A enorme diferença entre desejo e realidade

Publicado em Economia

A equipe econômica, em sua maioria, está convencida de que o Banco Central levará a taxa básica de juros (Selic) para 6,75% ao ano até janeiro de 2018. Isso implica dizer que, na reunião de dezembro do Comitê de Política Monetária (Copom), os juros cairão mais 0,5 ponto percentual, para 7%, e, no mês seguinte, o corte será de 0,25 ponto. Técnicos do governo acreditam que o time comandado por Ilan Goldfajn testará juros abaixo de 7%, mesmo que, mais adiante, seja obrigado a elevar a Selic para evitar um assanhamento da inflação.

 

Uma questão, porém, está ficando de fora do debate entre os que visualizam um quadro tão otimista para os juros: a possibilidade de o BC enfrentar o que muitos chamam de pressão de demanda. Ou seja, o consumo das famílias, que está puxando a retomada do Produto Interno Bruto (PIB), continuar crescendo, mas os investimentos produtivos ficarem empacados. Isso implicará em uma oferta menor de mercadorias, incentivando a remarcação de preços e, por consequência, os índices de inflação. A ameaça de descompasso entre demanda e oferta é real.

 

Não por acaso, o governo vai difundir um discurso sobre a necessidade de retomada dos investimentos. O argumento que será usado tanto pelo presidente Michel Temer quanto pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, é o de que o momento é de tirar projetos da gaveta para ampliação de fábricas, pois as bases para o avanço do consumo estão consolidadas. A inflação girando em torno de 3% deu uma folga de R$ 7 bilhões no orçamento das famílias somente neste ano. Os juros estão caindo sistematicamente e as famílias reduziram o nível de endividamento. “Não é pouca coisa”, diz um técnico.

 

Incertezas

 

O governo reconhece, porém, que, para retomarem os investimentos, as empresas precisam resolver dois problemas: a renegociação de dívidas e a redução da capacidade ociosa. No caso do endividamento, dizem técnicos da equipe econômica, o refinanciamento dos quase R$ 500 bilhões que estavam afogando o setor produtivo já está quase no fim. “Falta uma pequena parcela desse montante”, diz um integrante do governo. Quanto ao baixo nível de utilização da capacidade instalada da indústria, é possível que, já no fim do primeiro trimestre de 2018, o saldo seja bem melhor.

 

“Estamos confiantes de que os investimentos voltarão antes do que a maioria dos economistas acredita”, afirma um assessor muito próximo de Temer. “Muitos diziam que o emprego seria a última variável a se recuperar quando a economia voltasse a crescer. Mas estamos vendo a reação do mercado de trabalho ocorrendo junto com a retomada do PIB. Acreditamos que a dinâmica da economia mudou. E os investimentos vão despontar logo”, frisa o mesmo auxiliar presidencial. Ele diz, ainda, que, com os leilões na área de infraestrutura que o governo vem fazendo, os empresários verão que o momento não é para ficar parado. Não há porque esperar o crescimento do PIB estar a todo vapor para dar início a projetos de expansão dos negócios.

 

Os mais céticos do governo alertam que é preciso cautela, pois foram erros de avaliação que empurraram o país para a mais grave recessão da história. Para esse grupo, não há dúvidas de que a recuperação da economia é para valer, mas o processo será mais lento do que o desejado. Há muitas incertezas no horizonte, sobretudo em relação ao que emergirá das urnas nas eleições de 2018. Também não se sabe até que ponto Temer terá forças para aprovar as reformas que o país tanto precisa, como a da Previdência Social.

 

“Estamos saindo de uma crise gravíssima na economia, contudo, a instabilidade política continua. Isso está no radar do empresariado. Não conheço nenhum empresário que esteja disposto a rasgar dinheiro. Só se voltará a investir quando se tiver a certeza de que haverá para quem vender o que for produzido a mais”, destaca um importante técnico da Esplanada.

 

Brasília, 14h16min