Correio Econômico: O que está ruim pode ficar pior depois das eleições

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Nem tudo será notícia ruim para o próximo presidente da República — isso, é claro, se ele não fizer nenhuma estripulia na economia. Todas as projeções apontam para inflação sob controle, com juros de um dígito. Em nenhuma das eleições recentes se viu quadro semelhante. Pelas estimativas colhidas pelo Banco Central com os mais respeitados analistas de mercado, o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) ficará na casa dos 4% ao ano até 2021. Com isso, a taxa básica de juros (Selic) encerrará este ano em 6,50%, subindo para 8% em 2019 e se estabilizando nesse patamar nos próximos anos.

 

Num país com as complexidades do Brasil, mesmo um cenário tão favorável para inflação e juros não é motivo de otimismo. O histórico recente mostra que um presidente voluntarioso, que acredita ter as respostas para todos os males, pode pôr tudo a perder. Dilma Rousseff, logo depois de tomar posse, simplesmente desmontou todo o arcabouço econômico que permitiu a seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, fazer o mais amplo programa social do país. Ela acreditou que um pouco mais de inflação resultaria em crescimento maior da economia, não se furtou em destruir as contas públicas e cismou em controlar o câmbio. Esses movimentos equivocados foram batizados de nova matriz econômica.

 

O resultado das decisões de Dilma todo mundo sabe: uma das recessões mais severas da história e mais de 13 milhões de desempregados. É justamente o risco de esses erros se repetirem que tem deixado os agentes econômicos em estado de alerta. A manutenção da estabilidade dos preços e dos juros é fundamental para que o país possa enfrentar seus graves problemas. O baixo crescimento econômico fez crescer novamente as desigualdades entre ricos e pobres, incentivando a violência. Os consecutivos rombos nas finanças federais travaram os investimentos em saúde, educação, segurança e infraestrutura. Temos um Estado paralisado pela burocracia, pela ineficiência e pela corrupção.

 

Peso das corporações

 

A expectativa é de que, com a campanha nas ruas, fique mais claro para os eleitores quem são e o que realmente pensam os candidatos à Presidência da República. Hoje, a maioria deles é uma incógnita. Os discursos são vazios e descompromissados de projetos que realmente tirem o Brasil do atoleiro. Por isso, o grande número de cidadãos indecisos. Muitos se perguntam em quem votar em outubro, mas não têm uma resposta clara, satisfatória. Essa falta de compromisso dos postulantes ao Planalto com a verdade só alimenta a desconfiança que paralisa o país.

 

Pelo que se viu até agora, mesmo os candidatos apoiados pelo mercado ainda não tiveram a coragem de tocar em temas considerados tabus, como a reforma da Previdência, mais do que necessária para controlar as despesas do governo e para permitir a volta dos investimentos em obras que vão pavimentar o crescimento. Nenhum deles também se comprometeu em enfrentar as corporações, especialmente a do funcionalismo público, que acreditam que o Tesouro Nacional é um saco sem fundo para bancar privilégios. Sem o enfrentamento dessas questões, os debates durante a campanha serão vazios, ficarão na periferia dos problemas que tanto afligem o país. Todos perderão.

 

Brasília, 06h05min