Exército virou o “posto Ipiranga” do Brasil. Serve para tudo

Publicado em Economia

DENISE ROTHENBURG

 

A ida do presidente Michel Temer à reunião do Conselho Militar de Defesa não foi um mero convescote, como quis fazer crer o governo, e, sim, uma forma de tentar acalmar as Forças Armadas. Há um desconforto generalizado entre os militares com o fato de o Exército ser usado para tudo, de construção de rodovias e pacificação de morros a até acolhimento aos venezuelanos. O pessoal da ativa é mais fechado ao se referir a esse tema. Porém, consideram que não dá para desvirtuar o papel das Forças Armadas, como acabou desvirtuado e virou um sucesso de mídia a tal propaganda do “passa no posto Ipiranga”.

 

Os militares da reserva, que têm mais liberdade para dizer o que pensam, não escondem a suas preocupações. Do alto de quem comandou o Estado Maior Conjunto das Forças Armadas nos tempos de ocupação das favelas do Alemão, em 2010, e, mais tarde, do complexo da Maré, o general José Carlos De Nardi alerta: “Estão desvirtuando o emprego do Exército. Para o momento, a intervenção foi um mal necessário, mas não é a solução definitiva. E tem que dar os meios para atuar, sociais e jurídicos”, diz o general.

 

A receita do general I

 

O ex-comandante do EMCFA general José Carlos De Nardi lembra que, no período em que as forças militares ocuparam as favelas do Alemão, o então ministro da Defesa, Nelson Jobim, montou um local na base do morro com delegado e juiz de plantão apoiando as ações. “O apoio político o presidente já deu, que foi decretar a intervenção. Agora, falta o jurídico”, afirma.

 

A receita do general II

 

O ex-comandante De Nardi lembra que, “para dar certo, é preciso algo mais. No Alemão, em 2010, ficamos um ano e pouco, depois, ficamos mais tempo na Maré. Saímos e, com o tempo, voltou ao que era. Sem a presença do Estado, apoio da Justiça e do governo do estado, elaborando projetos sociais, dentro de um ano, seis meses, há o risco de voltar a ser o que era antes da intervenção”, alerta o general gaúcho, que hoje acompanha a intervenção à distância, de seu estado natal.

 

E Roraima, hein?

 

De Nardi não esconde sua insatisfação com o uso do Exército no apoio aos venezuelanos: “O que o exército tem a ver com isso? Será que os serviços sociais e Relações Exteriores não poderiam cuidar dos venezuelanos?”

 

Brasília, 08h54min