CEB1 Foto: Ed Alves/CB/D.A Press

Com privatização à vista, ações da CEB sobem até 180% em um ano

Publicado em Economia

A promessa do Governo do Distrito Federal (GDF) de privatizar o sistema de distribuição de eletricidade da Companhia Energética de Brasília (CEB) fez os preços das ações da empresa dispararem na Bolsa de Valores de São Paulo (B3). No acumulado de um ano, os papéis apontam valorização de até 180% ante alta de apenas 16,8% do Ibovespa, o principal índice de lucratividade do pregão paulista.

 

Em janeiro deste ano, as ações da CEB, holding que controla um grupo de empresas de geração e distribuição de energia, registraram ganhos superiores a 34%. Em igual período, o Ibovespa caiu 1,6%. Para se ter uma ideia do que isso representa, caso a companhia fosse vendida hoje pelo valor de mercado, o GDF arrecadaria R$ 1 bilhão. Em janeiro de 2018, a totalidade das ações da empresa valia R$ 577 milhões. Ou seja, quase dobrou.

 

O capital da CEB é composto por ações ordinárias (ON), que dão direito a votos e estão, na sua maioria, nas mãos do GDF, e por preferenciais (PN), que garantem a seus detentores preferência no recebimento dos lucros distribuídos pela companhia. Mas que fique claro: não é a CEB cotada em Bolsa que o Governo do Distrito Federal quer vender. A meta é entregar um de seus braços, a CEB Distribuição, ao setor privado.

 

“Se todo o cronograma for seguido à risca, o sistema de distribuição será privatizado até abril deste ano”, diz o presidente do grupo CEB, Edison Garcia. É apostando nesse calendário que os investidores passaram a incluir as ações da holding em seus portfólios. Os papéis ordinários acumularam alta de 34,2% em janeiro e de 161% nos últimos 12 meses. As ações preferências, divididas em duas categorias, subiram, respectivamente, 25,8% e 180% e 33,2% e 138,2%.

 

Apetite

 

Os números chamam a atenção dos especialistas. Para eles, ainda não se pode atribuir o excelente desempenho dos papéis da CEB na Bolsa a um apetite voraz dos investidores pela empresa. Por uma razão simples: o volume de negócios com as ações é muito baixo. Ou seja, qualquer movimento atípico faz com que os preços subam muito ou caiam rapidamente. “Por enquanto, vejo um movimento especulativo com os papéis”, ressalta Pedro Galdi, analista sênior da Mirae Asset.

 

Apesar das ressalvas, Pablo Spyer, também da Mirae, afirma que o setor de energia tende a apresentar bons resultados com a recuperação da economia. “Mantido o atual ritmo de recuperação da atividade, as fábricas vão religar as máquinas para produzir mais. Isso significará mais consumo de energia e maior faturamento para as empresas do setor. Os investidores costumam se antecipar a tal movimento”, explica. “Além disso, no caso da CEB, há a perspectiva de privatização da área de distribuição.”

 

Representante dos acionistas minoritários da CEB, François Moureau vê um misto de especulação e de interesse efeito dos investidores pela empresa. Sempre crítico às gestões da companhia, ele assinala que, de um ano para cá, houve mudanças importantes na empresa controlada pelo Governo do Distrito Federal. “A gestão atual passou a dar maior transparência aos números da CEB. As atas do Conselho de Administração refletem, com clareza, a situação da empresa. Outro ponto importante: o Comitê de Auditoria é formado por pessoas capacitadas”, acrescenta.

 

Moureau chama ainda a atenção para o balanço da CEB do terceiro trimestre de 2019, o último disponível. No período, a empresa registrou lucro operacional de R$ 99 milhões. Entre julho e setembro do ano anterior, houve prejuízo de R$ 33 milhões. “Essa virada tem a ver com a melhora da governança”, destaca. Para ele, no entanto, é importante que a holding se desfaça da CEB Distribuição, fonte de perdas constantes.

 

“A empresa de distribuição precisa ser capitalizada urgentemente para se modernizar e retomar os investimentos. Estamos falando de uma necessidade de caixa entre R$ 500 milhões e R$ 700 milhões. O Governo do Distrito Federal não tem esses recursos. Então, o jeito é transferir a operação para a iniciativa privada, que tornará a CEB Distribuição mais eficiente”, frisa Moureau. Ganharão, segundo ele, o governo, que terá um reforço no caixa para investir em setores prioritários, e os consumidores, que terão serviços de melhor qualidade.

 

Eficiência

 

Demétrius Lucindo, analista de mercado, vê com bons olhos a privatização da CEB Distribuição. Mas ainda não acredita em uma disputa grande pela empresa, a despeito da valorização das ações da holding na Bolsa. “Tudo vai depender do preço que for fixado para a venda do controle da companhia. Não se pode esquecer que a distribuidora de energia do Distrito Federal tem um passivo grande, superior a R$ 1 bilhão, e precisa de investimentos pesados para se modernizar”, afirma. O índice de perdas da empresa é superior a 12%.

 

A maior eficiência da CEB Distribuição, por sinal, é uma exigência da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que regula e fiscaliza o setor. O órgão deu um prazo para que a empresa cumpra um plano de reestruturação ou o GDF perderá a concessão. Esse plano passa pelo reforço de capital de pelo menos R$ 500 milhões. Não por acaso, a pressa do governo distrital em transferir o sistema de distribuição para a iniciativa privada. O objetivo é que o GDF fique com 49% da CEB Distribuição.

 

Edison Garcia, presidente do grupo CEB, diz que o modelo de venda ainda não está definido. Mas o prazo de abril para o leilão é factível. “Estamos confiantes”, diz. Estima-se que todos os ativos da CEB Distribuição valham cerca de R$ 900 milhões, contudo, para modernizar a rede de atendimento aos consumidores são necessários pelo menos R$ 1 bilhão. “A privatização permitirá a empresa limpar seu passivo e começar a investir”, complementa.

 

Pablo Spyer, da Mirae, lembra que, por ser sede de todos os Poderes, o Distrito Federal precisa de uma rede de distribuição de energia muito eficiente. Quer dizer: os investimentos em modernização de sistemas devem ser constantes. E mais: Brasília vem se tornando um dos mais importantes polos de tecnologia do país. Sem um fornecimento de energia muito bem estruturado, ficará complicado para esse setor se desenvolver. “Tudo isso será levado em consideração pelos investidores na hora de decidir se participarão ou não da privatização da empresa”, afirma.

 

Atualmente, a CEB Distribuição atende pouco mais de 1,1 milhão de consumidores no Distrito Federal. Com a privatização e a maior capacidade de investimentos, Edison Garcia acredita que esse público pode ser ampliado. François Moureau acrescenta que não há outra saída para a sobrevivência da empresa a não ser a privatização. “É o pragmatismo que está guiando o GDF”, frisa.

 

PARA SABER MAIS

 

A Companhia Energética de Brasília (CEB), que controla o grupo CEB, é a holding oriunda da antiga Companhia de Eletricidade de Brasília. O grupo opera com geração e distribuição de energia no Distrito Federal e regiões próximas.
A holding controla integralmente a CEB Distribuição, a CEB Geração e a CEB Participação. Detém ainda o controle da CEB Lajeado, da Energética Corumbá e da Corumbá Concessões. Na estrutura da holding há, também, as coligadas CEB Gás e BSB Energia.
Os braços da CEB vão além. Por intermédio de suas controladas, produz energia nas Usinas do Paranoá, na Termelétrica de Brasília, na Usina de Queimado e na hidrelétrica Luís Eduardo Magalhães, em Tocantins, além de Corumbá III e IV.
Segundo o mais recente balanço da empresa, o Governo do Distrito Federal é dono de 93,21 % das ações com direito a voto (ordinárias) e de 80,20% do total do capital. Entre os acionistas minoritários estão o fundo de investimento Mistyque, administrado pela Vinci Equities.
A Eletrobras, holding do setor elétrico público brasileiro, que também deve ser privatiza, é dona de pouco mais de 4 % das ações preferenciais. Pouco mais de 1 mil investidores pessoas físicas têm ações da CEB em carteira.

 

Brasília, 23h59min