Empresas que respeitam profissionais LGBT têm mais chance de sucesso

Publicado em Economia

POR HAMILTON FERRARI E MARLLA SABINO

 

Estudo publicado na revista Management Science, feito por dois professores asiáticos, analisou quase cinco mil empresas dos Estados Unidos e concluiu que as corporações que adotam regras que protegem profissionais lésbicas, gays, bissexuais e transgêneros (LGBT) têm melhor rendimento do ponto de vista da inovação.

 

Os pesquisadores Huasheng Gao, da Nanyang Business School, de Cingapura, e Wei Zhang, da Universidade de Finanças e Economia de Xangai, observaram que essas companhias apresentaram aumento de 8% nos registros de patentes, em comparação com empresas e estados menos favoráveis a profissionais LGBT.

 

Os resultados são mais evidentes em dois casos: companhias de setores que dependem de capital humano e em estados que registram grande população de LGBT. A melhora dos números fica mais visível após dois anos da adoção das regras contra discriminação. Os autores ressaltam, ainda, que o posicionamento mais liberal atrai mais profissionais LGBT para os locais mais amigáveis e, ao mesmo tempo, os afasta daqueles com posição contrária.

 

O professor do Departamento de Administração da Universidade de Brasília (UnB) Jorge Pinho diz que qualquer tipo de discriminação é prejudicial às empresas, pois limita o número de pessoas que podem ser contratadas. “Quanto mais aberto for o leque de opções para talentos, maior vai ser a oportunidade de êxito. Mas a tendência de associar a opção sexual com inovação é um exagero”, avalia.

 

Criatividade

 

Segundo os pesquisadores, profissionais com postura “pró-LGBT” tendem a apresentar mais características relacionadas à criatividade, como nível educacional alto, mente aberta, disposição maior de assumir riscos e um background mais diversificado. Já aqueles com atitude discriminatória tendem a ser mais conservadores.

 

A cabeleireira Gabriela Almeida sente na pele essa realidade. Transsexual, ela diz que há muita dificuldade em conseguir emprego. “Não importa o quão bom você é, as pessoas não estão preparadas para nos aceitar ainda”, desabafa. Apesar de trabalhar na mesma empresa há quatro anos e de se sentir à vontade no ambiente, ela conta que algumas clientes não sabem como lidar com a situação. “Tem gente que se refere a mim por um pronome masculino pelo simples fato da voz não ser tão suave”, reclama.

 

Gabriela acredita que se sentir bem no ambiente de trabalho afeta positivamente em seu desempenho profissional. “Se você sabe que está num local onde as pessoas não te tratam bem, que motivação você tem pra continuar ali?”, questiona.

 

A diretora de diversidade da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH), Jorgete Lemos, destaca que a valorização do profissional e a liberdade no ambiente de trabalho está associada à produtividade. “O grupo LGBT é de pessoas que querem se libertar do menosprezo com resultados positivos. Todos têm mais vontade de mostrar a competência, e isso impulsiona a produtividade”, pondera.

 

Para Jorgete,  as empresas que criam oportunidades de desenvolvimento no mercado de trabalho tendem a ganhar contribuições diversificadas e melhoram o rendimento. “Se a empresa não se abre para visões de pessoas diferentes, com novos valores, terá sempre o mesmo resultado e os mesmos pensamentos”, opina. “Não há vantagens ou desvantagens na opção sexual da pessoa. Cada um tem que ter a liberdade de optar pelo que gosta e quer. Qualquer coisa que tem a intenção de coibir acaba sendo prejudicial”, complementa o professor Pinho.

 

Preconceito

 

No Brasil, a população LGBT ainda enfrenta muito preconceito no mercado de trabalho. Quase 20% das empresas se recusariam a contratar um profissional homossexual por receio que a sua imagem seja associada a eles. Pesquisa, realizada no ano passado pela empresa de recrutamento Elancers, com 10 mil empregadores, revelou que 7% das companhias não aceitariam pessoas gays de “modo algum”, e 11% considerariam a contratação apenas se o candidato não pudesse chegar a um cargo mais visível, como o nível executivo. A legislação trabalhista brasileira não prevê artigos que proíba, especificamente, a discriminação por orientação sexual ou identidade de gênero.

 

Brasília, 17h34min