Crescimento depende de avanço de reformas, segundo executivos da Maersk

Publicado em Economia

ROSANA HESSEL

O comércio brasileiro iniciou 2019 em ritmo mais fraco do que o de 2018, de acordo com dados da gigante da logística e de navegação marítima Maersk, que acaba de revisar suas projeções para este ano. A companhia reduziu de 5% para 2% a previsão de crescimento da corrente de comércio brasileira feita em novembro e acredita que um desempenho melhor dependerá do avanço da agenda de reformas do governo de Jair Bolsonaro.

 

Antonio Dominguez, diretor geral da Maersk para a Costa Leste da América do Sul reforçou que as reformas são necessárias para que os investimentos, principalmente em infraestrutura, sejam retomados em ritmo mais forte. “A reforma da Previdência, que foi apresentada pelo novo governo, precisa avançar, mas também serão necessárias outras reformas, como a tributária, para o que o emprego volte a crescer e para a retomada da economia”, explicou Dominguez. “Todos os investidores estão de olho no Brasil, esperando a aprovação da reforma da Previdência. Sem ela, o capital não vai voltar. A regra do jogo é clara”, afirmou.

 


O executivo contou que as projeções de 2016 foram mantidas. “Há três anos, falamos que o Brasil voltaria ao patamar de pré-crise de 2014 em 2020, e mantivemos essa previsão. Estamos em compasso de espera, porque o país ainda precisa aprovar muitas reformas”, destacou. Segundo ele, o compasso de espera dos investidores persiste até quando houver uma maior clareza sobre a condução da política econômica do novo governo e seus efeitos em relação ao encaminhamento das reformas. “É preciso ter paciência, pois o cenário externo não é muito favorável neste ano por conta das tensões comerciais entre Estados Unidos e China. Mas o Brasil tem muitas oportunidades para se desenvolver e crescer”, afirmou.

 

“As exportações brasileiras continuam crescendo, embora pouco, por conta da desvalorização da moeda. O aspecto maior da falta de crescimento maior está relacionado da ausência de regras claras e da baixa confiança do consumidor”, destacou o diretor, citando dados divulgados nesta quarta-feira (27/02) e são referentes ao transporte de contêineres, que representam 75% a 80% das trocas comerciais globais.

 


Conforme esse relatório da Maersk, as exportações de proteína animal continuam a ser um ponto sensível para as exportações brasileiras, após uma série de proibições em 2017 em carne bovina e aves locais em toda a Europa e Rússia, que continuam a ter um impacto sobre os resultados, que apresentaram queda no quarto trimestre de 2018. O primeiro trimestre de 2018 foi muito bom, estimulado com o aumento das importações por conta da Copa do Mundo, mas, com a greve dos caminhoneiros, o comércio encolheu no segundo trimestre e afetou o comércio externo. Agora, temos um desempenho pior no início do ano porque a base do ano passado foi muito elevada e, no trimestre seguinte, a tendência é ser um pouco melhor porque a base estava menor”, explicou Matias Concha, gerente de produto para Costa Leste da América do Sul. Segundo ele, enquanto as importações neste ano devem ter um desempenho estável em relação ao ano passado, sem crescimento, as exportações só devem crescer algo entre 1% e 3%. “A linha base para as importações do segundo semestre deste ano é muito baixa, e isso ajudará os números a ficarem consideravelmente melhores em 2019”, acrescentou.



Gustavo Paschoa, diretor comercial da companhia, reforçou que os investidores internacionais também estão em compasso de espera. “O governo mandou a reforma da Previdência que todo mundo estava esperando, mas agora ainda há dúvidas de como será o desenvolvimento da proposta no Congresso. Todos estão de olho no Brasil aguardando uma clareza maior nas regras”, destacou. Segundo ele, como há restrições de espaço em navios e equipamentos, não é possível fazer projeções mais precisas. Denis Freitas, diretor geral da Safmarine para a Costa Leste da América do Sul, reforçou esse prognóstico de Paschoa. “A falta de uma previsibilidade de como a proposta de reforma da Previdência vai ser mudada no Congresso, nos coloca em compasso de cautela para 2019, mas estamos mais otimistas em relação a 2020, porque acreditamos que haverá um ajuste neste ano”, disse.