FHC diz estar triste por Aécio e Azeredo, assim como ficou por Lula

Publicado em Economia

Nova York – A sobrevivência do PSDB vai depender da mensagem que o partido passar para o povo, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em rápida entrevista ao Correio na sede da Organização das Nações Unidas (ONU). Na avaliação dele, a legenda está enfrentando os mesmos problemas dos demais partidos, que foram açoitados por denúncias de corrupção. Não por acaso, acrescentou ele, o Brasil vive um momento muito ruim na política. Há um descrédito generalizado da população em relação aos políticos, provocando uma fragmentação que compromete o futuro o país.

 

Fernando Henrique reconheceu que a iminente prisão de Eduardo Azeredo, ex-governador de Minas Gerais, acusado de liderar o mensalão mineiro, e a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) de tornar o senador Aécio Neves réu no processo em que ele é acusado de ter recebido propina do empresário Joesley Batista são notícias péssimas para o PSDB. E se diz triste. “Vi com tristeza tudo isso, como vi com o Lula (preso na sede da Polícia Federal em Curitiba). Mas quem vai decidir (sobre essas questões) é a Justiça”, afirmou.

 

O ex-presidente, que acabou de lançar o livro Crise e Reinvenção da Política no Brasil, não escondeu a preocupação com o desgaste dos partidos junto à população e com a divisão do país. “O Brasil não vive um bom momento. E isso tem a ver mais com a política do que com a economia. As eleições estão a caminho, precisamos buscar forças que sejam capazes de unir o país, porque, desse jeito, não se vai longe”, ressaltou. “Essa divisão vai acabar não só prejudicando o país, (vai prejudicar) o povo, que é o mais importante”, frisou.

 

Credibilidade

 

Antes, porém, de puxar um movimento de união pelo país, o ex-presidente sabe que terá que pacificar o PSDB, que está totalmente dividido. Em São Paulo, onde reside a força dos tucanos, o partido está rachado. Tanto que o pré-candidato da legenda à Presidência da República, Geraldo Alckmin, terá que subir a dois palanques, um do atual governador, Márcio França, do PSB, seu fiel escudeiro, outro, do peessedebista João Dória, que largou a prefeitura para disputar o governo.

 

“Se depender de mim, vamos unir o PSDB com o povo ao redor de temas simples, e que voltem a dar credibilidade aos governos”, assinalou Fernando Henrique. “O futuro do PSDB está como o de todos os partidos, vai depender da mensagem que passar para o povo”, acrescentou. Para ele, o que falta ao PSDB e a todas as legendas é confiança. Os eleitores precisam confiar que os políticos, em sua maioria, estão dispostos a trabalhar em favor da sociedade.

 

Prestes a completar 87 anos (em 18 de junho), o ex-presidente disse que o mundo está em grandes transformações, e o Brasil não está de fora desse processo. Ao descrever esse mundo novo, ele citou o historiador marxista britânico Eric Hobsbawm. “Vivemos num mundo com grande potencial econômico, com a tecnologia mudando as relações entre as pessoas, mas não sabemos para onde esse mundo vai”, destacou.

 

Como ele descreveu em seu mais recente livro, a globalização enfraqueceu organizações como o Estado e os partidos e ampliou a autonomia do indivíduo. Isso abriu um fosso entre as aspirações de uma sociedade dinamizada e um sistema representativo arcaico. Para desatar esse nó, recomendou o ex-presidente, será preciso união para reformar o ambiente partidário de forma a reconectá-lo à vida dos cidadãos e a reforçar a democracia.

 

Nova York, 22h13min