflação, atingiu, em maio, 0,24%, o menor nível para o mês desde 2000. Em 12 meses, a taxa ficou em 3,77%, bem abaixo do centro da meta, de 4,5%, perseguida pelo Banco Central. Com isso, os juros continuarão caindo. No fim do mês, é possível que o Banco Central reduza a taxa básica (Selic) entre um e 1,25 ponto percentual. Não é só. A produção industrial e as vendas do varejo mostram reação.

 

“É por isso que precisamos resolver o impasse político rapidamente. De nada adiantará mantermos no poder um presidente que já não consegue governar. Todo o tempo disponível dele está sendo usado para se defender de denúncias de irregularidades”, diz um executivo de um dos maiores bancos do país. Ele ressalta que praticamente todos os auxiliares mais próximos de Temer foram pegos pela Justiça.

 

Os ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria de Governo) estão na mira da Lava-Jato. O ex-assessor especial Rodrigo Rocha Loures foi pego com uma mala com quase R$ 500 mil pagos em propina pela JBS. Ontem, outro assessor especial, Tadeu Filipelli, ex-vice-governador do Distrito Federal, foi preso, acusado de participação no esquema que resultou no superfaturamento de R$ 900 milhões do Estádio Mané Garrincha. “É denúncia demais na antessala do gabinete presidencial”, acrescenta um empresário do setor de metalurgia.

 

Votos necessários

 

O desejo de que a crise se resolva rápido, se possível até 6 de junho, quando o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) deve julgar a chapa Dilma-Temer, também impera entre integrantes da equipe econômica. Oficialmente, os técnicos dizem que trabalham com a permanência de Temer no poder, mas, nos bastidores, todos reconhecem que uma mudança no poder, por meio de um grande acordo político, pode facilitar a aprovação das reformas, especialmente a da Previdência Social.

 

Para técnicos da equipe econômica, a base atual do governo não garante nem a metade dos votos mínimos (308) necessários para a aprovação de mudanças no sistema previdenciário. Ressaltam ainda que o apoio político a Temer se esfacelou. Até a delação dos donos da JBS, o Planalto já havia contabilizado pelo menos 320 votos para sacramentar, em dois turnos na Câmara, a reforma da Previdência. “Agora, estamos num buraco escuro, que ninguém sabe aonde vai dar”, diz um dos técnicos. A fatura da incerteza, mais uma vez, será paga pelo lado mais fraco do sistema, a população.

 

Brasília, 06h30min