Do que o Banco Central tem medo?

Publicado em Economia

Os analistas que se debruçaram sobre o comunicado do Banco Central após a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de cortar a taxa básica de juros (Selic) em 0,75 ponto percentual, para 12,25% ao ano, estranharam uma omissão importante no documento.

 

Desde que a diretoria comandada por Ilan Goldfajn tomou posse, o BC sempre se preocupou em apresentar, no comunicado pós-Copom, o cenário de referência para a inflação que a instituição usa para tomar decisões de política monetária. Estranhamente, no documento de hoje, essa informação relevante desapareceu sem qualquer explicação oficial.

 

Por meio de sua assessoria de imprensa, o BC informa que o cenário de referência deixou de ser relevante porque os juros não são mais fixos. As projeções do cenário de referência na reunião de hoje levaram em conta juros fixos de 13% ao ano. O mais importante agora, segundo o BC, é o cenário de mercado.

 

Ora, nas últimas três decisões do Copom, os cenários de referência foram construídos com juros fixos e, nem por isso, o BC escondeu as informações. De repente, do nada, o BC descobre que o seu cenário de referência não é mais importante para as decisões sobre a taxa Selic.

 

Outra coisa: se o cenário de mercado passa a ser o mais relevante para a decisão de política monetária, o BC poderia ter cortado os juros para 9% ou 9,5% hoje, já que, com essas taxas, a inflação ficaria abaixo do centro da meta de 4,5%. No cenário do mercado, a projeção é de um Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de 4,2% para este ano e ao redor de 4,5% em 2018.

 

O BC garante que a transparência na comunicação é tudo para que a credibilidade da política monetária seja mantida. Mas por que então omitir o cenário de referência na nota pós-Copom? Certamente, porque, no cenário de referência, as projeções de inflação estão muito abaixo do centro da meta, o que justificaria o Copom ter sido mais ousado e cortado os juros em um ponto percentual, para 12% ao ano.

 

O BC não quis assumir publicamente a sua covardia.

 

Brasília, 19h30min