Equipe econômica prevê turbulências mesmo que TSE mantenha Temer

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A equipe econômica está tentando segurar a confiança de empresários e investidores no gogó, mas sabe que não será fácil a travessia nos próximos meses, mesmo que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) opte por manter o mandato de Michel Temer — o que parecia bastante provável até ontem. A perspectiva é de que o governo seja atingido por novas denúncias, fragilizando ainda mais a base política que, até agora, vem conseguindo manter Temer no poder. Fosse o presidente hostil ao Congresso como era Dilma Rousseff, ele já teria caído.

Tanto o Ministério da Fazenda quanto o do Planejamento têm números que ainda sustentam o discurso de que a economia, mesmo de forma tímida, está se recuperando. Os técnicos das duas equipes reconhecem que o baque provocado pelas delações dos irmãos Joesley e Wesley Batista, do grupo JBS, foi grande, mas o humor dos agentes econômicos não foi totalmente contaminado pelo pessimismo. Boa parte dos empresários e dos investidores acredita que ainda é possível segurar o tranco do crescimento e impedir que o país mergulhe novamente na recessão.

Na visão de técnicos do governo, diante da força dos canhões disparados contra Temer, já era para a bolsa de valores ter voltado aos 50 mil pontos e para o dólar estar rodando próximo dos R$ 3,50. Contudo, mesmo capengando, o Ibovespa, principal índice de lucratividade da Bolsa de Valores de São Paulo, se mantém acima dos 60 mil pontos e a moeda norte-americana, girando na casa dos R$ 3,25. “Estamos diante da possibilidade de mais um presidente ser deposto, mas não vemos pânico nos mercados. Isso mostra que há uma certa confiança em fundamentos mais sólidos da economia”, diz um dos técnicos.

Reforma trabalhista

Dentro do governo, pelo menos entre o pessoal menos afeito à política, muitos já se darão por satisfeitos se o Congresso aprovar a reforma trabalhista ainda neste mês. Essa também é a percepção entre os empresários. Ainda que eles reconheçam os impactos positivos da reforma da Previdência para as contas públicas e a garantia da solvência do país, estão mais focados no curto prazo. Para o empresariado, as mudanças na lei que rege o mercado de trabalho terão efeitos quase que imediatos na economia, pois haverá uma revolução nas negociações entre empregados e patrões. É o que importa agora.

“Vamos ser sinceros: qualquer conquista do governo no Congresso neste momento será motivo de comemoração. O ideal seria que todo o planejamento feito até 17 de maio, quando estourou as delações dos donos da JBS, fosse mantido. Mas tudo virou de cabeça para baixo. Se conseguirmos a reforma trabalhista, já nos daremos por satisfeitos”, diz um ministro que tem dado um bom suporte a Temer. Na avaliação dele, o importante é o governo convencer os agentes econômicos de que o ajuste fiscal será perseguido independentemente da aprovação ou não da reforma da Previdência.

O discurso está pronto no caso de adiamento das mudanças no sistema previdenciário. A dívida pública não explodirá, o Brasil não dará calote, há um teto de gastos que impede qualquer loucura nas finanças do país e a equipe econômica continuará no governo mesmo que Temer caia. “Deixaremos claro, porém, que a retomada do crescimento será mais lenta”, acrescenta o mesmo ministro. O dólar, que podia estar abaixo de R$ 3, ficará mais caro. A taxa básica de juros (Selic), que testaria os 7%, cairá bem menos. Será a fatura a ser arcada pela economia.

Pragmatismo

Apesar do conformismo, a equipe econômica lamenta o fato de o Brasil não poder tirar proveito das condições mais favoráveis oferecidas pelo mundo. Como os Estados Unidos crescerão menos que o previsto, os juros subirão mais lentamente, mantendo recursos em países emergentes como o Brasil. A desaceleração da China, por sua vez, foi menor do que muitos temiam, mantendo os preços das commodities em patamares que favorecem os exportadores brasileiros. “Enfim, em outra circunstância, sem uma crise política tão grave, o país estaria começando a surfar e a reforma da Previdência seria mais fácil de ser aprovada”, afirma um técnico.

Ele chama a atenção ainda para a disposição dos estrangeiros de encarar o risco Brasil. Os gringos não veem possibilidade de quebradeira no sistema financeiro, mesmo com um possível calote da JBS, nem o abandono da Fazenda por Meirelles e do Banco Central por Ilan Goldfajn. Na ponta do lápis, os investidores de fora acreditam que os juros reais (que descontam a inflação) na casa de 6% ao ano compensam o estresse provocado pela política. Eles não conseguem esse ganho em nenhum país emergente com situação fiscal melhor, como, por exemplo, o Chile. Não veem também perspectiva de crescimento como a sinalizada pelo Brasil quando as reformas saírem e os projetos de infraestrutura se tornarem realidade.

Para os estrangeiros, se a reforma da Previdência não sair neste governo, virá no próximo, a partir de 2019. As regras aprovadas, certamente, serão mais duras para os trabalhadores. Mas será o preço a pagar. Esse pragmatismo, porém, assusta. O Brasil se tornou uma montanha-russa sustentada em um castelo de areia. A ruína sempre é uma possibilidade real.

Brasília, 06h30min