presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, e o ministro da Economia, Paulo Guedes Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/Agência Brasil

Mercado, que apoia o governo, já vê crescimento de apenas 1,5% neste ano

Publicado em Economia

Apesar de todo o apoio que vem demonstrando ao governo, o mercado financeiro já admite que o crescimento deste ano será bem menor do que previa — e gostaria. Bancos como o BNP Paribas falam que o Produto Interno Bruto (PIB) de 2020 crescerá apenas 1,5%, com viés de baixa.

 

Os analistas mais pés no chão admitem que o governo está metendo os pés pelas mãos ao criar uma crise atrás da outra. Em vez de se concentrar em uma agenda positiva, que motive o empresariado a tirar das gavetas projetos para ampliação de fábricas e de empregos, o governo provoca tumulto.

 

O clima de hostilidade liderado pelo presidente Jair Bolsonaro tem incomodado tanto o capital, que nem mesmo o ministro da Economia, Paulo Guedes, visto como esteio da estabilidade, está sendo poupado de críticas pelo empresariado. Para eles, Guedes se deixou dominar por sua visão ideológica.

 

Realidade

 

Entre os economistas — pelo menos entre os que não se deixam enganar —, o governo praticamente está enterrando 2020. A perspectiva era de que esse primeiro trimestre do ano fosse de grandes anúncios de investimentos, mas o que se está vendo é um clima de perplexidade e de adiamento de projetos.

 

“O discurso governamental está beligerante demais. A percepção que se formou em boa parte dos empresários é que Bolsonaro decidiu governar apenas para os eleitores mais radicais, que lhe garantem cerca de 20% dos votos”, diz o presidente de uma das maiores empresas do país.

 

Tanto é que os ministros mais ideológicos, como os da Educação (Abrahan Weintraub), do Meio Ambiente (Ricardo Salles) e dos Direitos Humanos (Damares Alves), são considerados intocáveis, pois conseguem movimentar esse eleitorado radical nas redes sociais.

 

Radicalismo

 

A preocupação de empresários e economistas é compreensível. Nesse contexto de tanto radicalismo fica difícil levar adiante a agenda econômica. O Banco Central tem tentado furar essa bolha do radicalismo. Reduziu a taxa básica de juros (Selic) ao menor nível da história, 4,25% ao ano, e vem estimulando o barateamento do crédito por meio de vários instrumentos.

 

Mas nada do que tem feito o BC parece surtir efeito para reativar o PIB. Pelo contrário. Semana após semanas, os analistas jogam para baixo as estimativas para o crescimento econômico. O quadro é tão dramático que o mercado voltou a cogitar novos cortes na Selic, alegando que a atividade precisa de mais estímulo.

 

Os defensores de juros mais baixos ressalvam que a inflação está no chão e que, mesmo com a disparada do dólar, que encosta no R$ 4,38, novo recorde, não há risco de o custo de vida pressionar o Banco Central. Enfim, o mesmo governo que prometeu impulsionar a economia e criar mais empregos é o mesmo que está contribuindo para derrubar a produção e o consumo.

 

Seria de bom tom, portanto, que Bolsonaro e seus filhos, especialmente o deputado Eduardo, tomassem juízo. Por enquanto, o governo tem o aval dos agentes econômicos. Mas esse apoio pode virar pó rapidamente. E não tem governo que se segure sem o suporte dos donos do dinheiro.

 

Brasília, 13h04min