O DESESPERO BATE À PORTA

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Mais do que o nome para o Ministério da Fazenda, o que os investidores querem saber é o tamanho da força política que o vice-presidente da República, Michel Temer, terá caso o Senado aprove o impeachment da presidente Dilma Rousseff. De nada adiantará a escolha de uma mente brilhante para comandar a equipe econômica se o peemedebista não tiver uma base sólida no Congresso para aprovar as medidas necessárias para tirar o país do atoleiro.

 

Temer se vangloria de ser um hábil articulador político, mas precisará de um jogo de cintura impressionante para conquistar votos suficientes no Congresso. O rateio do possível governo terá que ser muito bem desenhado para não haver dissidências que possam resultar em derrota. Bastará o primeiro baque para que a desconfiança dos agentes econômicos retorne com tudo. A euforia comedida dos mercados reflete exatamente esse temor. Temer pode repetir Dilma.

 

Não há dúvidas de que os erros em série da petista quebraram o país. Mas o Congresso teve papel preponderante para transformar o Brasil em terra arrasada ao não aprovar projetos que poderiam amenizar o desarranjo fiscal. Pior, apresentou uma série de propostas, batizadas de pautas-bomba, que acabaram por turvar de vez o horizonte. O resultado dessa equação perversa está aí: 10,4 milhões de desempregados e ao menos dois anos seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB).

 

Para os investidores mais céticos, Temer é a própria indefinição. Ainda que ele tenha chances concretas de chegar ao Palácio do Planalto nas próximas semanas, pode ser cassado, com Dilma, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Há a possibilidade de, passados os 180 dias estipulados para a votação final do impeachment, a petista voltar ao poder. Também está no radar uma grande denúncia envolvendo o vice na corrupção que devastou a Petrobras e foi desvendada pela Operação Lava-Jato.

 

Não é só. Se assumir a Presidência da República, o peemedebista terá uma enorme rejeição popular. Pela mais recente pesquisa Ibope, apenas 8% da população o avalizam para suceder Dilma. O mesmo levantamento mostra que há um desejo latente dos brasileiros — 62% — por eleições gerais em outubro próximo. Mas não há um candidato capaz de aglutinar apoio, nem neste ano, nem em 2018.

 

Desejo e realidade

 

A falta de um nome potente para ocupar o vácuo num país em que os políticos estão desacreditados é, por sinal, o que move os dois principais pretendentes ao Ministério da Fazenda de Temer. Henrique Meirelles, do PSD, e José Serra, do PSDB, têm grandes ambições políticas. Os dois acreditam que, se conseguirem retirar o Brasil do limbo, retomando o crescimento econômico, poderão se transformar no azarão que será premiado pelas urnas.

 

Tantas dúvidas explicitam o tamanho do abismo no qual o país mergulhou. Para qualquer lado que se olhe, os destroços estão esparramados. A política se transformou em um teatro de absurdos. Na economia, famílias e empresas estão quebradas. A ética sumiu há muito tempo e o deboche se tornou rotina. Não há como acreditar que Temer seja a pessoa mais correta para resgatar uma Nação. Portanto, só nos resta o desespero.

 

Brasília, 07h13min