Correio Econômico: Juros e inflação

Publicado em Economia

ANTONIO TEMÓTEO

A surpresa do mercado com o resultado do Índice de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) de novembro, que aumentou 0,32%, dará ainda mais munição para que o Banco Central (BC) leve a taxa básica de juros para abaixo de 7% ao ano. A mediana das expectativas dos analistas era de que a prévia da inflação teria variação de até 0,38%. As surpresas vieram da deflação de alimentos e de artigos de residência. Os custos com serviços, que continuam baixos, também favoreceram o resultado.

 

Pelo sexto mês consecutivo, o preço dos alimentos caiu, fato que contraria a história. Os dados mostram que, no primeiro e no quatro trimestres do ano, os custos desses itens costumam a ser pressionados, mas isso não tem ocorrido. Nos últimos 12 meses encerrados em novembro, o item alimentação e bebidas registrou queda de 2,31%, fator que levou bancos e corretoras a revisarem projeções para o resultado do IPCA de 2017. O Itaú Unibanco, por exemplo, reduziu a estimativa para inflação de 3,3% para 3,1%, conforme o economista Elson Teles.

 

O maior banco privado do país esperava uma alta de 0,37% do IPCA-15 de novembro. Teles ressaltou que a principal contribuição de alta no mês veio do grupo habitação, refletindo pressões nos preços da energia elétrica e do gás de cozinha. “Por outro lado, os grupos alimentação e artigos de residência registraram taxas negativas. O maior desvio em relação à nossa estimativa veio dos serviços”, destacou.

 

Com base nos dados do IPCA-15,Teles estimou que a inflação de novembro será de 0,38%, com a taxa em 12 meses subindo para 2,9%. “Assim como no IPCA-15, a principal contribuição de alta no mês virá dos preços administrados, ainda refletindo aumentos de energia elétrica, gasolina e gás de cozinha. Para o grupo alimentação, estimamos mais um mês com taxa negativa, que será a sétima consecutiva”, disse.

 

O debate sobre o tamanho do ciclo de cortes de juros, entretanto, dependerá do avanço da reforma da Previdência. Caso o texto receba o aval dos parlamentares, as chances de os juros caírem abaixo de 7% aumentam significativamente. Se a proposta for barrada pelo Congresso, a tendência é de maior volatilidade e a Selic tende a subir. A estratégia do governo para que as mudanças nas regras para concessão de benefícios previdenciários seja aprovada por deputados e senadores tem com ponto principal o discurso de que os privilégios serão extintos.

 

Esforços

 

O presidente Michel Temer dedicará todos os esforços para convencer 308 deputados de que as medidas são necessárias. Para isso ganhou reforço de peso dos economistas Marcos Lisboa, José Márcio Camargo e Paulo Tafner, que participaram do jantar oferecido pelo chefe do Executivo aos parlamentes, na quarta-feira. Todos concordam. Sem reforma, voltaremos a conviver com hiperinflação, juros exorbitantes e o país voltará para o buraco.

 

O ambiente internacional ainda favorável ao país tem dado tranquilidade para que a equipe econômica e os coordenadores políticos do governo façam o trabalho de convencimento da base aliada. Entretanto, é preciso que fique claro para os parlamentares que corremos o risco de alçar mais um voo de galinha caso a reforma da Previdência não seja aprovada.

 

A sustentabilidade da equipe de Ilan Goldfajn, de ancorar as expectativas de inflação e reduzir os juros, depende do trabalho do Congresso. Tudo que o presidente do BC e o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, poderiam fazer para recuperar a economia foi feito. Deputados e senadores precisam entender que crescimento sustentável é incompatível com o rombo nas contas públicas. Mesmo os contrários à reforma sabem que, sem ela, não será possível governar o país a partir de 2019.

 

Enquanto a reforma não é debatida em plenário, o risco-país, medido pelos Credit Default Swaps (CDS), fechou ontem em 172 pontos, um a menos do que no dia anterior. Mas a tranquilidade no setor externo pode mudar em pouco tempo. Por isso, é necessário que o Congresso deixe claro que está comprometido com a recuperação do país, a retomada do crescimento e a geração de empregos. Sem reforma, isso não será possível.

 

Brasília, 06h06min